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Erros para evitar, se você quer que seu filho cresça com boa base alimentar

Imagem: iStock

Isabella Abreu

Colaboração para o VivaBem

22/09/2023 04h00

Uma das responsabilidades mais importantes de pais e cuidadores é apoiar os filhos no desenvolvimento de uma alimentação saudável. Introduzir bons hábitos alimentares desde muito cedo pode ajudar a prevenir a obesidade, melhorar a saúde física e até ter um impacto positivo na saúde mental.

Segundo a nutricionista Thaiane Moulin, especialista em saúde da mulher, criança e adolescente pela UFF (Universidade Federal Fluminense), a alimentação infantil saudável começa ainda na gestação. Ela explica que o bebê sente o sabor salgado, azedo, doce ou amargo da alimentação da mãe através do líquido amniótico, e nesse momento suas preferências alimentares já começam a ser formadas. "Por isso é extremamente importante a mulher ter uma boa alimentação na gravidez, rica em frutas, legumes e verduras", diz.

A formação do paladar do bebê segue durante a amamentação, onde ele também sente o sabor dos alimentos através do leite materno. Depois, aos 6 meses, tem início a introdução alimentar. Ela vai até os 2 anos de idade, e é durante esse período que as suas preferências são consolidadas. "A rotina de alimentação que for seguida durante esse tempo irá moldar a forma como a criança irá se alimentar ao longo da vida. Daí a importância de ter contato com grande variedade de alimentos naturais e não ingerir ultraprocessados, doces e refrigerantes. Sabemos que com o tempo esse tipo de alimento irá aparecer, mas será uma exceção e não um hábito rotineiro", afirma.

Se a criança já passou dos 2 anos e não come bem, é possível reverter esse quadro, ressalta a nutricionista. Para isso, a principal estratégia é a exposição repetida. A criança precisa ter contato com alimentos saudáveis várias vezes, preparados de formas diferentes, em contextos diversos e muitas vezes sem ter a obrigação de efetivamente comer.

Primeiro é necessário que ela crie uma boa relação com o alimento, conheça, tenha curiosidade em tocar, cheirar, para depois comê-lo de fato. "Para criar essa relação, algumas possibilidades são fazer receitas com o pequeno, levá-lo ao hortifrúti ou feiras, jogos e vídeos com temática de alimentação saudável. É importante que o assunto comida não seja tratado apenas à mesa, mas em outros momentos mais descontraídos também", sugere Moulin.

Vale ainda considerar que a partir do segundo ano de vida, a velocidade de crescimento da criança diminui naturalmente e, com isso, diminui também o apetite. "Isso é um fenômeno fisiológico dessa faixa etária, que não deve causar preocupação. O seguimento regular com o pediatra garantirá a vigilância do crescimento da criança, garantindo que essa fase passe sem comprometer o seu desenvolvimento", diz Rosana Tumas, pediatra, nutróloga, presidente do departamento de nutrição da SBSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo).

Preparar o alimento com a criança e levá-la à feira ou ao hortifrúti são boas estratégias Imagem: iStock

Como lidar quando a criança se recusa a comer algum alimento?

Muitas vezes, ao primeiro sinal de rejeição de uma fruta, legume ou verdura, os pais voltam atrás. Na aflição de o filho não comer, eles desistem de oferecer o alimento novo e dão a opção que já sabem que é aceita. "Esse comportamento reforça à criança que ela não precisa dos novos sabores", diz Juliana Araújo, nutricionista infantil formada pela Unifor (Universidade de Fortaleza). A dica é ir introduzindo em pequenas quantidades, até que a criança se acostume com o alimento.

Outra estratégia é que os pais comam o alimento rejeitado na frente da criança e falem características dele enquanto comem (saboroso, crocante, doce, azedo, cremoso, cheiroso). Segundo a nutricionista Thaiane Moulin, isso aguça a curiosidade da criança e faz com que ela tenha mais vontade de experimentar.

"Além disso, pedir para o pequeno escolher entre duas opções saudáveis para colocar no prato dá e ele uma sensação de autonomia que também contribui para melhorar a aceitação. Pergunte, por exemplo: "Hoje você quer comer cenoura ou beterraba?".

Pedir para a criança escolher um legume ou verdura no mercado e preparar uma receita para provar também costuma funcionar. "O importante é ter paciência e não desistir. Não é algo que é resolvido de uma hora para outra, é um hábito novo que precisa ser construído dia após dia", diz Moulin.

Erros para evitar

A seguir, para ajudar os pais na tarefa de regrar a alimentação dos filhos, especialistas listam os erros mais comuns em relação à nutrição infantil.

1. Fazer chantagem, dar prêmios ou punições

Quando você oferece alguma coisa em troca, seu filho associa o comer a algo ruim, mas que precisa fazer para ganhar algo bom, a recompensa. "Isso pode gerar uma relação desequilibrada com alimentos e levar a distúrbios alimentares no futuro", alerta Lenycia de Cassya Lopes Neri, nutricionista do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

2. Oferecer alimentos o tempo todo

É importante ter uma rotina alimentar com horários regulares para refeições. "Fora destes horários somente água deve ser oferecida", recomenda Neri.

3. Permitir que a criança coma na frente das telas (celular, tablet, TV)

Dessa forma, a criança come sem prestar atenção na comida, perdendo a sensação de saciedade. Ela não vai saber a hora de parar e provavelmente vai comer mais do que precisa, o que pode gerar mais risco de obesidade lá na frente.

A dica é ir introduzindo em pequenas quantidades até que a criança se acostume com o alimento Imagem: iStock

4. Forçar a criança a comer

Obrigar a criança a ficar na mesa até comer tudo, desrespeitando o limiar de saciedade, pode criar traumas que influenciarão para toda a vida a relação dela com a comida.

5. Esconder comida saudável no prato da criança

Esconder legumes na comida não faz com que a criança conheça esses alimentos e não melhora a aceitação deles. "Além disso, pode atrapalhar a absorção de alguns nutrientes, como é o caso de cozinhar a beterraba junto com o feijão. A beterraba possui uma substância chamada oxalato, que atrapalha a absorção do ferro presente no feijão", explica Thaiane Moulin.

6. Apelar para o emocional

"Falar frases do tipo 'Vou ficar triste se você não comer tudo' contribui para que a criança crie uma relação ruim com o momento da refeição e também pode fazer com que ela passe a comer mais do que realmente precisa, apenas para agradar os pais", diz Moulin.

7. Colocar rótulos

"Quando você diz 'Ela é chata pra comer' ou 'Ela não come quase nada', a criança vai entender isso com uma verdade e deixar de comer cada vez mais. Não crie rótulos", aconselha Camila Garcia, nutricionista formada pela PUC-Campinas e pós-graduada em saúde e nutrição infantil pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

8. Não dar o exemplo

Os hábitos das crianças são adquiridos principalmente por imitação do que observam na família. Portanto não adianta convencer o pequeno a comer frutas, verduras e legumes, se você não o faz. "Uma mãe que se alimenta bem terá maiores chances de ter um filho com hábitos alimentares saudáveis", pontua Rosana Tumas, da SPSP.

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