Ela quebra mito de fura-fila do Faustão: 'Tive órgão em 24 h sem ser rica'
Simone Machado
Colaboração para VivaBem, em São José do Rio Preto (SP)
31/08/2023 04h03Atualizada em 31/08/2023 08h58
"Se o Faustão é rico por conseguir um transplante em alguns dias, eu sou milionária". Foi com essa publicação em tom de brincadeira que Michelle Fernanda Luckesi, de 30 anos, tentou chamar a atenção dos seus seguidores nas redes sociais e derrubar boatos sobre a lista de transplantes de órgãos no Brasil.
Nos últimos dias, espalharam-se comentários falsos de que o apresentador Fausto Silva, 73, teria furado a fila de transplante de órgãos por ter dinheiro e ser famoso. Mas é importante saber que a lista do SUS não leva em consideração a condição socioeconômica da pessoa que precisa do órgão.
A moradora de São Paulo foi diagnosticada com hepatite autoimune, doença que comprometeu o funcionamento do fígado e consequentemente de outros órgãos. Internada em estado grave, ela conseguiu um novo órgão em apenas 24 horas.
Michelle conta que o transplante ocorreu quando ela tinha apenas 18 anos. Na época, a jovem levava uma vida como qualquer garota da sua idade.
"Eu era completamente saudável, não ficava nem gripada", diz.
No entanto, Michelle, que hoje é aposentada por invalidez, relata que um dia acordou com dores de cabeça e vômito. Depois, surgiram pintas avermelhadas na pele e a jovem começou a ter febre.
Ao procurar um posto de saúde, os médicos suspeitaram que ela estaria com dengue e pediram para a paciente retornar em três dias, caso os sintomas não melhorassem.
"Os sintomas não melhoravam e eu me sentia cada vez pior. Dois dias depois, procurei outro pronto-atendimento e também não chegaram a nenhum diagnóstico. No outro dia, eu já estava muito fraca. Foi quando minha mãe me levou a outro hospital e lá decidiram me internar", diz Michelle.
Segundo a jovem, foram feitos diversos exames, mas os médicos não conseguiam chegar a um diagnóstico. Após dois dias de internação, Michelle entrou em coma e precisou ser transferida para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Meu estado se agravou muito rápido e descobriram que meu fígado entrou em falência, e outros órgãos já estavam sendo prejudicados. Eu estava em estado gravíssimo.
Os médicos chegaram a fazer exames para verificar se Michelle ainda tinha atividades cerebrais. Como o resultado foi positivo, ela foi colocada em primeiro lugar na fila de transplante de fígado, devido à urgência do caso.
"Os médicos falaram que eu só resistiria mais 48 horas sem um novo órgão. No dia seguinte, apenas 24h após entrar na fila, um fígado apareceu e eu pude fazer o transplante", recorda.
Ao ver publicações falsas e comentários equivocados sobre supostos benefícios do apresentador Faustão por ter conseguido um novo coração após 19 dias de espera, a jovem destaca que as pessoas precisam buscar entender como funciona o Sistema Nacional de Transplantes e incentivar a doação de órgãos.
"Eu vi muitas pessoas escrevendo coisas absurdas sobre 'furar fila'. Entendo a revolta, é angustiante viver sofrendo com uma doença grave. Mas não concordo com o que dizem. Existem muitos meios de informações sobre a lista de espera. Já existem muitos mitos que atrapalham a doação e consequentemente a fila não anda. O que falta é doador. Em vez de espalhar coisas ruins, espalhem sobre a importância da doação de órgãos."
Hepatite autoimune
A hepatite autoimune é uma doença inflamatória crônica do fígado de causa desconhecida que afeta mais frequentemente as mulheres e tem um ciclo variável, variando de nenhum sintoma à insuficiência hepática fulminante.
Nela, o sistema imune ataca as células do fígado causando inflamação e alteração da função do órgão.
A doença não tem cura e o tratamento consiste em diminuir a atividade do sistema imune com drogas imunossupressoras e uma dieta equilibrada. Em casos mais graves, é indicado o transplante.
Entenda a lista de transplante de órgãos
A lista do SUS não leva em conta o poder aquisitivo da pessoa que aguarda um órgão nem se é famosa ou em qual hospital está internada.
A lista segue ordem cronológica de inscrição.
Crianças têm prioridade.
A gravidade do caso, porém, também é levada em conta. O uso de medicamentos para fazer com que o coração bata mais forte, por exemplo, indica que o quadro é mais grave.
A compatibilidade do paciente com o doador também interfere no tempo de espera.
As filas são regionalizadas, já que não é viável transportar órgãos em distâncias muito grandes.