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Ela descobriu que estava grávida de gêmeas siamesas: 'Fiquei sem reação'

Imagem: Arquivo pessoal

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

24/09/2023 04h05

Quando estava grávida de oito semanas, Renata da Silva, 37, de Sumaré (SP), foi surpreendida junto com o marido, durante um ultrassom de rotina, de que teriam duas bebês, mas por elas estarem muito perto uma da outra provavelmente seriam gêmeas siamesas. A partir desse momento, a vida do casal, que já tem outras duas filhas, mudou completamente.

"A hipótese de Alice e Luna serem gêmeas siamesas foi levantada em novembro de 2022, com uma ultrassonografia, mas a confirmação médica só veio de fato às 12 semanas de gestação, com a repetição desse exame. Era a minha terceira gravidez. Eu e meu marido, Marcel, estamos juntos há 17 anos e somos pais da Camilli e da Lara, de 19 e 10 anos, respectivamente."

Nesse período, da espera, ficamos apreensivos, depois, com a confirmação, sem reação, muito preocupados e com medo. Fomos informados de que as gêmeas estavam unidas pela barriga, compartilhando o fígado. Renata da Silva

Além disso, por conta do diagnóstico, Renata não tinha obstetra para cuidar da gestação. Só depois do quarto mês e de vários 'não' é que conseguiu um.

Até então, todo o pré-natal e acompanhamento médico era realizado em Campinas (SP), cidade próxima de onde a família mora. Depois, com 30 semanas de gestação e por indicação do obstetra, Renata passou a ser atendida também via telemedicina por uma equipe hospitalar multidisciplinar (medicina fetal, obstetrícia, neonatologia, cirurgia pediátrica), de São Paulo.

Imagem: Arquivo pessoal

"Apesar de tudo e da dificuldade em lidar com o emocional nos primeiros meses, a gestação das gêmeas foi tranquila, normal, igual às anteriores. Assim que nasceram, foi uma sensação de alívio ao ver que as duas estavam bem, os prognósticos diários eram positivos, e sabíamos da boa assistência que continuariam a receber das equipes médicas envolvidas", conta.

Renata relembra que com 31 semanas de gestação foi para São Paulo ser internada para avaliações pré-operatórias. Em 29 de maio último, com 34 semanas de gestação, Alice e Luna nasceram, de cesariana e pesando, em ordem, 1,743 e 1,742 kg. Cerca de 20 profissionais participaram do parto.

Após o parto, as gêmeas foram encaminhadas para uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal, onde permaneceram por 12 dias. Passado esse tempo, foram transferidas para um quarto de desenvolvimento assistido individualizado, onde ficam os bebês que têm quadro estável e em geral estão próximos da alta, e que serve de transição entre o hospital e sua casa.

Nesse espaço, Renata e Marcel puderam aprender na prática os cuidados mais delicados, com supervisão, até sentirem-se confiantes e preparados se virarem sozinhos.

Em 22 de junho, após 25 dias internadas, as bebês receberam alta e a família retornou para sua cidade, onde segue o acompanhamento conjunto com o médico de Campinas e a equipe do hospital de São Paulo.

"No início, fiquei insegura com a nossa adaptação às gêmeas. Mas, com a orientação recebida foi mais fácil. O que muda é que precisa ter um pouco mais de cuidado, principalmente ao dar banho e carregá-las, por serem duas ao mesmo tempo e com isso a atenção aumenta. Também na hora de dar a mamadeira, mas normalmente tenho a ajuda de alguém nesse momento", explica a mãe.

Tivemos ainda que adaptar a cadeirinha do carro. No começo elas cabiam, mas agora que estão crescendo, não mais. Então, aos poucos, vamos nos ajustando. Hoje elas têm três meses e a cirurgia de separação está prevista para outubro de 2023, quando estarão com quatro para cinco meses. A apreensão continua, mas acreditamos que tudo dará certo, temos fé em Deus. Renata da Silva

Gêmeos siameses e cirurgia de separação

Carlos Alberto Politano, doutor pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, foi o ginecologista e obstetra que aceitou conduzir o caso das gêmeas siamesas Alice e Luna. Ele explica que esse tipo gestação, de fetos conjugados, ocorre a cada 100 mil partos e o mais frequente é eles estarem unidos pelo tórax ou abdome.

"Gestação de fetos conjugados requer cuidado especial e acompanhamento ainda mais próximo. Consultas, exames laboratoriais e, principalmente, controle ultrassonográfico num serviço que tenha experiência com gestação de alto risco devem ser mais frequentes do que quando em gestações únicas ou múltiplas", explica Politano.

Imagem: Arquivo pessoal

Segundo ele, a ultrassonografia faz diferencial no pré-natal, pois define o comprometimento e compartilhamento dos órgãos.

Quanto à cirurgia de separação, Pedro Muñoz Fernandez, chefe do setor de cirurgia neonatal do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP), onde as gêmeas nasceram e farão tal procedimento, dá mais detalhes: "Trata-se de uma cirurgia complexa e que envolve riscos anestésicos e cirúrgicos. O órgão em comum que será separado é o fígado, em duas partes. Agora, não seria possível se as gêmeas siamesas fossem unidas por um órgão vital único, como o coração", explica.

A seguir, será feito o fechamento da pele do abdome. Mas, como não será possível fazer o mesmo por completo com a musculatura e será colocada uma tela para fazer o fechamento, elas poderão precisar de nova cirurgia para corrigir uma hérnia de parede abdominal no futuro. "Essa hérnia, porém, não impede a vida saudável das gêmeas, que poderão ser crianças felizes", diz Fernandez.

Entretanto, o cirurgião ressalta que todo o sucesso depende da necessidade de uma grande estrutura hospitalar, não somente com equipe de anestesia e cirurgia, mas também com enfermagem experiente e UTI neonatal de alta qualidade, com profissionais de elevada formação, pois o pós-operatório a curto e médio prazo é extremamente complexo e delicado.

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