Dor no sexo? Você pode precisar de fisioterapia na parte íntima e não sabe
Quase uma em cada 3 mulheres sentem dor durante relações sexuais, e isso pode ser resolvido, em muitos casos, com uma espécie de massagem na parte íntima, que alivia os pontos de tensão.
"As mulheres precisam entender que dor durante a penetração no canal vaginal não é algo normal e que se existe dor persistente algo deve estar errado", explica a Débora Pádua. Ela é fisioterapeuta pélvica, uma especialidade ainda pouco difundida e pouco aconselhada, mesmo após a avaliação de diversos ginecologistas.
Pádua relata que a maioria das mulheres que a procuram tanto não sabem que esse tipo de fisioterapia existe quanto não fazem ideia de que o tratamento é indicado para melhorar a vida sexual.
Como funciona a terapia?
O tratamento faz estímulos físicos para liberar a tensão dos músculos da pelve. "A mulher vem para uma consulta como se fosse um exame ginecológico e ali a gente vai liberando os pontos de tensão", explica Ana Gehring, fisioterapeuta sexual.
Quando a paciente tem vaginismo, a terapia começa na parte externa. Aparelhos a laser, de radiofrequência e biofeedback - equipamento que faz o músculo "aprender" a relaxar - ajudam nas sessões, a depender da necessidade da paciente.
"Imagine que você está com uma dor no ombro, o que você faria na fisioterapia? Vamos fazer massagem, alongar a região. Depois que passa a fase da tensão muscular, vamos pensar no fortalecimento. É mais ou menos assim", exemplifica Gehring.
Dilatadores vaginais amparam o trabalho na parte interna da musculatura. "Os dilatadores são como um kit com vários tamanhos. Vamos alongando gradativamente a musculatura da vagina e assim, a mulher vai perdendo o medo da penetração, porque, obviamente, quem sente dor vai ficar toda contraída e tensa a cada tentativa", diz Gehring.
A reabilitação é rápida: todo o processo dura entre 6 a 8 semanas. "A maioria das mulheres está há 5, 10 anos dentro de um relacionamento em que nunca conseguiu ter relações", conta a fisioterapeuta.
Como saber se eu preciso?
Gehring elenca que quem sente dor desde a primeira tentativa, tem impossibilidade de penetração desde as primeiras vezes ou tem a sensação de tensão durante o sexo deve procurar por um fisioterapeuta sexual.
Tudo isso acontece mesmo que a mulher esteja com desejo e lubrificada. Até mesmo o absorvente interno fica desconfortável. É preciso observar esse padrão de desconforto que não passa nem com uso de lubrificante.
Ana Gehring
Estímulos emocionais, infecções repetidas, traumas e abusos também podem desencadear a rigidez muscular nessa área. Essa tensão gera uma "memória da dor".
"Cada ser humano processa a dor de uma certa forma e guarda na memória. Se o estímulo acontece repetidas vezes, o sexo pode virar sinônimo de dor. Assim, o corpo tem contrações involuntárias", explica ela.
O que pode significar a dor?
O estudo "National Survey of Sexual Health and Behavior", feito nos Estados Unidos, estima que entre 10% a 30% das americanas experienciam algum grau de dor durante relações sexuais. Segundo Débora Pádua, a estimativa global é de 8% a 28%.
As principais causas das dores, de acordo com Pádua e Gehring, são três disfunções: vaginismo, dispareunia e vulvodínia:
O vaginismo impossibilita a penetração. "É semelhante a tentar atravessar uma parede, mesmo estando com desejo e lubrificada. A musculatura fica tão rígida que até um dedo, um absorvente interno ou um exame ginecológico acabam se tornando impossíveis", diz Gehring. Essa disfunção acontece desde a primeira tentativa, diferente da dispareunia, que pode acometer a mulher ao longo da vida.
Na dispareunia, a penetração pode ocorrer, mas há sensação de ardência e de que não há espaço suficiente.
Já a vulvodínia causa dor na parte externa. "Nesse caso, o clitóris, os lábios e a vulva doem. Até mesmo a costura da calça jeans pode deixar a mulher desconfortável. Ela percebe essa dor no dia a dia", completa Gehring.
O que pode prejudicar a região pélvica?
Alguns hábitos do cotidiano podem fazer ainda mais pressão sobre a região pélvica e piorar o problema. Um deles é o uso de cintas modeladoras. A peça coloca pressão de cima para baixo sobre a vagina e isso a enfraquece, de acordo com Gehring.
Basicamente, toda atividade que força a região "para baixo" causa enfraquecimento, segundo Gehring. "A dificuldade para fazer cocô, por exemplo, por conta da força que você faz, vai enfraquecendo a região. Exercícios de impacto como jump são péssimos para a saúde íntima. Mas um agachamento, por exemplo, onde se faz peso sem ser pra baixo, um abdominal sem contrair a musculatura íntima, são bons", diz.
O pompoarismo, apesar de fortalecer a vagina, é uma contraindicação para quem sofre com dores. "Imagine só: você está com aquela mesma tensão no ombro, que dá até dor de cabeça de tão tensionado. Você iria para a academia naquele dia, justamente para fazer exercícios para aquela região, colocando peso? Não!", explica Gehring.
Tensão não significa força. Segundo a fisioterapeuta, a musculatura tensa geralmente também é fraca. O ideal é só começar a praticar o pompoarismo depois que a tensão na região íntima estiver aliviada.
"O principal é começar com poucas contrações, sentir se está bem. Sempre que possível, procurar uma fisioterapeuta pélvica na sua região. Nem sempre se vai encontrar e, às vezes, a mulher não tem condição [financeira]. Então pode, sim, começar por conta própria, desde que não tenha sinais de dor [nos exercícios]", aconselha ela.
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