Empresa que imprimia órgãos em laboratório cria salmão vegano; é saudável?
Já pensou em comer um salmão vegano e feito em impressora 3D? Agora isso é possível, ao menos em alguns mercados da Europa que receberam o The Filet ("O Filé"), um produto feito principalmente à base de uma microproteína derivada de um fungo filamentoso, mas que também contém proteína de soja.
A invenção foi feita pela Revo Foods, startup austríaca de foodtech fundada em 2020, que tem como foco fabricar produtos inspirados em carnes de peixes, mas produzidos com ingredientes 100% vegetais.
Com a ajuda da tecnologia de impressão, a startup consegue reproduzir a consistência do alimento quase como a da carne de verdade. O preço da embalagem de 130 gramas é 6,99 euros [aproximadamente R$ 36], e é possível comprar online, com entrega para Áustria e Alemanha.
Em entrevista exclusiva ao VivaBem, Robin Simsa, doutor em biotecnologia e pesquisa em carne cultivada e fundador da Revo Foods, conta que o foco inicial da companhia era biotecnologia voltada para a saúde humana, mas o ramo do negócio acabou mudando um pouco.
Viemos do campo da bioimpressão e estávamos focados na impressão de órgãos em laboratório antes. No entanto, vimos os problemas ambientais da indústria de frutos do mar (por exemplo, a pesca excessiva) e decidimos verificar se a tecnologia de impressão 3D poderia levar a produtos muito mais realistas, o que se mostrou verdadeiro no final. Robin Simsa, CEO da Revo Foods
O Salmão 'impresso' é saudável e tem o mesmo gosto do 'original'?
De acordo com a empresa, o produto é rico em aminoácidos e proteínas, além de contar com vitamina A, B2, B3, B6, B12 e D2 e não conter açúcar, glúten ou colesterol em sua composição.
Quando se fala em sabor, Simsa é sincero e afirma que o salmão impresso não se assemelha 100% ao salmão real. "Mas nenhum outro produto vegano do mundo se assemelha ao produto animal", diz.
"Ainda assim, [nosso salmão] é um ótimo produto que tem um sabor muito parecido com o salmão. Estamos confiantes de que vamos melhorar o produto ao longo do tempo, pois este é apenas o nosso primeiro produto após três anos de desenvolvimento", afirma.
De acordo com Maria Fernanda Francelin Carvalho, engenheira de alimentos e doutora em ciência de alimentos pela Universidade Estadual de Maringá, o processo de impressão 3D de alimentos não necessariamente traz impactos negativos à saúde.
"Todas as matérias primas são provenientes de elementos comestíveis. As únicas alterações são palatabilidade e textura que são ajustadas e adequadas conforme desejo do fabricante", explica Carvalho.
Simsa defende que, em termos de saúde, o salmão impresso não contém microplásticos ou metais pesados. "Que infelizmente estão cada vez mais presentes em frutos do mar convencionais", afirma.
Carvalho aponta ainda que com a técnica é possível manipular alimentos de forma que fiquem ainda mais nutritivos.
"Não podemos determinar quanto tem de vitamina C em uma laranja com exatidão. Mas, no caso da impressão 3D, podemos manipular as fibras, a textura e nutrientes que possam ser mais facilmente absorvidos, logo, não há prejuízos salutares na ingestão deste tipo de alimento", afirma a engenheira de alimentos.
Mas qual o benefício de imprimir alimentos?
No caso específico da Revo Foods, a startup alega que, até agosto de 2023, sua produção contribuiu para a preservação de 18.908 peixes e afirma que seus métodos utilizam 95% menos água e produzem de 77% a 86% menos emissões de CO2 em comparação com a produção tradicional de salmão.
Do Brasil, Carvalho afirma que algumas empresas também já iniciaram a produção de alimentos da mesma forma, ainda que em um mercado nichado, como o de veganos e vegetarianos, mas olha o movimento de forma positiva e capaz de responder questões da segurança alimentar.
"Para um cenário de segurança alimentar real, novas alternativas produtivas de alimentos, assim como a distribuição mais uniformizada no globo, esse é um processo que pode sim trazer inúmeras soluções aos problemas de sustentabilidade global, além de diminuir a fome global", defende a engenheira de alimentos.
Já Simsa, além de afirmar que essa é uma forma de continuar amando frutos do mar, mas protegendo o meio ambiente, é também uma escolha mais lógica, em comparação com a produção de proteína animal.
"Todos os animais são muito ruins na conversão de nutrição vegetal em proteína ou massa corporal. Por exemplo, uma vaca deve consumir 30 calorias de nutrição vegetal para produzir uma caloria de massa para consumo humano. Em outras palavras: você pode alimentar um humano com uma vaca ou 30 humanos com nutrição vegetal", afirma o CEO da Revo Foods.
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