Vida ativa e amigos: existe fórmula para uma velhice de sucesso?
A população idosa no Brasil aumentou quase 5% em uma década, de acordo com um levantamento do IBGE feito em 2022. O avanço da medicina e novas tecnologias permitem que a gente viva por períodos mais longos. E se vamos ficar mais tempo por aqui, é importante que envelheçamos da melhor forma possível.
Ines Pacheco, 93, faz musculação três vezes por semana. Os exercícios começaram em 2005, por recomendação médica, para ajudar no tratamento da artrose no quadril. E o que não falta é disciplina: seis semanas depois de fraturar a bacia após uma queda, ela estava de volta à sua rotina.
"Depois de uma certa idade a gente vai fazer o que em casa?", questiona Inês. Ela afirma gostar muito de encontrar as amigas e as pessoas da academia, que são como uma família. Além dos exercícios, ela dedica seu tempo ao trabalho voluntário.
Segundo Ivan Masiviero, geriatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, manter relacionamentos durante a velhice é fundamental para o bem-estar das pessoas idosas.
Não precisa ser só da família, pode ser de amigos também. Um estudo recente de um colega da Unicamp mostrou que os idosos têm uma sensação de solidão muito grande e 30% dos casos leva à depressão. Ivan Masiviero, geriatra da BP
Masiviero não é o único a acreditar nisso. Um estudo na Universidade de Queensland, na Austrália, publicado em 2022 e feito com quase 8.000 mulheres durante um período de 20 anos, mostrou que relações sociais, sejam com parceiro, família, amigos ou colegas de trabalho, diminuem a quantidade de comorbidades crônicas a longo prazo.
O casal Lourdes de Abreu, 87, e Fernando Alves, 91, juntos há 66 anos, reforçam essa teoria. "Temos uma cumplicidade que quando ele está sentado, sei no que está pensando", diz Lourdes. "É uma benção na vida estarmos juntos e muito bem de saúde, fazendo nossa fisioterapia e caminhadas", completa. O casal faz parte do Qualiviva, programa de experiências de bem-estar da Qualicorp.
Para Liliane Pace, diretora de Inteligência Médica da Qualicorp, a vida ativa faz com que as pessoas se preocupem mais com o seu bem-estar para acompanhar seus compromissos. "Nosso maior desafio com os idosos que moram sozinhos é manter o convívio familiar, que é importante, e uma rede de amigos, para que eles tenham estímulos. Precisamos ter algo que nos dê vontade de sair da cama", explica.
Nanci Barrio, 76, e Antônio Barrio Junior, 86, também fazem parte do programa Qualiviva. O casal se conheceu em 1971 na empresa em que trabalhavam. Estão juntos desde então e se tornaram, para os filhos e amigos, um exemplo de casal feliz.
"O segredo é o jeito de levar a vida, aproveitar as coisas como elas são, criar experiências novas. Acho que foi o relacionamento com a Nanci que me trouxe até aqui", diz Antônio.
"O idoso já está em uma fase da vida em que tem menos responsabilidade. O desafio é se manter na ativa e estimulado para que nada aconteça", diz Liliane Pace.
Segundo especialistas, doenças são inevitáveis, e é preciso se preparar para tratá-las, mas ficar ativo é primordial.
Ter relacionamentos é mais importante do que tomar remédio. Isso é o que vai fazer a pessoa viver melhor. Liliane Pace, diretora de Inteligência Médica da Qualicorp
'É velho mesmo'
Sonia Massara, 85, e Gilda Bandeira de Mello, 81, são amigas há 60 anos. Elas decidiram levar as conversas que tinham na mesa do bar para o YouTube e criaram um canal na rede social em 2018. Passados cinco anos, o "Avós da Razão" tem quase 100 mil inscritos e um livro que leva o mesmo nome publicado pela Editora Planeta.
"Nunca nos assustamos e nos preparamos para a velhice. Fomos nos adaptando", disse Gilda em entrevista a VivaBem. Para ela, tanto o encontro com as amigas quanto o canal fazem muito bem à saúde mental e física. "É bom ter com quem dividir essa parte da vida. Nossos filhos e netos têm a vida deles e temos liberdade e autonomia para ter a nossa. Não dependemos de ninguém", conta.
Um dos objetivos delas é mostrar que "velho" não é um xingamento e que não precisamos de meias palavras para falar sobre idade. "Quando falam 'terceira idade' parece que estamos chegando a um final, que depois dela não tem mais nenhuma. Eu vou para a quarta e quinta!", diz Sonia.
Segundo elas, quem é velho pode fazer o mesmo que qualquer outra pessoa, inclusive transar e ir a encontros. "Podemos tudo, menos a parte atlética. Falam que a gente não pode dirigir, mas a autonomia é importante. Não são só os velhos que batem carros", diz Gilda, que diz usar aplicativo de relacionamento,
"Podemos fazer sexo quando encontramos um parceiro. A gente tem vontade de tudo, nada muda. Caiu na rede é peixe", reforça Sonia, rindo.
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