Pílula do dia seguinte: o que prejudica seu efeito? Pode usar sempre?
Nathalie Ayres
Colaboração para VivaBem
20/10/2023 04h03
A pílula do dia seguinte é uma aliada para quem tem medo de engravidar após alguma relação sexual desprotegida ou com alguma falha na proteção.
Mas não pense que é só comprar e esperar funcionar automaticamente. Existem algumas regrinhas para preservar sua eficiência e até cuidar da sua saúde. Confira a seguir:
Como a pílula do dia seguinte funciona? Qual é sua eficácia?
A pílula do dia seguinte não age como um anticoncepcional comum: seu principal componente é derivado de progesterona, mais comumente o levonorgestrel, que ao ser ingerido afeta o ciclo menstrual.
A dosagem costuma ser alta e o principal mecanismo de ação dela é impedir a ovulação ou retardá-la. Isso porque quando o corpo percebe que há bastante progesterona no corpo, a hipófise acredita que a ovulação já ocorreu e adia a próxima.
Caso você já tenha ovulado, ela ainda vai agir na musculatura das trompas, relaxando-as e atrapalhando o transporte dos óvulos, que se torna mais lento, fazendo com que os espermatozoides não cheguem a tempo. Ao mesmo tempo, a secreção vaginal fica mais espessa, o que também atrapalha o transporte dos gametas masculinos.
Sua eficácia é de 90%, mas isso depende do momento em que for tomada: apesar de o nome citar o dia seguinte, ela deve ser consumida o mais rápido possível: caso utilizada após 72h do ato sexual, a diminuição de eficácia é inferior a 50%.
O que corta o efeito da pílula do dia seguinte?
Alguns estudos que mostram um tipo de interação medicamentosa com alguns anticonvulsivantes, barbitúricos, rifampicina (medicamento para a tuberculose) e alguns antibióticos como a amoxicilina e tetraciclina, que faz com que um interfira no efeito do outro.
Situações físicas que atrapalhem a absorção da pílula do dia seguinte também interferem em sua eficácia, como:
- Doenças intestinais como Crohn, doença celíaca, entre outras;
- Cirurgia bariátrica bypass;
- Doenças hepáticas;
- Vômito até 2 horas após sua ingestão.
A que horas devo tomar a pílula do dia seguinte?
Como já explicado, o ideal é tomá-la o mais rápido possível, pois a eficácia vai diminuindo a cada hora. Normalmente, os fabricantes colocam o tempo máximo de 72 horas (que é o tempo que garante menor ocorrência de falhas), mas se você toma nas primeiras 24 horas, melhor ainda.
Não há um horário melhor do dia para seu consumo: a única referência deve ser há quanto tempo você teve a relação sexual de risco.
Há quem a consuma antes da relação sexual também, o que mantém sua eficácia, desde que não seja com uma grande antecedência.
Por que só devo usá-la de vez em quando?
Normalmente, recorrer muitas vezes à pílula do dia seguinte significa que você deveria procurar algum tipo de método anticoncepcional de mais longa duração. Vale lembrar que a quantidade de hormônio nesta pílula é muito alta.
Estudos indicam que esse uso contínuo pode ser prejudicial para pessoas com história de doença cardiovascular grave (doença cardíaca isquémica, AVC, tromboembolismo), cefaleia (migrânea) e hepatopatia grave, incluindo icterícia.
Aumenta também o risco de sangramento vaginal, tontura, náusea, inchaço, ou seja, todos os efeitos colaterais aumentam, inclusive se você já tem algum risco de trombose. Além disso, usá-la já no próximo mês pode reduzir sua eficácia, já que houve uma alteração no seu ciclo menstrual.
Os outros anticoncepcionais de longa duração costumam ter uma eficácia maior do que a pílula do dia seguinte, mas com menores taxas hormonais. Portanto, se você tem sentido vontade de recorrer à pílula do dia seguinte por não usar outras métodos, que tal falar com seu ginecologista?
Outro ponto importante é que qualquer anticoncepcional hormonal não tira a importância da camisinha como método de barreira para ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) como Aids, gonorreia, sífilis, clamídia, entre outras.
Fontes: Alyssa Françozo, ginecologista, obstetra e diretora de comunicação da AMCR (Associação Mulher Ciência e Reprodução); Lilian Fiorelli, ginecologista e especialista em sexualidade e uroginecologia do Hospital Israelita Albert Einstein (SP); e Maria Fernanda Barros de Oliveira Brandão, farmacêutica do Centro de Informação sobre Medicamento do CRF-BA (Conselho Regional de Farmácia da Bahia).