Asfixia perinatal: 'Meu bebê nasceu 'semi-morto' e tiveram que reanimá-lo'

A enfermeira Maria Jocelina de Azevedo esperava feliz pelo seu sétimo filho. Durante a gravidez e pré-natal, não houve nenhum tipo de complicação. No entanto, ao chegar na maternidade, o bebê não estava bem encaixado e começou a apresentar problemas dentro da barriga.

José Francisco estava em sofrimento fetal agudo e os médicos precisaram realizar uma cesárea emergencial. Seu filho, que hoje tem cinco anos, ficou mais de 40 dias na UTI e apresentou complicações, como crises convulsivas nas primeiras 24 horas de vida. Abaixo, sua mãe relembra e conta a história de seu nascimento e evolução ao longo desses cinco anos.

"Tive uma gestação normal: meu bebê era saudável e sem nenhuma intercorrência. O único diagnóstico era um excesso de líquido na bolsa. Eu já tinha tido dez gestações e aquele era o meu sétimo filho.

Quando fui para o parto, já estava com 39 semanas e fui encaminhada pela obstetra para fazer exames, pois ela me examinou e viu que estava com seis dedos de dilatação.

Depois de um certo tempo, o bebê não encaixava e eu estava com dor. Era como se ele estivesse 'flutuando' dentro de mim. Queriam romper minha bolsa, mas minha obstetra tinha recomendado a não fazer isso.

Eu já estava há muitas horas em trabalho de parto e meu bebê não encaixava de jeito nenhum. As duas obstetras que estavam lá romperam minha bolsa e aí meu filho encaixou.

O problema é que a cabeça ficou no colo do útero e o pé esquerdo junto, fazendo com que ele ficasse laterizado. Quando aconteceu isso, as médicas não perceberam, ninguém percebeu. Eu não aguentava mais de dor.

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Imagem: Arquivo pessoal

José ficou umas duas horas com a cabeça sendo forçada com o pé. Foi aí que me mandaram para a cesárea de emergência. Quando fui para a sala, toda a equipe de neonatologia estava lá.

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Na hora do parto, ele nasceu 'semi-morto', desfalecido e, na mesma hora, na sala de parto mesmo, já o reanimaram.

Quando meu filho tinha encaixado a cabeça e o pé, foi constatado que ele sofreu asfixia perinatal. O pé dele nasceu enorme, inchado, foi horrível.

Logo depois de ser reanimado, José Franscisco foi levado direto para a UTI. Enquanto estava sendo monitorado, teve uma convulsão como reação do problema da falta de oxigênio no parto.

Como o médico percebeu e viu o momento que ele convulsionou, chamou a mim e ao meu marido e disse que precisariam resfriar o corpo dele, que isso ajudaria na recuperação. Ele fez uso da hipotermia terapêutica e também medicamentos.

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Imagem: Arquivo pessoal

O convênio não cobria e seria custoso, mas ajudaria no tratamento. Depois de 24 horas de resfriamento, a temperatura volta ao normal. O médico falou para não desanimarmos e seguirmos acompanhando nosso filho.

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Foram 46 dias de internação na UTI neonatal. A recuperação dele foi devagar e o estresse foi bem grande.

No meio do caminho, ele ainda teve uma infecção hospitalar, o que prolongou a estadia.

Recuperação excelente

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Imagem: Arquivo pessoal

Enquanto meu bebê estava no hospital, o neurologista o acompanhava e depois começou um acompanhamento com o pediatra.

Ele fazia exercícios para colocá-lo sentado, com postura e outros. José fez fisioterapia até perto de um ano de idade.

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Ele evoluiu muito bem, já que o prognóstico dele não era nada bom. Os médicos falavam que ele teria um pouco de dificuldade na idade escolar, mas já está alfabetizado, fala super bem e começou a falar com sete meses.

Ele estuda em casa e ainda não vai para escola, mas superou o prognóstico dos médicos e é um menino exemplar."

Sofrimento fetal e asfixia perinatal

O sofrimento fetal agudo e a asfixia perinatal são causados por alterações de oxigenação ou de fluxo sanguíneo para o bebê ainda dentro da barriga ou em momentos muito próximos ao parto.

Acometimentos maternos, como rompimento do útero, descolamento prematuro de placenta e alterações no cordão umbilical são fatores que levam ao sofrimento fetal agudo e frequentes causadores da asfixia perinatal.

Outras alterações durante a gestação, como hipertensão gestacional não controlada, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional ou infecções podem ser fatores de risco para a condição.

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O bebê com asfixia perinatal tem alto risco de morrer, sendo a terceira principal causa de morte neonatal no mundo, além de altíssimo risco de lesões neurológicas permanentes, que podem ser paralisia cerebral, cegueira e surdez.

Estudos epidemiológicos estimam que a incidência de bebês com asfixia perinatal com acometimento neurológico no mundo é de 1,15 milhão de bebês por ano.

No Brasil, estima-se que de 15 a 30 mil bebês por ano sofram com asfixia com acometimento neurológico, chegando a aproximadamente de 2 a 3 crianças por hora.

Tecnologia como aliada

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Imagem: Arquivo pessoal

A recuperação e evolução de José Francisco foi possível graças à?UTI Neonatal Neurológica Digital, que é um sistema de saúde que faz uso de tecnologia e inteligência para prevenção de sequelas neurológicas em bebês de alto risco.

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Por meio de um ecossistema dotado de módulos de monitoramento neurológico remoto 24 por 7, os médicos conseguem identificar precocemente disfunções cerebrais, como mínimas alterações na oxigenação cerebral em recém-nascidos.

Em bebês, eventos neurológicos leves ou graves muitas vezes não são perceptíveis clinicamente e só podem ser diagnosticados com um monitoramento permanente de um amplo conjunto de aspectos e com a interpretação correta dos sinais.

Também durante a internação de José na UTI foi usado a hipotermia terapêutica, que consiste no resfriamento do corpo para 33,5°C do bebê com asfixia perinatal. Para que seja eficaz, o tratamento deve começar idealmente até seis horas de vida e permanecer por 72 horas completas.

Na prática, o mecanismo de ação da hipotermia consiste em reduzir o processo inflamatório no cérebro causado pela falta de oxigenação. O reaquecimento é realizado de forma lenta e gradual.

Fonte: Gabriel Variane, CEO e fundador da PBSF (Protegendo Cérebros e Salvando Futuros), médico pela pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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