Não é só câncer de pulmão: como poluição também causa doenças no coração
Em Marrakech, cidade marroquina que sedia a segunda edição da Conferência Africana sobre Redução de Riscos para a Saúde, vê-se de longe a faixa de poluição.
Dados da OMS mostram que quase toda a população global (99%) respira um ar que excede os limites de poluentes impostos pela organização. Países com renda baixa e média são os com maior exposição.
É óbvio que inspirar esse ar faz mal ao sistema respiratório, causando câncer de pulmão inclusive a quem nunca fumou, segundo o cardiologista e professor Hany Neamatalla, do Egito, que se apresentou na conferência africana na sexta-feira (29). Mas a exposição a esses poluentes também pode causar doenças do coração.
"As partículas são capazes de penetrar os pulmões e entrar na corrente sanguínea", disse o professor. "A exposição à poluição aumenta a mortalidade e morbidade. Aumenta a formação e progressão de ateroma [placas de gordura], provoca ataques do coração, eleva a pressão arterial."
Um estudo realizado pela Universidade Yale (EUA) e publicado em 2020 mostrou que a exposição a partículas ultrafinas presentes na poluição do ar gera um aumento de quase 6% no risco de sofrer um ataque cardíaco não fatal.
Mudanças climáticas trarão mais doenças
Neamatalla disse que, no caso da poluição, o ideal seria lutar contra a exposição contínua a essas partículas, plantar árvores e apoiar iniciativas que têm como meta melhorar a qualidade do ar. Entretanto, a poluição do ar só tende a aumentar, e com ela a quantidade de doenças a que estamos expostos.
Nicaise Ndembi, virologista etíope e conselheiro científico sênior da direção do CDC Africano, disse na conferência que o aquecimento global está acontecendo —a exemplo das inundações na Líbia, que deixaram 3.893 mortos, segundo o último balanço provisório do governo—, e que a mudança climática está afetando as características biológicas de patógenos.
"O aumento das temperaturas e das precipitações promovem doenças infecciosas, das provocadas por vetores até infecções entéricas e diarreia, passando pelas parasitárias como esquistossomose", disse Ndembi
Além disso, a mudança climática tem forçado algumas espécies de animais a novos habitats, aumentando as oportunidades de contato com os humanos e o risco de zoonoses.
É como se provocássemos a própria extinção. Para avançarmos no que consideramos evolução, poluímos, desmatamos e chegamos mais próximo da devastação não só do planeta, mas de nós mesmos.
"A solução seria caminharmos juntos, humanos, animais e meio ambiente, com agricultura sustentável. Um sistema que ajude a todos", disse o virologista.
*A jornalista viajou a convite da organização da Conferência Africana sobre Redução de Riscos para a Saúde.
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