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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Como tornar mudança de escola menos traumática?

Giovanna com os pais, Diana e João Imagem: Arquivo pessoal

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

18/08/2023 04h00

No começo deste ano, perto de seu aniversário de 5 anos, Giovanna, filha de Diana Marques, 35, de Salvador, mudou de escola. Ela havia ficado um ano e meio na escola anterior. "A primeira reação de Giovanna ao saber da troca foi um tanto negativa. Ela dizia que amava muito o colégio, suas amiguinhas e que não queria nunca sair de lá", conta Diana.

Outra mãe, também baiana, Taise Santos, 41, descreve ter passado por situação similar com sua filha, Nina, também de 5 anos. "Informamos a ela que mudaria de escola neste ano e que iria para a do irmão, Theo, três anos mais velho. Ela passou dois anos na escola anterior, então nessa nova demorou para se adaptar, chorava quando nós a deixávamos", explica Taise.

Casos como esses são bastante comuns, informam especialistas em comportamento e saúde mental. Segundo eles, assim como acontece com os adultos, as crianças também enfrentam dificuldades emocionais diante de mudanças, mesmo sendo para melhor. A diferença é que elas estão muito mais sujeitas a traumas, por estarem em desenvolvimento cognitivo e principalmente se as etapas de vida não forem bem orientadas.

É preciso contato, diálogo e apoio

Segundo Wimer Bottura, especialista em psiquiatria infantil pelo IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP), para que uma mudança de escola não tenha efeitos negativos para a criança, é necessário que os pais não rompam abruptamente com seus bons vínculos de amizade e se atentem à maneira como vão repassar a ela as informações.

"Quando a criança já tem entendimento, é preciso uma conversa clara sobre os motivos de se fazê-la mudar de escola, dando oportunidade para que se expresse. Agora, na infância mais precoce, quando ainda não se tem compreensão para grandes explicações, a atitude protetora e calorosa da família é o mais indicado para minimizar traumas", esclarece o médico, complementando que trocas frequentes de escola também não costumam ser aconselhadas.

Taise com os filhos, Theo e Nina Imagem: Arquivo pessoal

Diana conta que ela e o marido começaram a conversar com Giovanna no segundo semestre do ano anterior, após terem certeza de que seria necessária a mudança de instituição: "No dia a dia íamos introduzindo o tema de forma bem leve, descontraída, e quando ela apresentava alguma resistência, não insistíamos, preferíamos retornar o assunto em outro momento", diz.

Da parte de Taise, ela explica que para Nina não sofrer com a falta da antiga turma, aproveitou que uma de suas coleguinhas é vizinha de prédio para continuar mantendo as duas em contato.

Escola nova deve fazer sentido

Para que crianças se adaptem com maior facilidade, Gabriela Luxo, psicopedagoga, mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), aponta que a escola para a qual estão indo requer estar alinhada à sua realidade, em perfil, metodologia de ensino, estilo de regras e limites, linha de raciocínio dos pais e até tamanho.

"Os adultos devem se atentar a tudo, pois imagine, por exemplo, uma criança de um a três anos sair de uma escola pequena, de bairro, e com estilo mais informal, de creche, berçário, e de repente ir para uma escola enorme, tradicional, que contemple do ensino fundamental ao médio. Ela pode ter uma dificuldade maior na transição escolar", acrescenta a psicopedagoga.

Outro conselho seu para os pais é que durante o processo de escolha de uma nova escola levem junto seus filhos, para que se reconheçam —ou não— naquele ambiente e possam os guiar na decisão.

"Pergunte à criança se gostou, reforce para ela os pontos positivos da escola e não demonstre em sua frente insatisfações e dúvidas, pois elas percebem", diz Luxo, esclarecendo que não tem a ver com mimar, mas proporcionar aos filhos identificação, segurança e amor.

"Por isso, escolhi um ambiente para a Nina que fosse familiar. Ela percebia a alegria do irmão em estudar lá e como todos os dias me acompanhava na hora de ir buscá-lo, passou a conhecer seus futuros professores, coordenadores e outros alunos", explica Taise.

Com Giovanna, a estratégia de Diana era passar com a filha todos os dias de carro em frente à futura escola, que é próxima de sua casa. "Nós comentávamos que ela iria gostar muito de estudar e brincar ali, fazer novos amigos, e assim o assunto foi entrando no imaginário dela, que até mesmo antes de se mudar de escola começou a contar a novidade para os colegas."

Sinais para os pais se atentarem

Como crianças pequenas ainda não têm maturidade suficiente para verbalizar seus sentimentos e o que pensam sobre suas vivências, os adultos devem suspeitar de suas menores mudanças de comportamento. Mas isso também vale para as crianças mais velhas e adolescentes, pois embora mais desenvolvidos, geralmente não gostam de contar sobre seus problemas pessoais.

É preciso identificar o que está por trás quando há falta de vontade de querer estudar, de apetite, apatia, isolamento, recorrência de notas baixas, brigas constantes com os colegas, e se tem a ver com a escola ou não, diz Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador.

"Nesses casos, é preciso sinalizar os educadores, para que também observem e, a partir daí, buscar soluções. Uma avaliação com profissional de saúde mental pode evitar, eventualmente, o agravamento de problemas, como ansiedade, depressão, fobias", acrescenta a psicóloga.

Agora, são bons indicativos quando a criança mantém sua disposição, seu padrão de equilíbrio, rendimento e linguagem tanto em casa como na escola, pois demonstra que está adaptada.

"Se no início do ano Nina falava da escola anterior, hoje não mais", afirma Taise, em acordo com Diana: "Giovanna está há seis meses na nova escola e ama. Da anterior apenas se lembra com carinho. Temos a impressão de que ela compreendeu bem a mudança de ciclo", diz.

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