Virna ficou 'em choque' após morte de Wal: como lidar com suicídio

Uma das melhores amigas de Walewska, Virna lamentou a morte trágica da campeã olímpica. Em conversa com o UOL na COB Expo, a ex-atleta disse que ficou dois dias sem dormir após o ocorrido, e que a morte da amiga ligou um sinal de alerta nela.

A gente tem que abraçar o próximo. A gente tem que estar ligado nos gatilhos que às vezes as pessoas deixam. Eu tenho filhos pequenos e constantemente eu converso. Contei para eles da minha dor, falei que uma amiga da mamãe tinha ido embora. Eu falei pros meus filhos: 'Tudo que vocês sentirem, contem pra mamãe'. E com amigas também. Isso despertou em mim muitas coisas. Temos que estar atentos à vida.
Virna, ex-atleta

Como lidar com o luto?

Falar sobre luto por suicídio é importante para evitar novos casos. Por ser uma perda rodeada de estigmas, pontos de interrogação, ausência de despedida e, por vezes, sensação de culpa, o luto desses casos pode vir junto de características traumáticas.

As pessoas têm uma dificuldade enorme em lidar com a morte. E, no caso da morte autoimposta, essa dificuldade é multiplicada e gera uma busca por uma explicação imediata ou culpados. Por isso, o suicídio coloca o sobrevivente enlutado em uma situação particularmente cruel, com mais julgamento do que o necessário acolhimento.

Embora estejamos acostumados à teoria de Elisabeth Kübler-Ross, das chamadas Cinco Fases do Luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação), é importante saber que o luto não é linear e nem recebe um ponto final após uma teórica aceitação.

O movimento de reconstrução é pendular: ora estamos mais voltados para a perda, ora estamos mais orientados para a restauração. Ou seja: haverá momentos de mais reclusão, choro e questionamentos, por exemplo, e outros de desejo de restabelecimento.

Por vezes, essas manifestações de restauração são mal interpretadas pelo senso comum. Há leituras de que a pessoa enlutada não está sofrendo, de que está tentando apagar o que aconteceu ou mesmo que estaria em uma suposta negação. Na realidade, todo o conjunto faz parte.

Como acolher?

Quando alguém próximo morre por suicídio, o enlutado ouve a mesma pergunta: "Por quê?". Parte-se do pressuposto de que aquela morte era previsível e poderia ter sido evitada. O questionamento vem tanto de quem está de fora como do próprio enlutado. Nesse caso, não se acolhe, julga-se.

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Numa morte por suicídio, o foco social é no ato. As pessoas querem saber como aquela morte aconteceu e canalizam seu interesse na circunstância, em vez de prestar apoio a quem está abalado com a perda. Por isso, é muito importante abrir a possibilidade de legitimar os sentimentos do enlutado, cuidar da pessoa e ajudá-la a lidar com o estigma social.

Os especialistas são unânimes sobre a necessidade de falar sobre o assunto. No país, existem inclusive alguns grupos que se reúnem para trocar experiências e para que os sobreviventes se apoiem mutuamente.

Viuvez masculina

Como é o caso do corretor de imóveis e ex-preparador físico Ricardo Alexandre Mendes, viúvo de Walewska, a viuvez masculina também é um assunto tabu.

Uma pesquisa recente realizada na Dinamarca mostra que homens viúvos têm 70% mais risco de morrer do que aqueles que não passaram pela perda da esposa. No caso das mulheres, 27% se tornaram mais propensas à morte do que as que não ficaram viúvas.

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Não é correto afirmar que as mulheres sentem mais os efeitos do luto do que os homens. No entanto, há diferença na expressão desse luto. Homens sentem assim como as mulheres, sofrem como elas, mas socialmente aprendem sobre silenciar as emoções.

Procure ajuda

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil

Fontes: Erika Pallottino, psicóloga especialista em perdas e luto; Luciana Rocha, psicóloga e terapeuta que se especializou no luto por suicídio depois de ela mesma ter perdido o marido dessa forma; Neury Botega, pesquisador do tema na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Maria Helena Pereira Franco, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Maria Julia Kovács, professora do Laboratório de Estudos da Morte da USP.

*Com reportagens publicadas em 08/12/2015, 31/03/2022 e 16/08/2023

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