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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Quer relação mais saudável? Aprenda a brigar e expor suas insatisfações

Imagem: iStock

Priscila Carvalho

Colaboração para o VivaBem

02/09/2023 04h00

Até os casais mais felizes enfrentam momentos de desentendimento. Conflitos conjugais acontecem, mas a forma como eles são enfrentados pode ter um impacto significativo na saúde mental dos envolvidos.

As discussões podem ser consideradas saudáveis em certas situações, uma vez que permitem a expressão de opiniões e sentimentos. Porém, quando as brigas se tornam frequentes e não são resolvidas de maneira construtiva, podem contribuir para o estresse crônico, a ansiedade e até a depressão em um ou ambos os parceiros.

Segundo Pamela Magalhães, especialista em terapia de casal e família pelo Instituto Sistema Humanos de SP e Coordenadora da Pós-graduação Lato-sensu de Inteligência Emocional e Humanização em Saúde pela Faculdade IPGS, o importante, acima de tudo, é como conduzir determinada discussão.

"O quanto a gente vai prezar pelo bom diálogo, pelo equilíbrio, pelo respeito ao outro, pelo permitir que a escuta esteja atenta, e ver o momento mais adequado para acontecer isso, fará toda a diferença", diz.

Especialistas ouvidos por VivaBem ressaltam que é importante identificar a forma de conversar e até como brigar no dia a dia. Feito isso, aí é hora de avaliar quando resolver.

Não seja tóxico na discussão

Para manter uma comunicação saudável e não violenta, é essencial evitar o uso de frases que possam inflamar uma situação. Algumas dicas para isso incluem:

Evite o uso de "sempre" e "nunca": frases absolutistas podem parecer acusatórias e exageradas. Em vez disso, seja específico sobre a situação e evite generalizações.

Use o "eu" em vez do "você": falar sobre seus próprios sentimentos e percepções em vez de apontar o dedo para o parceiro pode reduzir a defensividade.

A intenção é justamente dizer que não existem vítimas e bandidos, não existe o certo e errado. Existem pontos de vistas diferentes na relação e ambas fazem sentido. Samarah Perszel de Freitas, psicóloga, terapeuta relacional sistêmica e professora do curso de psicologia da PUCPR

Evite críticas pessoais: em vez de atacar o parceiro, foque no comportamento específico que está causando desconforto. "Primeiro ponto é tentar conversar sem o ataque, porque quando você ataca, acusa o outro, e automaticamente você arma o outro", diz Freitas.

Seja respeitoso: mantenha o respeito mútuo, mesmo quando discordarem. Evite insultos, sarcasmo e palavras degradantes.

Escute ativamente: esteja disposto a ouvir sem interromper, mostrando que você valoriza as opiniões e sentimentos do parceiro.

Ouvir mais e falar menos. Muitas vezes, queremos impor nossa opinião e não nos permitimos escutar o outro. E também o que acontece muito é que ambos estão falando a mesma coisa, porém a adrenalina está tão alta, que não se escutam. Suellen Souza, psicóloga e especialista em terapia de casal e família pela Faculdade Unyleya

Invista na comunicação não violenta

Essa abordagem visa estabelecer conexões emocionais profundas por meio da empatia e do respeito mútuo. Em um relacionamento, a prática envolve expressar sentimentos e necessidades de maneira clara e honesta, ao mesmo tempo em que se ouve o parceiro com compreensão e empatia.

Ao adotar esse hábito, os casais podem evitar armadilhas destrutivas, como acusações, culpas e julgamentos, que frequentemente surgem durante discussões. Em vez disso, eles podem focar em expressar como se sentem e quais são suas necessidades, permitindo uma troca de ideias mais saudável e uma resolução de conflitos mais eficaz.

"Hoje, ainda mais com as conversas por WhatsApp, as pessoas têm interpretações das mais variadas. Então, considerar que nem sempre as pessoas vão compreender o que você quis dizer é fundamental. Então, sempre dê a oportunidade para que a pessoa conte o que ela sentiu, o que a perturbou, o que a magoou", diz Magalhães.

A especialista acrescenta ainda que às vezes só queremos "vomitar palavras" no outro, ou muitas vezes colocar nele aquilo que é nosso. Entrar em contato com as nossas emoções particulares e como estamos sentindo já é um passo importante para poder ter uma discussão mais proveitosa.

"Isso faz com que a gente evite colocar pontos na discussão, esbravejando pontos desnecessários que cabem muito mais a nós, algo que esteja acontecendo conosco, do que em relação ao que esteja existindo com a pessoa", diz Magalhães.

Quando conversar? Vale dormir brigado?

Resolver qualquer problema, por pior que ele seja, é recomendado, segundo os especialistas. Mas o ideal é respirar fundo e deixar a poeira baixar.

Muitas vezes, na hora hora da raiva, falamos coisas sem sentido e que podem machucar o outro. Portanto, é fundamental esperar algumas horas para tentar se entender. Caso a pessoa insista para seguir com o assunto, tente falar para seguirem em uma outra hora e em outro momento.

Quando estiverem um pouco mais calmos, encontrem o momento propício para chamar o outro e iniciar uma possível conversa.

Isso também vale para dormir brigado. Pesquisas sugerem que resolver um conflito antes de ir dormir pode ser mais benéfico, pois permite que os casais se acalmem e evitem acumular ressentimentos. O importante é não deixar que a raiva e o rancor persistam por muito tempo.

Contudo, por mais que seja incômodo, é importante observar a dinâmica do casal para ver até que ponto é válido ou não ir para cama sem se falar.

"Se o dormir brigado representa um jogo também na relação, que é uma questão conflituosa, então vou demonstrar que eu não fiquei feliz e continuar permanecendo nesse papel por muito tempo, aí é muito complicado, porque ao invés de aproximar o casal, cada vez aumenta o afastamento", diz a profissional da PUCPR.

Por último, manter um relacionamento saudável e estável —e estável inclui brigas também— é permitir estar bem consigo mesmo e potencializar algumas emoções sozinho. Além disso, é fazer com que essas discussões possam proporcionar um crescimento para ambos e uma troca para potencializar ainda mais a parceria.

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