Idosos têm um cheiro típico? Substância achada na cerveja ajuda a explicar
De VivaBem*
29/08/2023 04h00Atualizada em 29/08/2023 12h22
Quem convive com idosos já percebeu que, à medida que vão ficando mais velhos, eles exalam um cheiro característico — e não necessariamente ruim. Embora o cheiro seja reconhecido, médicos e pesquisadores ainda não conseguiram explicar exatamente quais são suas causas.
Até agora, o que os cientistas sabem é que, de maneira geral, os odores corporais humanos são produto de uma interação complexa entre as glândulas da pele, secreções e atividades bacterianas que sofrem mudanças ao longo do tempo.
No caso dos idosos, o cheiro pode ser produto de um mix de alterações químicas, desaceleração do metabolismo, ingestão de medicamentos constante e estilo de vida.
Alterações químicas
Substância presente na cerveja. Em 2000, um grupo de pesquisadores japoneses descobriu que a concentração de uma substância química chamada 2-nonenal (encontrada no suor e na pele) aumenta à medida que envelhecemos. Curiosamente, o 2-nonenal também está presente na cerveja.
Os cientistas analisaram o teor da substância na camisa de 22 pessoas, entre 26 e 75 anos. Nos indivíduos com mais de 40 anos, a concentração de 2-nonenal no tecido era duas vezes maior do que no dos mais jovens. Nos mais velhos, a concentração triplicava.
Uma das explicações é que o aumento do 2-nonenal vem da decomposição de ácidos graxos e ômega-7, substâncias que estão mais presentes em nossa pele quando envelhecemos.
O motivo desse aumento, porém, ainda é uma dúvida para os cientistas. O que eles especulam é que esse crescimento pode estar relacionado às mudanças do metabolismo ou de alterações na quantidade de algum outro produto químico nas secreções da pele.
Medicamentos e metabolismo
O uso constante de medicamentos e as alterações no metabolismo também podem ser explicações. Algumas doenças crônicas, como a insuficiência renal, faz com que o indivíduo exale um cheiro característico por conta do excesso de amônia no corpo, por exemplo.
Em muitos casos, não é preciso nem desenvolver uma doença. O próprio processo de envelhecimento faz com que os órgãos operem com reserva funcional, causando muitas mudanças no metabolismo.
E qual é o propósito?
Outra grande questão que ainda não tem resposta é se essa mudança no odor dos mais velhos teria algum propósito. Uma pesquisa divulgada por um centro de estudos norte-americano dedicado a estudar cheiros, mostrou que o odor dos idosos é facilmente detectado e é o menos desagradável.
Cheiro menos intenso. Durante a pesquisa, os cientistas pediram que diferentes voluntários dormissem com uma camiseta por cinco noites consecutivas. Os 44 voluntários foram divididos em três grupos: jovens (entre 20 e 30 anos), meia-idade (45 e 55 anos) e idosos (entre 75 e 95 anos). Ao final da quinta noite, outros voluntários foram convidados para identificar, através do cheiro, quais camisetas pertenciam a qual grupo e quais odores eram mais intensos e desagradáveis.
Além de detectarem o odor do grupo de idosos, o cheiro desse grupo foi considerado o menos intenso e menos desagradável do que o de pessoas jovens e de meia-idade.
Os cientistas acreditam que, além dos humanos, algumas espécies de animais também conseguem dizer a diferença entre indivíduos mais jovens e mais velhos pelo cheiro, como macacos, veados e ratos.
Uma possível explicação para o cheiro, tanto no caso dos animais quanto dos humanos, é que indivíduos mais velhos teriam uma "vantagem genética" que lhes permitiu sobreviver por mais tempo e que o odor seria uma "propaganda" para essa qualidade genética. Mas até agora, pura especulação.
Fonte: Clineu Almada Filho, geriatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
*Com reportagem publicada em 16/08/2016