Olho tremendo por aí? Além de estresse, veja o que mais explica o sintoma
Janaína Silva
Colaboração para VivaBem
21/09/2023 04h00
Meme e até filtro em aplicativo de rede social, o tremor nos olhos tem se tornado queixa comum. Involuntário, o espasmo consiste em contrações do músculo orbicular localizado ao redor dos olhos e é conhecido tecnicamente como mioquimia palpebral.
"É um sinal de estresse e cansaço físico e mental, que ocorre quando a pessoa está sobrecarregada no trabalho ou passando por um momento de vida delicado", afirma Midori H.Osaki, oftalmologista, presidente da SBCPO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular) e professora afiliada do departamento de oftalmologia da Unifesp.
Falta de sono e ansiedade também são causas, assim como excesso de álcool e tabagismo. Além disso, segundo Claudio Lottenberg, oftalmologista e presidente do conselho do Hospital Israelita Albert Einstein, o consumo excessivo de cafeína, seja no café, chá, refrigerante ou bebida energética, pode estimular os músculos e desencadear o tremor.
Confira algumas explicações sobre as principais dúvidas relativas aos tremores que surgem inesperadamente e podem durar de segundos a horas e, ocasionalmente, dias ou semanas.
1. Rara relação com o sistema nervoso
"Muito raramente, espasmos oculares podem ser um sinal de certos distúrbios do sistema nervoso. Quando isso ocorre, o tremor da pálpebra quase sempre é acompanhado por outros sinais e sintomas neurológicos", esclarece Lottenberg.
2. O incômodo costuma afetar apenas um dos olhos ou pode ocorrer nos dois?
O problema afeta sempre uma das pálpebras, geralmente a superior, mas pode ocorrer também na inferior. Segundo os especialistas, são raros os episódios simultâneos na superior e na inferior e do mesmo lado.
3. Óculos desatualizados
"Se a pessoa tiver vício de refração, isto é, o grau de óculos não está correto, pode-se intensificar o problema, daí a importância de ir ao médico oftalmologista para uma consulta", afirma Keila Monteiro de Carvalho, oftalmologista, professora titular de oftalmologia da Unicamp, coordenadora do serviço de estrabismo, oftalmologia pediátrica e visão subnormal do HC-FCM (Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp.
Recomenda-se estar com os exames oculares em dia, principalmente as pessoas que usam o computador o dia todo. "A correção da refração (grau dos óculos) é essencial e evita muitos problemas relacionados ao cansaço ocular", aconselha.
4. Excesso de telas
Cada vez mais, as pessoas passam horas seguidas na frente de um computador, tablet ou celular, daí, nas palavras de Lottenberg, a exposição excessiva à luz das telas digitais provoca fadiga visual e muscular, devido a redução da taxa de piscadas, que leva aos espasmos.
O uso constante exacerba o quadro de olho seco, que é uma condição associada à mioquimia palpebral —e aumenta a frequência dos episódios.
"A falta de lubrificação nos olhos causa, além de irritação, espasmos nas pálpebras", afirma Lottenberg.
5. É possível distinguir o distúrbio de outros problemas?
De acordo com os especialistas, a maioria dos casos de mioquimia palpebral é benigna e não está associada a disfunções graves.
No entanto, Lottenberg lista algumas patologias que podem originar o tremor: esclerose múltipla, enfermidade crônica do sistema nervoso central que pode afetar os nervos que controlam os músculos das pálpebras, doença de Parkinson, síndrome de Tourette e distonia.
6. Se persistir por semanas, pode estar relacionado a outros problemas de saúde?
Os casos de tremor nas pálpebras são esporádicos e passageiros. Sendo assim, é aconselhável investigar se persistirem por meses ou aparecerem em outras áreas da face.
Pode ser também efeito colateral de medicamentos, como o uso de topiramato para tratamento de enxaqueca. "A mioquimia cessa com a suspensão do medicamento", afirma a oftalmologista da SBCPO.
7. Compressas quentes podem ajudar a conter o incômodo?
Não, o ideal são compressas geladas. No entanto, os especialistas afirmam que a solução definitiva é tratar a origem do problema.
De acordo com Osaki, o tratamento consiste em atenuar a carga de estresse, diminuir a ingesta de produtos à base de cafeína, tentar ter um sono mais regular, reduzir o uso de telas (fazer pausas durante o uso) e usar colírios lubrificantes oculares.
8. O botox pode ser usado para tratamento?
Sim, em casos persistentes, pode-se considerar o tratamento com aplicação de botox (toxina botulínica) no músculo responsável pela mioquimia palpebral e que favorece o desconforto significativo.
"A toxina botulínica é injetada diretamente nos músculos das pálpebras, atuando como um bloqueador neuromuscular para controlar os espasmos musculares", descreve Lottenberg.
9. O tremor está relacionado ao blefarospasmo?
A oftalmologista da SBCPO explica que diferentemente da mioquimia palpebral que é unilateral, o blefarospasmo essencial é uma doença que acomete ambos os olhos e é caracterizada por contrações involuntárias dos músculos das pálpebras e da região da glabela —região compreendida entre as duas sobrancelhas.
10. Há relação com o espasmo hemifacial?
Sem causa definida, o espasmo hemifacial consiste em contrações musculares involuntárias de uma metade do rosto. No início, pode apresentar-se como mioquimia palpebral, segundo Osaki.
Dicas para aliviar ou prevenir o aparecimento dos tremores nas pálpebras
Para amenizar o desconforto, é aconselhável fazer pausas se passar longos períodos olhando para telas ou executando tarefas que exijam foco intenso.
Tirar os olhos das telas dos dispositivos a cada 30 minutos e descansar de 2 a 3 minutos.
Usar colírios lubrificantes: olhos ressecados contribuem para os tremores palpebrais.
Restringir ou evitar o consumo de bebidas com cafeína (café, chocolate, bebidas energéticas, chá mate, chá verde, refrigerantes a base de cola e guaraná) e álcool.
Descansar adequadamente.
Evitar o uso do celular antes de dormir, pois pode prejudicar a qualidade do sono.