É verdade que um dos primeiros sinais da desidratação é a dor de cabeça?

Bebeu água? Está com sede? As perguntas lembram os versos famosos da letra de música que foi hit do Carnaval no fim da década de 1990, mas a sede não é o único mecanismo de defesa que o corpo emite quando a ingestão de líquidos é insuficiente.

A água desempenha papel fundamental na manutenção das funções orgânicas.

"A desidratação promove a redução do líquido que circula em nossas artérias e veias e pode ocasionar a desidratação de nossas células", afirma Felipe Leite Guedes, nefrologista, professor de nefrologia da UnP (Universidade Potiguar) e responsável técnico médico da DaVita Lagoa Nova, em Natal (RN).

O baixo consumo de água, chás e sucos desencadeia sintomas diferentes em cada indivíduo, entre eles a dor de cabeça.

É muito difícil associar a dor de cabeça à falta de água, mas a desidratação pode ser um sinal de que a crise está começando, como um gatilho. Carla Delascio, ginecologista e obstetra especializada em nutrologia do centro de medicina integrativa do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista (SP)

Na maioria das vezes, as pessoas costumam associar a cefaleia a outras condições de saúde, como estresse, sono irregular e hipoglicemia.

"Os primeiros sintomas são a sede, como resposta fisiológica ao processo; a redução da sudorese; e a concentração urinária, identificada pelas tonalidades amarelo escura ou amarronzada. Sintomas sistêmicos —dor de cabeça, tonturas e sonolência—, podem se seguir a esse quadro, ainda em uma desidratação leve", explica o nefrologista Guedes.

É possível apresentar também fadiga, fraqueza, diminuição do apetite, enrugamento da pele na testa, diminuição do débito urinário —eliminação de urina inferior a 500 ml em 24 horas—, olhos encovados, mucosas da boca e do nariz secas, cãibras musculares, batimentos cardíacos acelerados, pele seca, língua pastosa e perda de peso.

De acordo com Fernanda Maniero Banevicius, coordenadora do curso de nutrição da Faculdade Anhanguera, o corpo não tem capacidade de armazenar água e a quantidade eliminada a cada 24 horas deve ser reposta para manter a saúde em equilíbrio. "Adultos saudáveis vivem até 10 dias sem líquidos, as crianças, até 5 dias, enquanto pode-se sobreviver durante várias semanas sem comida", explica.

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Imagem: Getty Images

O quadro clínico de uma desidratação varia de leve a grave, além disso, devem ser consideradas as condições da pessoa: idade, gênero, presença ou não de comorbidades, nível de atividade física e condições climáticas (umidade, temperatura, entre outros).

São sintomas relacionados à desidratação leve:

  • sensação aumentada de sede,
  • dor de cabeça,
  • tontura,
  • fraqueza e
  • sonolência.

Quando é moderada, é identificada por:

  • boca seca,
  • diminuição da urina,
  • aumento da frequência cardíaca e
  • redução da elasticidade da pele.
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As formas mais graves apresentam:

  • ausência de diurese,
  • alteração do estado mental,
  • pele fria e pegajosa,
  • pressão arterial baixa e
  • aumento das frequências respiratória e cardíaca.

Como ocorre a desidratação?

A desidratação ocorre quando o consumo de água é inferior à perda, ou seja, quando o balanço hídrico é negativo —a eliminação é maior que a ingestão.

O professor de nefrologia da UnP explica que uma criança com diarreia —que está entre as causas mais comuns— perde uma quantidade superior de líquidos e elementos pelas fezes. Daí, pode haver uma restrição à ingestão de água e alimentos por sintomas que se associam, como vômitos e dores abdominais, ou pelo próprio processo de perda hídrica, que é capaz de levar ao agravamento do quadro pela redução da capacidade de buscar a reposição oral dos elementos perdidos.

"Em situações mais graves, o indivíduo desidratado já não responde mais aos estímulos, sendo necessário ir ao pronto-socorro para receber infusões de soro por via endovenosa", afirma.

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Em geral, desidratações leves não colocam o organismo em risco de morte, sobretudo em pessoas que têm rins saudáveis —que são capazes de amenizar os efeitos—, desde que consigam receber líquidos pela via oral.

No entanto, segundo o responsável técnico médico da DaVita Lagoa Nova, casos mais intensos de desidratação podem ser agravados com a presença de diarreia e vômito e, até mesmo, serem fatais, pela impossibilidade de repor líquidos via oral, como:

  • Náufragos à deriva
  • Pessoas mais sensíveis à desidratação que tenham doenças crônicas ou em extremos de idade --crianças muito pequenas e idosos

A desidratação ativa mecanismos fisiológicos de compensação para que nenhum órgão seja comprometido. Quando existe algum comprometimento ou uma doença de base, é possível que ocorra uma má resposta do organismo a esse mecanismo. Felipe Leite Guedes, nefrologista

Os rins são órgãos vitais que regulam todo o processo de filtração, pressão arterial e excreção de toxinas, então se o indivíduo tiver algum problema renal, pode haver efeitos adversos da desidratação, como pressão baixa ou perda da função renal residual.

Pessoas hipertensas, cardiopatas e nefropatas que fazem uso de medicações diuréticas ou anti-hipertensivas são mais sensíveis à desidratação.

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O que muda com a gravidez?

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Imagem: iStock

Na gravidez, a ginecologista do Pro Matre Paulista explica que a necessidade de ingestão hídrica aumenta porque ocorrem modificações fisiológicas, como o aumento do volume sanguíneo.

O líquido amniótico também é constituído, essencialmente, por água, e para mantê-lo em níveis normais é essencial o consumo de líquidos.

Em quadros de hiperêmese gravídica —náuseas e vômitos graves durante a gravidez— ou diarreia aguda, a gestante deve ser monitorada de forma mais cautelosa para avaliar uma possível desidratação, que pode gerar distúrbios hidroeletrolíticos mais severos causando arritmias, desmaios e colocando mãe e bebê em risco.

Dicas para manter-se sempre hidratado

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Beber, pelo menos, 30/35 ml/kg de água diariamente —de 50 ml a 60 ml/kg de peso corpóreo em crianças—; caso não tenha nenhum parâmetro, consumir entre 2 e 3 litros de água por dia para sentir-se bem hidratado, na maioria das situações;

Se as perdas diárias forem relevantes, por atividade física ou laboral, é preciso tomar líquidos suficientes para urinar cerca de 2 litros por dia;

Se houver dificuldade para mensurar a quantidade da ingesta líquida ou da urina, pode-se beber água o suficiente para que esteja transparente, garantindo a hidratação adequada.

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