Pílula do dia seguinte perde eficácia após vários usos? Entenda
O uso da pílula do dia seguinte é cada vez mais comum entre as mulheres. O método funciona com o uso de hormônios sintéticos via oral para impedir ou atrasar a ovulação, além de dificultar a locomoção dos espermatozoides no aparelho reprodutor feminino evitando a fecundação e, consequentemente, uma gravidez indesejada.
No Brasil, o medicamento mais utilizado como contracepção de emergência é o levonorgestrel na dose única de 1,5 mg, uma progesterona sintética que demonstra alta eficácia, principalmente quando usada dentro das primeiras 24 horas após uma relação sexual desprotegida.
O fármaco apresenta uma taxa de falha de 0,5% nas primeiras 12 horas e de 5% entre 13 horas e 24 horas, sendo que as chances de engravidar dependem do momento do ciclo da mulher: caso ela tenha acabado de ovular ou esteja muito perto de a ovulação acontecer e ter uma relação sexual desprotegida, pode impossibilitar o efeito contraceptivo desejado.
Pílula do dia seguinte perde eficácia se usada com frequência?
De acordo com os Critérios de Elegibilidade Médica (MEC) de 2015 da OMS (Organização Mundial da Saúde), não há evidências científicas de que o método se torne menos eficaz quando usado repetidamente, inclusive mais de uma vez dentro do mesmo ciclo menstrual.
"O corpo não se acostuma com a dose de hormônio", aponta Jefferson Drezett, professor do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da USP e professor da disciplina de saúde sexual e reprodutiva e genética populacional da Faculdade de Medicina do ABC.
Por outro lado, as pesquisas sobre o tema ainda não fornecem uma base para estabelecer um limite no número de vezes que a pílula de emergência pode ser utilizada dentro do mesmo ciclo nem a frequência ou o intervalo ideal.
Um estudo que investigou o uso mais frequente da pílula do dia seguinte, publicado no periódico Human Reproduction, acompanhou por seis meses um total de 330 mulheres saudáveis entre 18 e 45 anos que relataram ter uma média de seis relações sexuais por mês.
Elas utilizaram o levonorgetrel de 1,5 mg como método primário de contracepção 24 horas antes ou depois do ato sexual. O resultado mostrou que o método teve uma eficácia de 92% e que mais de 90% das participantes optariam por utilizá-lo no futuro ou o recomendariam a outras pessoas.
"Como o levonorgestrel atua no corpo da mulher por três dias, ela tem a opção de repetir o método quantas vezes desejar durante o mês, após 72 horas do uso anterior, por exemplo, sem perder sua eficácia. No entanto, é fundamental lembrar que a taxa de falha do método está diretamente relacionada ao momento do ciclo menstrual, pois há o risco de gravidez caso a ovulação ocorra em qualquer intervalo", reforça Luis Bahamondes, professor titular do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp.
Repetição do uso da pílula do dia seguinte
O que também gera uma confusão sobre a sua eficácia é o fato de que a utilização frequente do fármaco acumula as taxas de falha previstas para cada uso, dando a impressão de que o medicamento perderia sua eficiência.
Por exemplo, quando o levonorgestrel é usado nas primeira 12 horas, a taxa de falha é de 0,5%. Na segunda vez em que o fato se repetir, a taxa de falha será de mais 0,5%, acumulando 1% de risco de falha até aquele momento —percentual maior do que o da pílula anticoncepcional usada perfeitamente o ano todo, que é de 0,3% (sem esquecimentos e sempre no mesmo horário).
Efeitos colaterais da "pílula do dia seguinte"
Entre os eventos secundários mais comuns manifestados com o uso desse método de contracepção de emergência estão a irregularidade menstrual para cerca de 15% das mulheres, podendo adiantar um pouco a menstruação ou atrasá-la em cerca de 5 a 7 dias.
Também pode haver uma diminuição no volume de sangramento ou ainda o aumento no número de dias sem sangramento ao longo do tempo.
Em cerca de 30% das mulheres, a contracepção de emergência também pode causar enjoo e episódios de vômito isolados caso elas sejam mais sensíveis à ação do hormônio.
Algumas ainda podem sentir dores de cabeça, sensibilidade nas mamas e, mais raramente, vertigens —sintomas que somem em até 24 horas sem qualquer tipo de intervenção ou medicamento, segundo Drezett.
"Apenas é importante lembrar que a anticoncepção de emergência não protege contra infecções sexualmente transmissíveis, como é o caso das camisinhas masculina e feminina", finaliza Debora Farias Leite, médica ginecologista e obstetra do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Fontes: Luis Bahamondes, professor titular do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp; Jefferson Drezett, professor do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da USP e professor da disciplina de saúde sexual e reprodutiva e genética populacional da Faculdade de Medicina do ABC; e Debora Farias Leite, médica ginecologista e obstetra do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Revisão técnica: Luis Bahamondes.
Referências bibliográficas:
- Manual de Anticoncepção - Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia);
- Anticoncepção de Emergência - Perguntas e Respostas para Profissionais de Saúde (2014) - Ministério da Saúde;
- International Consortium for Emergency Contraception;
- Medical Eligibility Criteria for Contraceptive use Fifth Edition 2015 (OMS).
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