Cheiro, atitude, carência: por que sentimos atração por certas pessoas?
Em "Titanic", Rose trocou seu rico noivo pelo pobre Jack, enquanto em "Shrek", a princesa Fiona preferiu o ogro ao príncipe encantado. Os exemplos são ficção, mas em se tratando de atração, tudo é possível e são vários os fatores que fazem alguém se interessar pelo outro.
O que a pessoa faz no dia a dia, sua aparência, seus gestos, seu modo de se vestir, seus comportamentos, podendo ser algo focado (atração por um sorriso, olhar) ou ampliado (atração pelo conjunto). Quando algo desperta muito a atenção, provoca excitação e uma tendência para aproximação.
Porém, não se trata de mero acaso, coincidência ou, como alguns preferem, "destino". Pode até ser que a pessoa esteja no lugar certo e na hora certa, mas o encantamento por ela geralmente advém de padrões de experiências de vida, referências inconscientes relacionadas a pessoas das quais gostamos muito, e que marcaram nossa memória e infância.
Primeira impressão e química
A partir do que se capta no outro, o cérebro cruza informações antigas com novas, coletadas pelos sentidos, criando uma primeira impressão que, se despertar emoções e sentimentos positivos, pode gerar interesse. Portanto, a atração pode ser fruto de um achismo, uma leitura superficial, e ainda é influenciada por processos químicos.
"O cérebro vive em busca de sensações de recompensa", afirma Eduardo Perin, psiquiatra especializado pelo InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade). Assim, curiosidade, encanto e euforia por alguém que nos agrada, além de encontros e conversas com essa pessoa, por exemplo, são assimilados como meios para se obter essa sensação várias vezes, pois produzem prazer.
Com isso, são liberados dopamina e serotonina, neurotransmissores relacionados à ideia de felicidade e motivadores da atração. "No entanto, acabamos deixando de lado a racionalidade, por ela diferir das escolhas emocionais do cérebro, ocorre uma desconexão", explica o médico.
Tem mais. Para além do que se vê, ouve e sente da interação com o outro, o olfato desempenha um papel importante. Sem o sujeito perceber, ou querer, ele registra sinais químicos naturais exalados pelo outro, os chamados feromônios, substâncias mensageiras produzidas pelo corpo com o intuito de atrair parceiros potencialmente sexuais.
O outro como espelho ou meta
Se você se empatiza fácil e não é muito seletivo, a chance de se sentir emocionalmente atraído por um número maior de pessoas é esperada, principalmente se as ideias, gestos e palavras dessas pessoas lhe fizerem bem e levantarem seu humor e sua autoestima. Além disso, todos temos tendência em nos atrairmos por quem nos trata com gentileza, respeito, exclusividade.
Por isso, nem sempre a atração coincide com o padrão de beleza vigente, explica Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS. "Há quem prefira as qualidades, o charme, o bom humor, ou até considere alguém bonito, mas não interiormente, por isso não sente atração em querer se relacionar."
Quando o outro é semelhante a nós em atitudes, hábitos, interesses e valores, há a chance de a atração despertar, mas não é uma certeza. Também é comum haver um interesse maior por pessoas que representem algo que gostaríamos de ser, ou possuir. Por exemplo, Rose viu que Jack era livre e levava uma vida simples e destemida, bem diferente de sua realidade.
As características que gostaríamos de melhorar em nós e que podem ser perceptíveis no outro funcionam como imãs. Somado a isso, pode haver interesse imediato se o indivíduo com todos esses atributos que nos interessam sinalizar estar disponível, ou manifestar seu interesse ou desejo por nós. Dessa forma, pode-se despertar a atração e depois uma paixão avassaladora.
Quando atração requer cuidado?
Não há problema nenhum em se sentir atraído por alguém, na maioria das vezes. Entretanto, quando a atração cursa com excessos: ansiedade, expectativas, pensamentos sobre o outro, a ponto de se perder compromissos e deixar os próprios afazeres de lado, é sinal de que alguns limites saudáveis estão sendo extrapolados e vale procurar por profissionais de saúde mental.
Se a pessoa não aprende a frear os próprios impulsos, tende a esperar por recompensas o tempo todo, cria uma imagem romantizada do outro, fica vulnerável a chantagens emocionais e compulsões, sobretudo se teve poucos relacionamentos saudáveis. "Não mais correspondida, pode se sentir instável, rejeitada, confusa, com raiva, podendo agravar a presença de eventuais transtornos", informa Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador.
No filme "Atração Fatal", dos anos 1980, a personagem de Glenn Close, fora de controle, tentou se suicidar e infligir o homem alvo de seu desejo a uma série de sofrimentos. Ao que indica, ela sofria do transtorno de personalidade borderline, cujos sintomas incluem baixa autoestima, extrema intensidade, dependência afetiva, oscilações bruscas de humor. Mas mesmo casos assim são tratáveis, com a associação de medicamentos e psicoterapia para se conquistar uma boa qualidade de vida.
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