Descobrir alergia alimentar com força do dedo? Entenda teste mentiroso
Recentemente, um vídeo no TikTok a respeito de alergias alimentares chamou a atenção de usuários da plataforma. O conteúdo usa a "teoria Bdort", sugerindo um método alternativo para identificar alergias ou intolerâncias alimentares.
No vídeo, a "especialista" pede para uma mulher apertar o dedo o máximo que conseguir enquanto, na outra mão, tem que segurar o trigo, "um alimento que te faz mal", diz a mulher de jaleco. Para "testar" a alergia ou intolerância, a "suposta dona do consultório tenta abrir os dedos apertados da paciente, que os solta com certa facilidade. "Soltou porque o trigo te tira a energia, certo?", diz a mulher de jaleco.
Os testes ainda são feitos com café e melancia, que não "tiram a energia" da paciente, portanto ela não abre a mão com facilidade. "Esses alimentos você pode comer", diz a mulher que conduz o tal teste.
O nutrólogo Joseraldo Furlan destaca a falta de base científica na ideia do fluxo de energia dos alimentos. Ele enfatiza que a medicina não considera o conceito de energia na forma como é apresentado no vídeo. A qualidade nutricional dos alimentos é uma questão descritiva, baseada na composição dos alimentos, que é documentada.
Após um extenso levantamento, eu não encontrei nenhuma pesquisa científica que corrobore, que reforce, garanta, explique ou valide o vídeo. Joseraldo Furlan, nutrólogo
Ele também alerta sobre os riscos de depender de métodos caseiros, que podem comprometer a segurança alimentar. Quando se trata de alergias alimentares, observou que os sintomas podem variar amplamente e podem ser graves, destacando a importância do diagnóstico e tratamento adequados.
A nutricionista Giulia Murakami reforça que a qualidade nutricional dos alimentos é baseada em sua composição, que pode ser facilmente verificada por meio de rótulos nutricionais e tabelas de composição.
Depender de métodos não comprovados pode levar a exclusões alimentares desnecessárias, deficiências nutricionais e problemas emocionais relacionados à alimentação. Ela enfatiza que a procedência dos alimentos e a busca por informações confiáveis são cruciais para fazer escolhas alimentares saudáveis.
O que fazer para descobrir alergia ou intolerância a algo?
Os testes realizados atualmente para avaliar intolerância/alergia alimentar são, em sua maioria, bioquímicos, feitos por meio de amostra de sangue, e que avaliam a resposta imunológica do organismo diante de uma variedade de alimentos.
"Também pode ser realizada a dieta de exclusão, que é feita a partir da suspensão temporária do alimento/grupo alimentar suspeito, conforme o histórico do paciente e resultados de exames. Após o período estipulado pelo profissional, é realizada a reintrodução, e caso os sintomas reapareçam, é realizada a orientação nutricional", afirma Murakami.
Natalia Estanislau, médica alergista e imunologista, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), diz que a melhor abordagem é procurar um alergista para uma avaliação completa, que inclui perguntas detalhadas sobre sintomas e alimentos suspeitos, seguida de testes apropriados, como testes cutâneos, exames de sangue ou testes de provocação oral.
Estanislau também destaca que diferentes pessoas podem reagir de maneira distinta aos mesmos alimentos, tornando o diagnóstico adequado ainda mais importante.
Existem alimentos mais propensos a causar alergia?
Sim. Segundo Estanislau, os alimentos que mais comumente causam alergia são leite de vaca, ovo, trigo, soja, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar. Mas outros alimentos também podem causar alergias, como frutas e legumes.
"No geral, são alimentos bastantes consumidos no nosso país e que podem causar reações em certas pessoas, mas não em outras", diz a especialista.
Diante da falta de comprovação científica e do risco associado à dependência de métodos caseiros para avaliar a segurança alimentar, é fundamental orientação médica de especialistas em alergia alimentar, nutrição e nutrologia.
A busca por informações confiáveis e a compreensão da procedência dos alimentos são passos importantes para fazer escolhas alimentares saudáveis. Métodos não comprovados podem ser prejudiciais à saúde e o conhecimento baseado em evidências científicas é a melhor abordagem quando se trata de alergias alimentares e nutrição.
Fontes: Natalia Rocha Do Amaral Estanislau, médica alergista e imunologista, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia); Joseraldo Furlan, médico pós-graduado em medicina comportamental pela Unifesp, é coordenador geral da Universidade da Inteligência; Giulia Murakami, nutricionista e pós-graduada em nutrição clínica avançada e metabologia, também é pós-graduada em comportamento alimentar, possui formação em nutrição comportamental e em transtornos alimentares pelo Instituto IPGS.
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