Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Minha mãe tem Alzheimer aos 59 e decidimos viver cada momento na praia'

Ruth e as filhas, Lory e Ludmila Imagem: Arquivo pessoal

Maurício Businari

Colaboração para VivaBem

06/09/2023 04h00

A empresária Lory Tavares, 39, decidiu encher de bons momentos a vida da mãe Ruth, de 59 anos. Ruth foi diagnosticada com Alzheimer e, há quatro anos, começou a demonstrar os primeiros sinais da doença, que afeta a memória.

A história da família, de Brasília, foi marcada por situações trágicas. O pai era rigoroso, machista e costumava bater na esposa. Não a deixava trabalhar fora, não a deixava cortar os cabelos.

Quando Lory tinha 7 anos, o pai morreu por suicídio.

"Algo aconteceu com a minha mãe ali. Ela nunca mais foi a mesma. Acho que começou a ser assombrada pela culpa e, a partir daí, começou a beber e a se envolver em relacionamentos tóxicos", contou Lory.

Assim a gente foi crescendo. A Ludmila [uma irmã] era mais jovem, então eu cuidava de tudo. As pessoas apontavam a gente na rua, a gente ouvia os pais dos nossos amigos dizerem para se afastarem. Foi uma época bem difícil.

Mas ainda havia em Ruth uma força que a impelia a seguir em frente. Ela se formou no curso técnico de enfermagem e passou a trabalhar em hospitais. Largou o álcool e o cigarro assim que a primeira filha de Ludmila, Clarissa, nasceu.

Ruth, ao receber o diploma como técnica de enfermagem, e em junho deste ano, se despedindo das colegas ao se aposentar Imagem: Arquivo Pessoal

Aos 54 anos, porém, Ruth começou a apresentar os primeiros sinais de esquecimento. Ela trocava nomes, ia para a maternidade onde trabalhava nas folgas, sem lembrar que eram dias de descanso.

Depois, começou a mudar as versões das histórias que contava para cada membro da família.

No começo, a gente levava tudo na piada, achava que ela estava brincando. E aí a chefe dela, mais ou menos uns três anos atrás, mandou uma mensagem para nós, nos alertando sobre os episódios de perda de memória, estranhando o comportamento dela. A levamos a um neurologista, mas, quando ela entrava na sala, parecia normal, conversava normalmente.
Lory Tavares

Alagoas e Brasília

Após se casar novamente, Lory realizou um sonho: morar na praia. O casal mudou-se para Alagoas. A mãe ficou com Ludmila em Brasília, mas não se sentia bem. Passava os dias deitada, sem ânimo. Chorava por qualquer motivo.

Ruth com a mãe, Rita, já falecida, e os netos Salvador e Clarissa Imagem: Arquivo Pessoal

Após passar por diversos médicos e realizar vários exames, veio o diagnóstico: Alzheimer. Lory conta que a irmã precisou conversar com um médico pessoalmente, para contar o que acontecia, pois Ruth fazia parecer que não tinha nada de errado com ela nas entrevistas.

A notícia do Alzheimer antes dos 60 anos não foi fácil. Ruth chorou ao saber da doença e as filhas também lamentaram. "Eu e minha irmã ficamos muito tristes, às vezes sinto que minha ficha não caiu", diz Lory.

Ruth, no centro, com as filhas e os netos Imagem: Arquivo pessoal

Aposentadoria precoce

A partir daí, Ruth pediu afastamento do trabalho e solicitou aposentadoria. Parar de trabalhar parecia aumentar seu desânimo. Lory então conversou com o marido e a irmã e ficou decidido que Ruth moraria na praia.

Há pouco mais de um ano, Ruth passou a viver com a filha e o genro em uma casa na Praia do Francês, em Alagoas. O contato com a natureza, diz a empresária, "levantou" seu humor e ela ficou mais disposta.

Enquanto isso, os sintomas do Alzheimer ficaram mais evidentes. Para cuidar da mãe em tempo integral, Lory deixou "em suspenso" a loja online que mantinha.

Às vezes ela reclamava que queria ir para a praia, mas, quando chegava lá, dizia que queria estar em casa. Aí a gente voltava para casa e ela perguntava por que não estava na praia. Com o tempo, e entendendo o que ela tinha, a gente foi se acostumando e lidando com ela com muito amor e paciência.
Lory Tavares

Recentemente, a empresária decidiu gravar e publicar em seu perfil no Instagram uma série de vídeos da mãe, em situações do dia a dia, com a intenção de criar um álbum digital de memórias.

