Anvisa proíbe melatonina para crianças; o que o hormônio pode causar?

A Anvisa proibiu a fabricação, venda, distribuição, propaganda e o uso do suplemento alimentar Soninho Perfeito Melatonina Kids, da empresa Oemed.

O órgão não autorizou o uso da melatonina em suplementos destinados a crianças e adolescentes. Por isso, também foi determinado o recolhimento de todos os produtos desse tipo do mercado.

De acordo com a Anvisa, "não há segurança de uso comprovada junto à Agência para essas faixas etárias".

O que é melatonina e por que ela é proibida para crianças?

A melatonina é um neuro-hormônio, uma substância química produzida pela glândula pineal no centro cérebro.

Ela tem como função regular o nosso relógio biológico, avisando o corpo quando é hora de dormir e quando é hora de acordar.

Segundo Gustavo Moreira, presidente do Departamento de Medicina do Sono da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), por ser produzida principalmente à noite, ela pode causar sonolência ao ser consumida em excesso.

Além disso, por ser um hormônio que regula várias funções do corpo, a superdosagem desregula mecanismos como batimentos cardíacos, respiração e funções intestinais.

"O problema de sono é muito endêmico na nossa população. Mesmo nos primeiros cinco anos de vida, 20% das crianças têm insônia, principalmente por questões comportamentais", explica Moreira.

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De acordo com ele, isso pode fazer os pais buscarem soluções que parecem e se vendem como milagrosas.

Na internet, perfis do suplemento Soninho Perfeito Melatonina Kids nas redes sociais dizem que o produto trata problemas de sono, ansiedade, compulsão alimentar, irritabilidade noturna, inflamação e fazem alegações terapêuticas relacionadas à suplementação para transtorno do espectro autista e câncer.

As pessoas pensam que melatonina, que é um hormônio, não faz nada, mas ninguém sai tomando hormônio assim sem regulamentação médica. Ninguém toma hormônio para tireoide sem acompanhamento médico, por que a melatonina vai tomar? Gustavo Moreira, presidente do Departamento de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria

"O CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos notificou um aumento de 500% no número de intoxicações em crianças por melatonina", diz Moreira. "Em Toronto, no Canadá, foi feita uma pesquisa com vários produtos com diferentes dosagens de melatonina. O estudo notou que em muitos deles, além da melatonina, há outras substâncias que também podem ser tóxicas."

Outro estudo mencionado por ele é uma pesquisa publicada pelo Instituto Médico Legal da Carolina do Norte, que revelou um alarmante padrão de sete casos de morte súbita em lactentes, crianças com idades entre 1 e 3 anos. Em uma descoberta preocupante, cinco desses sete casos apresentaram níveis de melatonina que estavam de dez a 100 vezes acima dos valores considerados normais.

Como fazer as crianças dormirem?

Até os cinco anos de vida, ocorre uma significativa transformação no padrão de sono das crianças, um fenômeno conhecido como maturação do sono. Problemas relacionados ao sono durante esse período podem desencadear condições como infecções de ouvido recorrentes e alergias, impactando a capacidade de a criança de desenvolver a habilidade de dormir de forma independente.

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Além disso, inicialmente, podem ser observadas mudanças no humor e nas funções cognitivas, que podem influenciar o processo de aprendizado da criança.

Segundo o presidente do Departamento de Medicina do Sono da SBP, o primeiro passo para evitar esse tipo de situação é cuidar da higiene do sono.

O que significa, entre outras coisas, dormir no horário adequado e, uma hora antes do sono, evitar atividades estimulantes como atividade física, uso de celular, tablet e televisão, uma vez que a presença de muita luz inibe a melatonina.

Quem pode e quem não pode tomar melatonina?

A Anvisa liberou o uso do hormônio para pessoas acima de 19 anos, o que deve ser feito com acompanhamento médico. Crianças e adolescentes no espectro autista também podem fazer uso do suplemento.

Por outro lado, a substância não é recomendada para mulheres grávidas ou amamentando. Indivíduos com histórico de doenças autoimunes, problemas no fígado ou nos rins, convulsão, depressão, pressão alta ou diabetes também devem conversar com o médico de confiança para saber se podem ou não tomar o suplemento.

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