Ingrid Guimarães: 'Não se levar tão a sério é um jeito sábio de envelhecer'

"É muito bom também entrar na era do foda-se, né?" A atriz, apresentadora humorista e roteirista Ingrid Guimarães, 51, cumpriu 100% o objetivo de falar sobre envelhecimento sem tabu no VivaBem No Seu Tempo, evento do UOL realizado na última quinta-feira (26).

Durante o bate-papo com a jornalista Mariana Ferrão, Ingrid usou todo o seu bom humor para tratar de temas importantes após os 45 anos, como sexo na maturidade ("Você conhece o seu corpo como ninguém"), a importância das amizades nessa fase da vida e a liberdade que a idade traz para recomeçar na carreira.

A atriz também destacou o papel do humor em suavizar acontecimentos complexos e inusitados do envelhecimento, como a menopausa e ser "a velha da reunião".

"O humor salva, sabia? Se não existisse humor, a vida de todo mundo aqui seria muito pior. Não se levar tão a sério é uma forma sábia de envelhecer."

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Imagem: Mariana Pekin/UOL

Ingrid também contou que aprendeu a não acumular tantas tarefas e preocupações e a não comprar todas as brigas que aparecem:

A nossa geração achou que era muito maneiro equilibrar os pratos. Até que você começa a ter crise de ansiedade, exaustão. Aí, junto com a menopausa, você dorme mal, a libido cai. Eu olho para trás e penso: 'Eu quero deixar um prato cair ali. Ah, caiu, dane-se.' É muito bom também entrar na era do foda-se, né?

Apesar das muitas dicas ("Toda mulher tem uma dica, né?") para o público presente no VivaBem no Seu Tempo —e você, leitor— viver a maturidade de forma plena, a atriz reforçou que a ressignificação da forma de envelhecer é uma luta diária, já que a geração anterior passava a mensagem de que, aos 50 anos, as pessoas já estavam "meio no fim do jogo".

"A gente tem que colocar o pé na porta. Nossa geração está abrindo caminhos em uma trilha fechada. Ninguém percorreu isso desse jeito antes. Eu estou construindo meu envelhecimento."

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Ingrid Guimarães em conversa com Mariana Ferrão no VivaBem No Seu Tempo
Ingrid Guimarães em conversa com Mariana Ferrão no VivaBem No Seu Tempo Imagem: Mariana Pekin/UOL

Assista à entrevista completa no vídeo acima e leia a seguir os melhores momentos do bate-papo entre Ingrid Guimarães e Mariana Ferrão no VivaBem No Seu tempo.

Ao longo das próximas semanas, você acompanha aqui no VivaBem a cobertura completa do evento, que teve ainda a participação de Ticiane Pinheiro, Malvino Salvador, Joice Berth, Mateus Carrieri e outros convidados especiais.

Mariana Ferrão - Quero começar perguntando como é que você se imaginava, 20, 30 anos atrás, ao 51?

Ingrid Guimarães - Velha. Achava que ia ser velha. Eu falava: "Aos 50, já foi." Eu tinha a sensação de que seria como se eu estivesse meio no fim do jogo. Porque era assim que as mulheres que me criaram viam, né? Assim que a gente lia nas revistas, assim que a mensagem era passada para a gente. E essa mensagem ficou muito no nosso inconsciente e no nosso consciente. Eu acho que essa ressignificação é uma luta diária. Tanto nossa quanto dos outros.

Quando eu fiz 50, o mundo me lembrou que eu tinha 50. Eu falei: "Ué, mas eu já tinha feito 48, 49?" E quando eu fiz 50, começou: "Aos 50, Ingrid está de biquíni na praia." Todas as matérias tinham uma idade na frente.

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Do nada, a minha idade passou a estar antes de tudo o que eu fiz. Que loucura isso, né?

A pessoa queria me elogiar, mas podia ter me elogiado sem botar minha idade. Aí, eu comecei a fazer uns vídeos na internet sobre isso que viralizaram e comecei a perceber que depois os próprios jornalistas passaram a ficar sem graça de botar a minha idade.

