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'Ficar olhando feed é ruim demais': LinkedIn pode ser tóxico; como evitar?

Imagem: Pixabay

Priscila Carvalho

Colaboração para o VivaBem

16/09/2023 04h00

O LinkedIn se tornou uma ferramenta indispensável para muitos profissionais em busca de oportunidades de emprego, networking e crescimento de carreira. No entanto, à medida que essa plataforma profissional cresce em popularidade, também aumentam seus riscos à saúde mental.

Na rede, é comum encontrar pessoas expondo suas conquistas e vulnerabilidades: há comemorações de uma promoção ou novo emprego e também queixas sobre desemprego. Isso tudo pode fazer com que ela se torne tóxica para alguns, instigando comparações ou trazendo gatilhos.

Foi o que sentiu a gerente de marketing Débora Nascimento, 35, de São Paulo, que foi demitida em maio deste ano. Depois de sua empresa entrar em crise, o quadro de funcionários foi quase todo dispensado e ela recebeu com surpresa seu desligamento. Desde então, faz entrevistas e procura vagas no LinkedIn, mas confirma que a página muitas vezes causa ansiedade e desânimo.

Tem dia que eu entro e vou direto só na busca de emprego, ver se tem uma vaga que tenha a ver comigo. Porque, realmente, ficar olhando ali o feed é ruim demais. Débora Nascimento, gerente de marketing

"Você está desempregado, você entra lá, só tem mensagem negativa de não conseguir arranjar emprego, falando que você está quase passando fome, layoff atrás de layoff", diz Débora. Para não ser tão afetada pela rede, além de buscar emprego, ela procura por hashtags de assuntos que acha mais interessante, para poder comentar e se manter ativa. "E só", diz.

Quem também sente aversão pela plataforma é o gestor de projetos Igor Custódio*, 33. Ele também usava a rede social com frequência, mas deixou de postar devido ao pouco retorno.

Como sempre ouviu que é preciso fazer publicações constantes, ele tentava trazer insights ou diferentes olhares sobre seu trabalho ou workshops de que participava. Mas mesmo fazendo isso quase semanalmente, não sentia que isso dava algum retorno positivo ou que agradava as pessoas.

É uma rede social bem tóxica. Eu postava algo legal em português e em inglês e poucas pessoas viam, ou a plataforma nem entregava. Frustrante. Parei de postar. Igor Custódio*, gestor de projetos

Ele acredita que o LinkedIn é mais nocivo do que o próprio Instagram, já que envolve aspectos de emprego e carreira acadêmica, sendo impossível não gerar comparações.

Dá para se proteger de sensações ruins provocadas pela rede?

Assim como outras mídias sociais, o LinkedIn também oferece riscos se não for usado de forma correta. "Toda rede social pode ser incluída na rotina da vida pessoal e profissional, porém requer o cuidado para não se transformar na razão da vida", diz Regina Celina, psicóloga, doutora em psicologia e professora do curso de psicologia da PUCPR.

Segundo a especialista, redes sociais são recursos que podem atender algumas das necessidades pessoais e profissionais e, como tal, precisam ser usadas com o devido controle de tempo e de conteúdo.

É importante também tomar cuidado com o que vai postar. Muitas vezes, publicar algo só esperando engajamento, sem estratégia ou propósito, também pode não ser uma boa alternativa. Além disso, não é necessário se expor de forma exacerbada só para chamar atenção do público geral ou recrutadores.

Segundo Anna Cherubina Scofano, professora de MBA da FGV e mentora de carreiras, no LinkedIn, assim como em qualquer rede social, tudo depende das pessoas que você escolhe e deixa participar do seu círculo. Entretanto, profissionais que não têm muito a agregar não sobrevivem e não conseguem seguidores. "É uma rede focada em crescimento, fortalecimento da rede de networking para futuras oportunidades e negócios. Logo, quem se posicionar diferente disso será excluído ou ignorado", diz.

