Como tornar mudança de escola menos traumática?

No começo deste ano, perto de seu aniversário de 5 anos, Giovanna, filha de Diana Marques, 35, de Salvador, mudou de escola. Ela havia ficado um ano e meio na escola anterior. "A primeira reação de Giovanna ao saber da troca foi um tanto negativa. Ela dizia que amava muito o colégio, suas amiguinhas e que não queria nunca sair de lá", conta Diana.

Outra mãe, também baiana, Taise Santos, 41, descreve ter passado por situação similar com sua filha, Nina, também de 5 anos. "Informamos a ela que mudaria de escola neste ano e que iria para a do irmão, Theo, três anos mais velho. Ela passou dois anos na escola anterior, então nessa nova demorou para se adaptar, chorava quando nós a deixávamos", explica Taise.

Casos como esses são bastante comuns, informam especialistas em comportamento e saúde mental. Segundo eles, assim como acontece com os adultos, as crianças também enfrentam dificuldades emocionais diante de mudanças, mesmo sendo para melhor. A diferença é que elas estão muito mais sujeitas a traumas, por estarem em desenvolvimento cognitivo e principalmente se as etapas de vida não forem bem orientadas.

É preciso contato, diálogo e apoio

Segundo Wimer Bottura, especialista em psiquiatria infantil pelo IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP), para que uma mudança de escola não tenha efeitos negativos para a criança, é necessário que os pais não rompam abruptamente com seus bons vínculos de amizade e se atentem à maneira como vão repassar a ela as informações.

"Quando a criança já tem entendimento, é preciso uma conversa clara sobre os motivos de se fazê-la mudar de escola, dando oportunidade para que se expresse. Agora, na infância mais precoce, quando ainda não se tem compreensão para grandes explicações, a atitude protetora e calorosa da família é o mais indicado para minimizar traumas", esclarece o médico, complementando que trocas frequentes de escola também não costumam ser aconselhadas.

Taise com os filhos, Theo e Nina
Taise com os filhos, Theo e Nina Imagem: Arquivo pessoal

Diana conta que ela e o marido começaram a conversar com Giovanna no segundo semestre do ano anterior, após terem certeza de que seria necessária a mudança de instituição: "No dia a dia íamos introduzindo o tema de forma bem leve, descontraída, e quando ela apresentava alguma resistência, não insistíamos, preferíamos retornar o assunto em outro momento", diz.

Da parte de Taise, ela explica que para Nina não sofrer com a falta da antiga turma, aproveitou que uma de suas coleguinhas é vizinha de prédio para continuar mantendo as duas em contato.

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Escola nova deve fazer sentido

Para que crianças se adaptem com maior facilidade, Gabriela Luxo, psicopedagoga, mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), aponta que a escola para a qual estão indo requer estar alinhada à sua realidade, em perfil, metodologia de ensino, estilo de regras e limites, linha de raciocínio dos pais e até tamanho.

"Os adultos devem se atentar a tudo, pois imagine, por exemplo, uma criança de um a três anos sair de uma escola pequena, de bairro, e com estilo mais informal, de creche, berçário, e de repente ir para uma escola enorme, tradicional, que contemple do ensino fundamental ao médio. Ela pode ter uma dificuldade maior na transição escolar", acrescenta a psicopedagoga.

Outro conselho seu para os pais é que durante o processo de escolha de uma nova escola levem junto seus filhos, para que se reconheçam —ou não— naquele ambiente e possam os guiar na decisão.

"Pergunte à criança se gostou, reforce para ela os pontos positivos da escola e não demonstre em sua frente insatisfações e dúvidas, pois elas percebem", diz Luxo, esclarecendo que não tem a ver com mimar, mas proporcionar aos filhos identificação, segurança e amor.

"Por isso, escolhi um ambiente para a Nina que fosse familiar. Ela percebia a alegria do irmão em estudar lá e como todos os dias me acompanhava na hora de ir buscá-lo, passou a conhecer seus futuros professores, coordenadores e outros alunos", explica Taise.

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Com Giovanna, a estratégia de Diana era passar com a filha todos os dias de carro em frente à futura escola, que é próxima de sua casa. "Nós comentávamos que ela iria gostar muito de estudar e brincar ali, fazer novos amigos, e assim o assunto foi entrando no imaginário dela, que até mesmo antes de se mudar de escola começou a contar a novidade para os colegas."

Sinais para os pais se atentarem

Como crianças pequenas ainda não têm maturidade suficiente para verbalizar seus sentimentos e o que pensam sobre suas vivências, os adultos devem suspeitar de suas menores mudanças de comportamento. Mas isso também vale para as crianças mais velhas e adolescentes, pois embora mais desenvolvidos, geralmente não gostam de contar sobre seus problemas pessoais.

É preciso identificar o que está por trás quando há falta de vontade de querer estudar, de apetite, apatia, isolamento, recorrência de notas baixas, brigas constantes com os colegas, e se tem a ver com a escola ou não, diz Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador.

"Nesses casos, é preciso sinalizar os educadores, para que também observem e, a partir daí, buscar soluções. Uma avaliação com profissional de saúde mental pode evitar, eventualmente, o agravamento de problemas, como ansiedade, depressão, fobias", acrescenta a psicóloga.

Agora, são bons indicativos quando a criança mantém sua disposição, seu padrão de equilíbrio, rendimento e linguagem tanto em casa como na escola, pois demonstra que está adaptada.

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"Se no início do ano Nina falava da escola anterior, hoje não mais", afirma Taise, em acordo com Diana: "Giovanna está há seis meses na nova escola e ama. Da anterior apenas se lembra com carinho. Temos a impressão de que ela compreendeu bem a mudança de ciclo", diz.

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