De ladinho, tesoura: guia sexual 'ReumaSutra' traz alivio para quem tem dor

Praticamente todas as doenças reumatológicas apresentam dor, limitação articular e fadiga como sintoma. Com isso, a atividade sexual pode ficar realmente prejudicada. Ana Júlia Bicalho, reumatologista e professora da FCM-MG (Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais)

Dor no quadril? 'ReumaSutra' te ajuda

Mas isso não quer dizer que pessoas com dor não possam transar. Pelo contrário, é, sim, possível ter uma vida sexual ativa e saudável. A SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia) criou uma cartilha com posições que podem facilitar no momento de prazer —os especialistas batizaram o guia de "ReumaSutra".

O tema parece bobagem, mas não é. Os médicos não falam com os pacientes sobre sexo, e os pacientes não falam com os médicos. Mas precisamos conversar sobre isso. Com um reumatologista, e ajuda de um ginecologista ou urologista, é possível adaptar a vida das pessoas para que elas tenham uma vida sexual ativa e saudável. Rita Nely Furtado, reumatologista e coordenadora da Comissão de Procedimentos da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia)

Confira 5 posições para o sexo

Apesar de o foco da cartilha ser para pacientes com artrite, as posições sugeridas podem ajudar outras pessoas que sofrem com doenças parecidas, que costumam causar redução da amplitude de movimento do quadril, principalmente.

1. Papai e mamãe

Quem sente dor no quadril, fica embaixo. A posição evita que a pessoa faça movimentos bruscos no quadril, além de flexionar o joelho ou mover bruscamente a coluna. Com isso, a pessoa que sente dor consegue repousar membros superiores e inferiores.

As duas imagens mostram variações da posição —quem tem dificuldade na movimentação do quadril fica deitado (a).

2. De lado

A posição reduz a amplitude do movimento do quadril e dos joelhos, facilitando o alongamento da lombar. O posicionamento do corpo é bom para quem tem dor, tanto nos membros superiores, como nos inferiores.

O posicionamento em decúbito lateral permite que o paciente reduza o esforço necessário para a sustentação do corpo durante a atividade sexual. Além disso, o alinhamento articular da coluna, do quadril e do joelho pode ser mantido com o auxílio de almofadas e travesseiros, o que possibilita a redução da dor. Autores da cartilha

3. Pernas cruzadas

A posição é ótima para quem tem restrição à mobilidade do quadril e dos joelhos. Além do conforto proporcionado pela redução do movimento, o posicionamento do corpo permite reduzir o esforço necessário para a manutenção da postura. Todo o peso corporal fica em repouso.

4. De costas, com apoio

Com apoio da cama ou de móveis, o paciente consegue colocar o peso nos objetos, resultando em menos gasto energético e reduzindo a mobilidade do quadril e dos joelhos. As posições são opções simples que podem ser adotadas em diversos estágios da doença.

5. Tesoura

Uma das dicas da Lilian Fiorelli, ginecologista especialista em sexualidade feminina e uroginecologia pela USP, é a posição de tesoura, na qual as duas pessoas estão afastadas, com as pernas cruzando como se fossem tesouras.

Essa opção é boa para quem tem dores na região dos membros superiores. Quem está embaixo evita fazer grandes movimentos na região acima do tronco.

"Umas das vantagens é a estimulação do clitóris com auxílio das coxas do parceiro ou parceira (...) Lembrando que as posições em que a pessoa fica deitada são as mais favoráveis para quem tem dor", explica a especialista.

Além das posições: veja dicas para evitar dor durante sexo

Se a pessoa sente mais dores nas pernas, é preferível evitar posições que exigem mais dos membros inferiores; é possível usar mais os braços, mesmo que deitada, oferecendo abraços e beijos ao outro. Nesta situação, o parceiro (a) pode ficar "responsável" por usar mais as pernas.

Nada de forçar os braços, por exemplo, e se "pendurar" na outra pessoa, se o desconforto estiver nos membros superiores.

Dor nas costas e no quadril: prefira as posição em que esteja deitada em um lugar confortável.

Há quem sofra mais enquanto está deitada: opte por posição em que você fique sentada ou em pé.

A partir do momento que ela vê que é capaz e que o corpo dela funciona do ponto de vista sexual, ela acredita mais no potencial. Do ponto de vista sexual, o paciente com dor crônica, seja qual for a causa, tem sua via de prazer da excitação, do orgasmo. Tudo está tudo intacto, é só relaxar e deixar fluir. Lilian Fiorelli, ginecologista especialista em sexualidade

O que mais ajuda na hora do sexo? Médicas contam

Faça o tratamento da doença. Após diagnóstico, é fundamental seguir o tratamento corretamente, como uso de medicações e prática das terapias aliadas, dependendo do caso. Se o sexo for um problema, é importante conversar com o médico.

Converse com seu parceiro ou parceira, pois algumas pessoas podem achar que a dor é "exagero", por exemplo. Leve-o para consultas, mantenha uma boa comunicação e, caso seja necessário, procure terapia de casal.

Escolha bem os dias da transa. Se em alguns momentos as demandas da vida ficam mais pesadas, causando mais desconforto e fadiga, é fundamental optar pelo sexo em dias mais tranquilos e menos estressantes.

Banho morno pode ajudar a relaxar a rigidez e as dores no corpo antes do sexo.

Analgésico ou relaxantes musculares antes do sexo, caso a médica dê a orientação, podem ajudar no controle da dor e favorecer momentos de mais prazer no sexo.

Mudanças na libido? Conte para o seu médico se alguma medicação envolvida no tratamento da dor crônica, como os antidepressivos, está afetando sua vida sexual. Se esse for seu caso, é sempre possível encontrar outras opções melhores para você.

Considere o uso de lubrificantes caso tenha secura vaginal —ela é mais frequente com uma doença reumatológica conhecida por síndrome de Sjögren. Portanto, converse com o médico.