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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Aos 29, com 153 kg e diabetes, ele teve medo de não ter memórias com filha

Medo da morte foi gatilho para mudança de vida de Matheus Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

13/09/2023 04h00Atualizada em 15/09/2023 16h18

Com 153 kg, o fotógrafo Matheus Granado, 31, achou que o maior problema da obesidade era só ser gordo. Em 2021, porém, ele descobriu ter desenvolvido diabetes 2 por causa da doença aos e, aos 29 anos, achou que fosse morrer. A seguir, ele conta como a vontade de brincar e de ter memórias afetivas com a filha o motivou a mudar hábitos:

"Minha história com o sobrepeso começou quando eu era criança e foi piorando ao longo dos anos. Tive uma infância pobre, nunca passei fome, mas a alimentação era básica. Meu pai sempre dizia: 'filho, quando você tiver seu dinheirinho vai comer as coisas que você gosta'.

Aos 16 comecei a trabalhar, a ter acesso a comidas como pizzas e lanches e, a partir daí, o peso só aumentou.

Fazia diversas dietas restritivas, mas como não tinha nenhuma orientação profissional, em pouco tempo já desistia. Até tinha plano de saúde e poderia passar com uma nutricionista, mas perder peso era algo tão inalcançável para mim que criei uma barreira e preferia fazer tudo por conta própria.

Costumo dizer que eu era um obeso leigo para a obesidade, não fazia ideia de como a doença poderia ser perigosa.

Imagem: Arquivo pessoal

Certo dia, estava dirigindo, minha vista ficou embaçada e tive dificuldade para enxergar a placa do carro da frente. Achei que o grau dos óculos estava fraco, mas em uma semana os sintomas pioraram a ponto de eu não conseguir enxergar as mensagens no celular mesmo colocando zoom.

Um amigou me orientou a fazer um teste de glicemia, disse que uma tia dele teve complicações na visão por causa do diabetes. Comprei o aparelho na farmácia, medi a glicemia e ela estava em 480 mg/dl, o normal é até 99 mg/dl.

Na hora bateu o desespero e achei que fosse morrer. No dia seguinte, passei com um endocrinologista que me diagnosticou com diabetes tipo 2. Na época tinha 29 anos e pesava 153 kg.

O diagnóstico me fez enxergar a gravidade da doença e a necessidade de me cuidar. Minha maior motivação para mudar foi ter tempo de qualidade com a minha filha, a Elisa, que tinha 2 aninhos quando isso aconteceu.

Não tinha disposição e energia para brincar com ela, o que me deixava muito triste e chateado. Meu maior medo era envelhecer, buscar na memória momentos afetivos com a minha filha e não ter porque estava gordo e não conseguia fazer nada com ela.

"Cansei de ser gordo"

Imagem: Arquivo pessoal

Imagem: Arquivo pessoal

Após descobrir o diabetes, fiz um tratamento com endocrinologista para controlar a glicemia. Posteriormente, comecei a fazer reeducação alimentar com nutricionista e a praticar atividade física com o objetivo de emagrecer.

Em 1 mês e meio, perdi 8 kg, mantive o peso por alguns meses, mas voltei a engordar porque passei a comer muita comida das festas de casamento que fotografava.

Em dezembro de 2021, fiz 30 anos e postei alguns vídeos nas minhas redes sociais desabafando que tinha cansado de ser gordo.

Em janeiro de 2022, iniciei um novo processo de emagrecimento e decidi compartilhar minha luta contra a obesidade com os meus seguidores, o que foi um incentivo a mais para não desistir.

Durante toda a minha vida tentei emagrecer fazendo as coisas do meu jeito e nunca deu certo. Dessa vez entendi que precisava de ajuda e um acompanhamento multidisciplinar para funcionar. Mantive o tratamento com endocrinologista, nutricionista, voltei a fazer exercício físico e comecei a fazer terapia.

Era muito bitolado com números, achava que tinha que perder peso toda semana, ficava ansioso para ver o resultado logo e vivia me comparando com as pessoas. Isso me deixava exausto emocionalmente.

A terapia me ajudou a entender que foram quase 30 anos para chegar no estado em que cheguei e que as coisas não vão mudar de uma hora para outra. A perda de peso é uma jornada longa e difícil, em alguns dias estarei bem, em outros, não, mas no final vai dar tudo certo.

Imagem: Arquivo pessoal

Minha esposa, a Esllin, também sofre de obesidade, e passou todo o processo comigo, mas acabou fazendo a cirurgia bariátrica. Como o procedimento exige uma mudança de hábitos, estamos na mesma vibe, treinamos juntos na academia e passamos com a mesma nutricionista.

Além de motivarmos um ao outro, ter o mesmo objetivo facilita a nossa rotina.

Em 1 ano e 8 meses, emagreci 32 kg e já sinto os benefícios. Diabetes está controlada, o sono melhorou, não sinto mais dores no corpo e tenho mais disposição para curtir minha família. Consigo brincar com a minha filha de pega-pega, esconde-esconde, andar de bicicleta, caminhar no parque, fazer coisas que antes eram inimagináveis para mim.

A jornada continua, comecei com 153 kg, estou com 121 kg e quero chegar a 99 kg. Não imaginava que ia chegar tão longe quando comecei e quando cheguei um pouco mais longe não imaginava que ia falhar tanto.

