Ela teve psicose pós-parto: 'Não sabia se estava sonhando ou era vida real'
Confusão mental, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), ataques de pânico. Esses sintomas se tornaram parte do pós-parto da influencer americana Jordan Klein, 26. Sofrendo com uma severa privação de sono após sua segunda gravidez, seus problemas psicológicos só pioraram com o passar dos dias.
O que parecia apenas o cansaço de uma mãe, tornou-se assustador quando ela não conseguia mais distinguir sonho de realidade. Com medo de fazer parte de uma história de true crime digna de série, pediu ajuda para o marido, que percebeu imediatamente que eles precisavam de apoio profissional.
"Tive psicose pós-parto após minha segunda gestação. Com meu primeiro filho, tive um pouco de mudanças de humor por conta das alterações hormonais logo que ele nasceu, mas passou. Com meu segundo, as coisas fugiram do controle. Demorou para eu perceber o que estava acontecendo comigo. Na verdade, foi meu marido quem notou que meu comportamento e o que eu falava não pareciam normais ou saudáveis.
Começou após semanas de privação de sono. Passei a ter terror noturno e alucinações. Meus pensamentos estavam confusos e tinha sintomas de ansiedade, TOC e síndrome do pânico. Não conseguia dormir, não estava cuidando da minha saúde. Nem banho eu me lembrava de tomar. Até ter forças para tirar meu pijama era complicado. Me sentia estranha, como se estivesse em constante estado de pânico.
Já tinha lidado com ansiedade na adolescência, mas acho que gravidez, maternidade e o momento pós-parto podem ser um desafio para a nossa saúde mental. Nunca tinha passado por algo assim antes. Estava em um território completamente desconhecido.
Uma noite, estava tentando dormir e não conseguia mais saber se eu já estava dormindo ou se ainda estava acordada. Não sabia se o que eu estava vendo era sonho ou vida real. Sai do meu quarto, fui até a sala e disse para o meu marido me convencer de que eu estava acordada antes que eu fizesse alguma loucura. Comecei a ficar desesperada. Foi nesse momento que meu marido me disse que precisávamos procurar ajuda.
Pesquisei e encontrei um terapeuta para me ajudar. Estávamos no meio da pandemia da covid-19, então fazia minhas sessões por telefone. A psicóloga fez o encaminhamento para o psiquiatra, e foi ela que me diagnosticou com TOC, ansiedade e psicose pós-parto.
Não foi tão assustador receber o diagnóstico. Era pior quando eu não sabia o que estava acontecendo. Quando consegui dar nome para o problema, senti que conseguiria controlá-lo. Mas 'psicose' é uma palavra assustadora, e como mãe de um recém-nascido e de uma criança de dois anos, a primeira coisa que veio à minha cabeça foram as tramas de crimes que vemos em séries e filmes, de mulheres que fizeram coisas horríveis com seus filhos.
Eu tive a sorte de ter um bom sistema de apoio e ótimos terapeutas e psiquiatras, que me acalmaram e me ajudaram. Foi só depois de eu começar meu tratamento e tentar melhorar que vi como as pessoas não falam sobre esse diagnóstico. Ele é raro, mas tem muito estigma ligado à palavra também —o que eu entendo. É aterrorizante.
Precisei de cerca de uns dois meses para começar a me sentir melhor. Mas para dizer que realmente estava curada, acredito que foi um ano. Quando engravidei de meu terceiro filho, fiquei um pouco preocupada. Mas sabia no que precisava prestar atenção e o que esperar. Então fiz todo o possível durante a gravidez para evitar que eu não enfrentasse novamente um quadro de psicose. E não senti nada."
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Transtorno grave e raro
Um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, publicado na Biblioteca Nacional de Medicina americana, mostrou que a psicose pós-parto é algo raro: apenas uma ou duas mulheres em cada mil desenvolvem os sintomas.
"É raro e diferente da depressão pós-parto. Ocorre, geralmente, nos primeiros dias após o parto, mas também pode acontecer antes da criança chegar ao mundo", diz a psiquiatra Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília.
Segundo a especialista, os sintomas podem ser alucinações, tanto visuais quanto auditivas, delírios irremovíveis, quando a mulher acredita que, por exemplo, está sendo perseguida ou que o filho foi roubado, e não consegue ser convencida do contrário, hiperatividade, agitação, comportamento agressivo.
"Essa é uma emergência médica e o tratamento precisa ser iniciado imediatamente. Ele geralmente acontece com uso de medicação. Há casos que é necessário a internação", diz Figueiredo. Segundo ela, a mãe precisa ser separada do bebê nesse momento e interromper a amamentação.
Uma vez que a mulher passou por um caso de psicose pós-parto, aumentam-se os riscos dela viver isso em uma nova gestação, por isso é importante acompanhamento durante uma futura gravidez.
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