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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Brigar de forma gentil? Comunicação não violenta ajuda a resolver conflitos

Imagem: iStock

Isabella Abreu

Colaboracao para o VivaBem

02/10/2023 04h00

"Embora possamos não considerar 'violenta' a maneira que falamos, nossas palavras não raro induzem à mágoa e à dor", dizia o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg. Com o objetivo de propor uma nova forma de se relacionar, ele criou o conceito da comunicação não violenta, que apresenta ferramentas para superar os desafios que são causados pela forma como nos comunicamos.

Segundo Iane Ventura, psicóloga formada pela Universidade Tiradentes, de Aracaju (SE), a comunicação não violenta é sobre a qualidade nas nossas conexões. "Quando você interage com alguém com pouca empatia, só vai conseguir acessar o superficial desse ser humano. Quando essa interação é violenta, nem o superficial é possível acessar, porque a violência só causa distância", afirma.

Ela explica que uma divergência só pode ser realmente resolvida quando acessamos profundamente o outro e esse acesso tem apenas um caminho: a comunicação gentil, sincera e não violenta.

Quando uma conversa está sendo guiada pela gentileza e compreensão na fala, o outro escuta com mais atenção e fica mais fácil resolver conflitos. Quando a comunicação é honesta e respeitosa, tudo fica mais objetivo e produtivo, porque não se perde tempo com insultos. Iane Ventura, psicóloga

A psicanalista Elisama Santos, autora de "Vamos Conversar", lançado recentemente pela editora Record, diz que comunicação não violenta não é um mero método para lidar com os conflitos, mas sim um jeito de ver a vida, um convite para mergulhar nas conversas com desejo genuíno de cuidar do que importa para si e para o outro na relação. "É escutando a nós mesmos e ao outro que podemos estabelecer o que negociável e o que é inegociável, que saímos do ciclo de busca de culpados e mocinhos que nos habituamos em nossos diálogos."

Como se comunicar de uma forma não violenta

De acordo com Ventura, é importante entender que tudo o que você sente é sobre você, então, na hora de levar alguma demanda para o outro, em vez de acusar, você pode expressar como você se sentiu com a situação. Ou seja, em vez de falar "Poxa, você está sempre atrasado", tente "Eu me sinto muita frustrada todas as vezes que você atrasa, porque eu me organizo para estar aqui no horário e sinto que meu tempo é desrespeitado".

"Parece algo bobo, mas já reparou quantas vezes a gente acha que o é que importante pra nós está óbvio nas relações, mas na realidade não está? Quem disse que a sua esposa sabe que a terça é um dia mais tenso para você, se você não contar? Quem disse que os motivos do seu incômodo com a fala da sua irmã estão nítidos? As nossas posturas mudam quando olhamos para as situações com o cuidado que pedem", diz Santos.

Outra sugestão é primeiro escrever o que você gostaria de dizer do jeito que está vindo na mente, isso irá aliviar o sentimento e ajudar a elaborar. Depois, pergunte-se: Qual o melhor jeito de falar isso?.

Toda situação desafiadora é uma oportunidade de desenvolver nossas habilidades e, assim, fortalecer nossos vínculos. Quando problemas são tratados, eles nos deixam mais fortes e atentos. Quando não, eles nos adoecem internamente, alimentando padrões disfuncionais. Isso é muito perigoso para nossa vida como um todo. Iane Ventura, psicóloga

Dificuldade de dizer não

Muito provavelmente você já esteve em uma situação em que gostaria de ter dito não, mas evitou dar uma resposta negativa e acabou fazendo algo que não queria. Flavia Amorim, sócia do Instituto CNV Brasil, escola de comunicação não-violenta, explica que essa dificuldade vem do fato de que somos seres sociais, e uma das formas mais seguras de sobreviver no contexto em que estamos é pertencer a um grupo.

"Fugir de conflitos, evitar dizer 'não' ou priorizar a harmonia em relações são apenas estratégias para sustentar esse pertencimento", esclarece Amorim.

No entanto, não negar tem sempre um preço. Para a especialista, o principal prejuízo está naquilo que deixamos de cuidar quando dizemos sim querendo dizer não. "Por exemplo, o que você não cuida quando aceita mais uma demanda de trabalho? Talvez sua organização, a qualidade da sua entrega e sua saúde mental sejam comprometidas quando você faz essa escolha", diz Amorim.

A recomendação é: antes de dizer aquele sim automático, pare por alguns segundos e reflita sobre o que legitima o seu não. "O que você cuida se disser não? Saber isso lhe trará mais facilidade de negar um pedido de maneira cuidadosa e autêntica", afirma.

A ideia de evitar o conflito é muito sedutora, pois resolve um problema no momento, deixamos de entrar em uma briga ou de gerar algum tipo de incômodo e isso parece ótimo. Mas os impactos futuros dessa ação podem ser devastadores. Flavia Amorim, sócia do Instituto CNV Brasil

Quem prefere optar pelo sim sempre já deve ter percebido que, em algum momento, o ressentimento por ir além de seus limites aparece. "A sobrecarga de atividades e preocupações também pode atingir uma proporção que ameaça a saúde mental e emocional. A negligência de suas próprias necessidades pode chegar a um ponto que leva à raiva, apatia e ao desgosto da vida. No final das contas, colhemos impactos em nossa saúde e acabamos por ter relações extremamente machucadas, não vale a pena em longo prazo", diz.

Santos lembra que, além da curiosidade, que considera a nossa maior aliada nas conversas, precisamos de disposição. De acordo com ela, conversas, sobretudo as mais difíceis, geram incômodos. Precisamos nos dispor a viver esses incômodos focando na construção de uma vida melhor. "Sempre comparo as conversas difíceis com reformas. A gente precisa lidar com a poeira e o barulho para ampliar os espaços e a vida. Escutar a nós e ao outro não é fácil. Não escutar também não. Que difícil vamos escolher?"

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