Quando comecei a falhar, não pensei que ia levar tanto tempo e hoje entendo que é assim. O importante é seguir em frente e lutar para vencer o próximo dia."

Obesidade é doença crônica, não é "preguiça"

Muito se fala sobre obesidade, mas ainda há muito a se falar, pois conceitos equivocados são divulgados por todos os lados todos os dias.

É importante deixar claro, obesidade é doença sim. Pela definição da OMS, obesidade é o excesso de gordura corporal, em quantidade que determine prejuízos à saúde. Uma pessoa é considerada obesa quando seu IMC (índice de massa corporal) é maior ou igual a 30 kg/m2. A faixa de peso considerada saudável varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2.

Imagem: Arquivo pessoal

Uma pesquisa* encomendada pela campanha "Saúde Não Se Pesa", da farmacêutica Novo Nordisk, e realizada pela MindMiners, em parceria com a Accenture Song, mostra que muita gente ainda acha que é só "questão estética", 26% responderam assim quando perguntados sobre o que é obesidade.

Diversos especialistas entrevistados por VivaBem dizem que o IMC sozinho não é o melhor conceito para definir saúde, mas ele ainda é o índice usado internacionalmente para balizar muitos estudos e definir tratamentos.

A obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, são diversas fatores envolvidos na sua causa, não é apenas uma consequência da ingestão de calorias.

Segundo o Atlas da Mundial da Obesidade, publicado em março deste ano, o Brasil terá 42% da população com obesidade até 2035; atualmente, 22% da população adulta do país tem obesidade. Entre as crianças, o crescimento anual será de 4,4%, até 2035. Hoje, no Brasil, já são mais de 6,4 milhões com sobrepeso e 3,1 milhões com obesidade.

O componente genético é importante, uma vez que muitas pessoas sem excesso de peso (e até mesmo magras) comem mal e não fazem exercícios físicos.

Outros fatores podem influenciar, como a quantidade de horas de sono (pouco sono aumenta os hormônios que dão fome e reduz os que dão saciedade); o uso de alguns remédios (como antidepressivos); estresse, entre outros.

O que a obesidade causa no organismo

A obesidade é uma doença crônica que está associada a 195 outras doenças, incluindo infarto, câncer e AVC.

No sistema cardiovascular: doença coronariana, arritmias, insuficiência cardíaca, hipertensão e AVC.

No sistema respiratório: apneia do sono, piora da asma e risco aumentado de pneumonia.

Na parte digestiva: refluxo, esofagite e gordura no fígado que pode evoluir para cirrose.

A obesidade também aumenta o risco de diabetes tipo 2, doença de Alzheimer e demência precoce.

Vários cânceres são mais frequentes em pessoas com obesidade, como os de útero, de vesícula biliar, de mama, de próstata, de ovário e de cólon.

Redução da expectativa de vida

A obesidade reduz a expectativa de vida e pode matar. Uma pessoa com peso muito elevado desde a infância —e que mantém esse peso durante toda a vida adulta— tem redução de 8 a 12 anos de vida em relação a um indivíduo de peso considerado saudável.

Além disso, pessoas com obesidade têm autoestima baixa, sentimento de inferioridade, sofrem bullying e tendem a se isolar socialmente. O levantamento também aponta que não estar em forma abala a autoestima de 53% dos respondentes.

O tratamento da obesidade

Mudar a alimentação e praticar atividade física fazem parte do tratamento, mas esses componentes são regulados geneticamente. A fome e a capacidade de fazer exercícios de uma pessoa obesa é diferente, por isso tem que ser tratada como uma doença crônica —não difere de pressão alta ou de diabetes.

A pesquisa da Novo Nordisk aponta que, quando questionados se para reduzir a obesidade bastava comer menos e se mover mais, 61% responderam que sim; já 66% acreditam que retirar o açúcar das refeições já reduz a obesidade.

REMÉDIOS. O uso de medicamentos —dos mais variados tipos— para tratar a obesidade pode ser recomendado para quem tem IMC acima de 30 ou quem tem sobrepeso (IMC entre 25 e 30) com doenças associadas que melhoram com o tratamento (como diabetes, pressão alta e asma, por exemplo).

Não vá até a farmácia e compre sozinho qualquer remédio para emagrecer: o medicamento deve ser prescrito individualmente por um médico, que leva em conta inúmeros fatores.

CIRURGIA. A bariátrica pode ser indicada para quem tem obesidade mais grave, com IMC acima de 40, ou quem tem IMC entre 35 e 40 com doenças associadas.

É importante não banalizar o procedimento e indicá-lo somente para quem precisa. Por isso, a avaliação de um médico clínico geral ou endocrinologista é essencial. O apoio psicológico e tratamento comportamental são sempre recomendados.

O risco de não tratar a obesidade é se expor a uma série de doenças. Muitas pessoas com obesidade se acham saudáveis quando jovens porque os exames estão normais e não precisam tomar nenhum remédio, mas à medida que os anos passam as complicações aparecem.

*A pesquisa quantitativa online foi feita com 350 adultos entre os dias 02/12/2022 a 05/12/2022, de todo o Brasil, e teve pessoas que se autodeclararam com peso ideal, sobrepeso e obesidade. A margem de erro amostral é de 5,23% e o nível de confiança é de 95%.

Fonte: Marcio Mancini, endocrinologista, vice-presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e membro da SBEM-SP.

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