Dentro do LinkedIn também é necessário seguir e tentar entender o algoritmo, que pode funcionar a favor ou contra o profissional. Para se blindar de publicações mais tóxicas, é necessário seguir um caminho de conteúdos que têm a ver com você. "Se você não interagir com histórias ou situações que não fazem sentido para sua vida profissional, vai limitar as conexões [que não agradam]", diz Juliane Salvan, diretora de RH com MBA em RH pela USP.

Se eu comparar as redes, o LinkedIn é a menos tóxica, pois ali você vai encontrar um conteúdo direcionado ao mercado de trabalho e você pode se blindar disso por meio das conexões que tem e como interage. Juliane Salvan, diretora de RH com MBA em RH pela USP

Como melhorar a experiência no LinkedIn

Defina metas realistas

Em vez de focar apenas em números e conquistas, estabeleça metas realistas que levem em consideração sua jornada pessoal e profissional. Isso inclui um projeto que queira implementar, um curso que quer fazer, um café virtual que conseguiu marcar, um encontro ou uma conversa com determinada pessoa que queira muito, ou uma viagem que já realizou. Aceite ainda que não será possível se candidatar para todas as vagas que aparecem.

Limite o tempo

Reserve um tempo específico para o LinkedIn e evite verificar a plataforma constantemente. Isso pode ajudar a reduzir a pressão constante de estar online. Vale lembrar que isso vai depender de cada pessoa e de como essa rede vai afetá-lo. É importante considerar se vai acessar a rede social no fim de semana ou não, e quantas horas por dia. Tente conciliar com outras atividades também.

Controle suas conexões

Selecione cuidadosamente suas conexões, priorizando a qualidade sobre a quantidade. Interaja com pessoas que compartilham interesses profissionais semelhantes e que promovam um ambiente de apoio.

Atente-se à privacidade

Revise e ajuste suas configurações de privacidade para garantir que você esteja no controle de quem pode ver suas atividades e quem pode entrar em contato com você.

Concentre-se no seu objetivo e evite comparações

Para evitar comparações e sentimentos de inferioridade, concentre-se no seu próprio objetivo e no seu progresso. Reconhecer suas qualidades também é importante para não continuar com um um sentimento ruim e o tempo todo se comparando.

Caso uma pessoa que você segue nas redes sociais não te faça bem, não a siga mais ou oculte suas postagens. Dessa forma, será mais fácil evitar qualquer sentimento tóxico e até de ansiedade em relação ao outro. Além disso, procure relações fora do online e busque apoio de familiares e pessoas próximas.

Você tem que focar mais na sua jornada pessoal. É bom lembrar que todo mundo tem desafios e obstáculos, mas foque na sua própria construção de imagens positivas, independentemente do que o outro está fazendo nas redes sociais. Marcelo Fabricio Horostecki, psicólogo e mestre em gestão de pessoas

Se o sentimento de comparação perdurar, busque ajuda de um profissional de saúde mental e investigue todas as causas dessas sensações.

Como buscar emprego de forma saudável

Rede profissional: conecte-se com pessoas que você conhece e admira. O LinkedIn é uma ferramenta poderosa para construir relacionamentos profissionais valiosos.

Feedback construtivo: se você precisar rejeitar uma solicitação de conexão ou mensagem, faça-o de maneira gentil e construtiva. Lembre-se que todos estão em busca de oportunidades.

Compartilhe sucesso: compartilhe suas próprias experiências e desafios profissionais. Isso cria uma atmosfera mais aberta e empática na plataforma. Mas não precisa fazer isso todo dia.

Ofereça apoio: se você conhece alguém em busca de emprego no LinkedIn, dê suporte emocional. Uma palavra gentil ou uma recomendação pode fazer uma grande diferença na busca pelo emprego e recolocação no mercado.

*Nome alterado a pedido do personagem

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