'Desengasgador' viraliza, mas manobra de Heimlich ainda é mais indicada

É angustiante ver uma pessoa se engasgar. A situação pede uma atitude rápida para salvar quem está com um corpo estranho entalado na garganta.

A cada ano, estima-se que ocorram cerca de 3 mil mortes no Brasil por causa do engasgo. A maioria das vítimas é criança, mas muitos adultos e idosos também fazem parte da estatística.

Vídeos que circulam na internet mostram crianças engasgadas sendo salvas por um produto chamado de "desengasgador". A aparência dele lembra um desentupidor de pia e, uma vez acoplado ao rosto da pessoa, o vácuo faz com que o corpo estranho que impede a passagem de ar seja removido.

No Brasil, a Anvisa autorizou a venda de um dos produtos criados para ajudar nesses momentos, o LifeVac. O dispositivo foi criado nos Estados Unidos e, aqui no país, é vendido pela Sterifarma Produtos Cirúrgicos.

O que dizem os especialistas?

Médicos consultados por VivaBem explicam que, apesar de a premissa do produto ser válida, há uma carência de estudos científicos para atestar sua utilização.

Uma revisão de vários estudos publicada na revista científica Resuscitation, em agosto de 2020, concluiu que os dados disponíveis para esses tipos de produtos são frágeis, incluindo o LifeVac (que aparece em mais artigos do que outras marcas) —existem outras empresas, mas ainda sem registro na Anvisa.

Bebê sendo salvo com LifeVac nos EUA
Bebê sendo salvo com LifeVac nos EUA Imagem: Reprodução/Inside Edition

"Poucos ensaios imparciais testam a eficácia dos dispositivos de sucção antiasfixia, resultando em provas insuficientes para apoiar ou desencorajar a sua utilização", concluíram os autores.

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O que temos hoje de evidência científica é a manobra de Heimlich. É claro que não podemos negar o potencial do produto, mas ele não pode passar por cima dos protocolos que já existem. Eduardo Gubert, intensivista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR)

Aliás, a própria empresa afirma que, antes de utilizá-lo, é necessário tentar primeiro a manobra. Caso não tenha o resultado, o produto deve ser aplicado no rosto da pessoa —há opções tanto para crianças como para adultos—, de forma que toda a máscara fique vedada na boca. Depois, é preciso puxar o cabo do produto para cima e para baixo, como se fosse realmente um desentupidor de pia.

O grande problema é que o produto não tem estudos suficientes em crianças. O que pode acontecer é que desviamos o foco da atenção de procedimentos que já são reconhecidos como efetivos em casos de engasgos, como manobra de Heimlich. Sarah Saul, pediatra e membro do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria)

Ainda segundo Saul, em situações de engasgo, o tempo é precioso e deve ser usado com métodos considerados mais efetivos. "Pode ser fatal. Na prática, sabemos que a manobra realmente reduz incidência de acidentes fatais", fala.

Outro ponto levantado pelos médicos é sua disponibilidade: não é um produto barato. Na internet, o preço varia dependendo da marca, e vai de R$ 150 até mais de R$ 600.

É um produto promissor, mas precisamos de mais estudos científicos e maior disponibilidade para as pessoas. Às vezes, algumas pessoas podem ter dificuldade em fazer a manobra, então essa máscara acoplada ao rosto pode ser mais prática. Viviane Chaiben, médica intensivista dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, no Paraná

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@giruno10

This is why you need this in your home!!!

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O que diz a empresa?

Em nota enviada a VivaBem, a LifeVac afirma que, de fato, os estudos realizados e publicados foram feitos com manequins ou em cadáveres.

Há uma impossibilidade de se realizar protocolos de estudos prospectivos com este tipo de produto uma vez que não seria recomendado e tampouco ético simular uma condição real de Ovace (obstrução das vias aéreas por corpo estranho) para, a partir daí, testar se o produto funciona ou não. LifeVac, em nota

Os estudos foram publicados em alguns periódicos, como o Frontiers In Medicine. No artigo, o dispositivo teve sucesso na reanimação de 38 de 39 pacientes com asfixia durante um período de 6 anos.

Os casos relatados descrevem o uso bem-sucedido do dispositivo em ambientes reais com risco mínimo. A ressuscitação de pacientes com disfagia orofaríngea usando este dispositivo pode ser uma opção viável quando compressões abdominais ou golpes nas costas não conseguem resolver uma emergência de asfixia. Autores do estudo

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A empresa reforça ainda que o dispositivo só deve ser usado quando as manobras de desengasgo não apresentarem o resultado esperado. O LifeVac seria, então, mais uma opção quando a primeira não dá resultado.

Como fazer a manobra de Heimlich

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Imagem: iStock

Primeiro, é necessário posicionar-se atrás da pessoa, envolvendo-a com os braços, como se estivesse dando um abraço nela.

Depois, é preciso fechar uma das mãos, com o punho bem fechado, e deixar o polegar por cima. Essa mão deve estar posicionada entre o umbigo e a caixa torácica.

Já a outra mão deve estar em cima do outro punho, agarrando-o firmemente. Em seguida, basta puxar com força ambas as mãos para dentro e para cima.

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Caso a pessoa esteja inconsciente ou desmaiada, o recomendável é chamar ajuda médica imediatamente, iniciando-se em seguida a massagem cardíaca do suporte básico de vida.

Em crianças menores de 1 ano, a técnica é diferente:

É preciso apoiar a vítima na perna, deixando a cabeça dela mais para baixo da altura da perna, com a barriga virada para baixo.

Depois, deve-se fazer cinco compressões nas costas da criança. E daí, logo em seguida, vire a criança e a coloque de frente e faça cinco compressões no externo, que é esse osso da frente do tórax. E vai alternando isso até que a criança reaja.

É também possível fazer caso você esteja sozinho:

Basta fechar o punho da mão dominante e posicioná-la entre o umbigo e o final da caixa torácica.

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Depois, segure esta mão com a mão não dominante, para conseguir um melhor apoio. Por fim, é necessário empurrar com força, e de forma rápida, as duas mãos para dentro e para cima.

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