A técnica de enfermagem aposentada anota em um caderno lembranças que considera importantes Imagem: Arquivo Pessoal

E ficou surpresa com a reação das pessoas, de apoio e carinho. Muitas compartilhavam experiências com familiares na mesma condição de Ruth.

"A gente fica com aquela pontinha de alegria de ver que é possível lidar com uma situação difícil, mas com bom humor, carinho, atenção, em vez de transformar a pessoa num poço de vitimismo e de acender velas para ela em vida", diz a filha.

Ela cozinha, gosta de arrumar a casa, está sempre rindo. Ela ama música, ouvir música. E, assim, estou conhecendo coisas sobre ela, ela está me contando coisas que nunca soube a respeito dela.
Lory Tavares

Para manter a mente ativa, Ruth faz palavras-cruzadas e caça-palavras todos os dias. Ela também se ocupa juntando tampinhas de garrafa para uma ONG que ajuda animais.

Para se lembrar de algumas passagens, ela mantém um diário, onde anota o que considera importante para ler depois.

As irmãs Lory e Ludmila se dedicam a tornar mais feliz a vida da mãe, Ruth, diagnosticada com Alzheimer Imagem: Arquivo Pessoal

"Ela tem consciência de que tem Alzheimer e até conversa sobre isso, mas às vezes se esquece e pensa que está assim devido à menopausa. Tentamos transformar todos os momentos em que estamos juntas em momentos especiais", diz Lory.

Ela ganha declarações lindas do meu marido, de mim e da minha irmã, do meu filho, dos netos, de amigas antigas que ressurgiram. Sei que essa doença não tem cura e não regride. Mas não vou pensar no futuro, ela também não quer saber disso. Queremos aproveitar cada instante com muito amor enquanto ela estiver consciente.
Lory Tavares

O que é Alzheimer?

A doença de Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal. A doença é marcada pela deterioração cognitiva e da memória e pelo comprometimento progressivo das atividades do dia a dia.

Também ocorre uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.

As causas exatas do Alzheimer ainda estão sendo estudadas. Do ponto de vista biológico, a doença se caracteriza pelo acúmulo de proteínas no cérebro e pela formação de estruturas emaranhadas dentro das células neurais.

Os sintomas podem ser confundidos com outros tipos de demência.

A diferenciação entre o Alzheimer e outras demências está na característica da alteração de memória e comportamento e é possível diferenciá-las pela imagem cerebral.
Sérgio Jordy, neurologista da Rede D'Or

A doença é mais comum em pessoas com mais de 65 anos. Seu surgimento precoce é considerado raro. Fatores como abuso de álcool, tabagismo, sedentarismo e privação do sono podem influenciar no desenvolvimento precoce da doença. Há ainda fatores genéticos e emocionais. Nem todo quadro de alcoolismo ou tabagismo vai desencadear, necessariamente, o Alzheimer.

Geralmente, o paciente começa com quadros de esquecimentos, que vão progressivamente piorando e depois evolui com alterações de comportamento, como agressividade em alguns casos, e assim a doença vai evoluindo com a perda da capacidade de a pessoa se alimentar, pelo declínio da coordenação motora.
Sérgio Jordy

O diagnóstico depende de uma soma de fatores. Além da perda de memória, medida por testes neuropsicológicos, também podem ser solicitados exames de imagem e de sangue. Segundo Jordy, é um diagnóstico difícil e demorado.

O tratamento visa, inicialmente, a diminuir a velocidade do avanço da doença. Por vezes, se consegue uma estagnação e, em alguns casos, melhora do quadro. O tratamento envolve medicamentos para tentar diminuir os efeitos do processo degenerativo e melhorar os sintomas psíquicos como depressão, agressividade, alucinações e insônia.

Podem ser aplicadas também terapias de reabilitação cognitiva, terapia ocupacional, fisioterapia para estimular as funções cognitivas do corpo. Atualmente estão em pesquisa novos medicamentos.
Sérgio Jordy

Centro de Valorização da Vida

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

'Minha mãe tem Alzheimer aos 59 e decidimos viver cada momento na praia' - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Saúde