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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Morte é natural, então por que é tão difícil aceitar? A ciência explica

Uma das teses é que o luto possui uma função adaptativa Imagem: Pixabay

De VivaBem, em São Paulo*

25/09/2023 04h00

Convivemos com o inevitável ciclo da vida há quase 200 mil anos —estimativa da presença do Homo sapiens na Terra— mas ainda não conseguimos lidar muito bem com a ideia de morrer, ou perder uma pessoa querida.

Às vezes, sofremos até mesmo com a morte de pessoas que não conhecemos pessoalmente, como um artista ou atleta famosos. Se a morte é algo natural, o que explica tamanha dor?

A psicologia evolucionista, que analisa aspectos da mente e do comportamento sob o prisma da adaptação do homem na Terra, não tem uma resposta definitiva para essa pergunta. Mas estudiosos tentam lançar luz sobre o tema.

Uma das teses é que o luto possui uma função adaptativa. Assim como uma dor forte no lado esquerdo do peito chama a atenção para um possível infarto, o pesar profundo no coração pode deflagrar o restabelecimento de prioridades, o cuidado pelos que ficam e consigo próprio.

Outra linha de pensamento, porém, enxerga o luto como uma "má adaptação" —o que explica a redução do desejo sexual, da fome e da imunidade após a perda de alguém querido. Sofrer pela morte de outra pessoa é um efeito colateral do modo como o ser humano se relaciona amando e se apegando a outros seres.

A ideia de que a dor do luto é um mal necessário para a valorização da vida é reconfortante, mas não faz ninguém sofrer menos. E nem mesmo os bichos escapam desse terrível efeito colateral do apego. Há registros de animais de estimação que vivem processos de luto, e podem ficar tristes, sem comer ou até morrer após a partida do tutor.

Fases do luto

Uma mulher joga cinzas de um ente querido no mar; a duração do luto é indefinida Imagem: Getty Images

Quanto maior o apego, maior o sofrimento do luto. Geralmente, ele pode ser dividido em quatro fases:

A primeira é a de choque ou entorpecimento, em que ainda é difícil acreditar no que aconteceu e, por isso, a dor é menor.

A segunda é a de anseio e busca pela figura perdida, que gera desânimo e choro.

Na terceira, vem a desorganização e o desespero.

Na quarta, a reorganização e a retomada da normalidade.

O sofrimento humano é dimensionado pela pessoa segundo aspectos pessoais, características de personalidade e histórias vividas. A primeira fase do luto pode durar até uma semana, mas não é possível prever o tempo de duração das outras. Tudo depende dos recursos internos de cada um e da relação com a figura perdida, entre outras questões.

A cultura tem influência forte ao autorizar ou não certas manifestações da dor e oferecer rituais de proteção ao enlutado que são coletivas. Deve-se levar em conta, também, questões religiosas na manifestação do sofrimento.

Fontes: Randolph Nesse, professor do Centro de Evolução e Medicina da Universidade do Arizona, nos EUA; John Archer, pesquisador da Universidade Central de Lancashire, no Reino Unido; Maria Julia Kovács, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).

* Reportagem publicada originalmente em 2015

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