Então, a gente tem que começar constrangendo as pessoas mesmo. A gente tem que colocar o pé na porta. Nossa geração está abrindo caminhos em uma trilha fechada. Ninguém percorreu isso desse jeito antes, né? Eu acho que a nossa, a minha filha, que tem 14 anos, talvez ela nem fale disso.

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Imagem: Mariana Pekin/UOL

Você começou um projeto novo recentemente. É muito diferente começar algo novo nessa idade?

Ingrid Guimarães - Cara, para mim foi muito importante. Para mim, é uma coisa revolucionária, porque, quando eu tinha 45 anos, um ator muito, muito conhecido —e não foi de maldade não, tá?— me falou para aceitar o papel na novela Bom Sucesso, em que a personagem era uma rainha de bateria que disputava o Rômulo Estrela com a Grazi Massafera, porque talvez fosse meu último papel de gostosa. "Já tô achando até que você tá dando sorte aí", ele disse.

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Aí, fui fazer a novela apavorada. Ele falou: "Sabe o que que é, Ingrid? Eu acho que você tem que começar a se preparar porque o seu telefone vai parar de tocar." Eu fiquei tão chocada. E, realmente, de repente, na geração dele, as atrizes sofriam muito com isso. Mas eu nunca esperei o telefone tocar. Eu sempre criei meu telefone porque eu não tive outra opção. E eu comecei a achar que tinha tudo acabado.

Aí, aos 49, eu recebi essa proposta de sair da Globo e ir para a Amazon, com um contrato que não existia no Brasil, que só existia nos Estados Unidos, que é o overall, em que você é executiva de seus projetos, dá ideia, é ouvida, realiza seus projetos. Enfim, uma coisa incrível.

Quando eu fui olhar quem tinha esse contrato, era gente como o Brad Pitt. Eu fiquei tão emocionada.

Eu lembro que eu fiz 50 anos e assinei o contrato. Foi uma coisa muito significativa. E eu saí da Globo porque quis, fui para um lugar que, imagina, é uma coisa nova ainda, a gente ainda está entendendo como é que vai ser, é uma bolha dentro do Brasil. Eu pensava que eles poderiam ter contratado uma menina novinha com 20 milhões de seguidores, mas pegaram uma mulher de 50 anos e eu achei aquilo muito legal.

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Imagem: Mariana Pekin/UOL

Qual é a diferença de recomeçar agora?

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Ingrid - Primeiro, a liberdade de fazer novas coisas. Tem também um entusiasmo que ajuda muito. Porque é impressionante como o Brasil é etarista. Eu tenho amigas que moram na Europa e elas não passam pela metade das questões que a gente passa.

É claro que você tem que provar quem você é, de novo. Você está ali com aquela pessoa que nunca te viu, normalmente tem muita gente jovem. Às vezes, eu olho numa reunião e penso: "Gente, sou a velha da reunião." Mas aí você começa a falar, a se colocar em papéis que nunca te colocaram antes.

Você tem que ser inteligente, você tem que vender as coisas rapidamente, você tem que agradar.

Seus papéis mudaram?

Ingrid - Eu acho que a dramaturgia tem que mudar. Hoje mesmo eu estava numa reunião de roteiro e no filme eu tenho uma cena de sexo num rio. Alguém falou: "Vamos tirar a cena de sexo, gente? Isso está atrasando a história do filme." Eu falei: "Não, não, não, não, eu quero botar a mulher de 50 anos transando, pode tirar outra cena."

Eu quero que as mulheres vejam a mulher da minha idade transando porque fica parecendo que a gente não pode mais ser sexual

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A minha luta lá na Amazon é essa: fazer produtos e conteúdos que falem da mulher normal, porque eu também não quero fazer um filme para falar só de menopausa. Eu quero poder falar da nossa vida como ela é.

Estamos numa idade em que os filhos já estão crescendo, a gente não tem mais aquele perrengue de criança pequena, a gente está pensando mais na gente, a gente tem mais condição de se cuidar.

A gente preza mais por qualidade de produto, de venda, somos um puta público. Gostamos de coisas boas, não gastamos com muita coisa, mas com coisas que dão qualidade de vida, confortáveis, bonitas. Vamos atrás daquilo que inspira. A palavra que eu mais uso hoje é inspirar, é o maior elogio que você pode me fazer.

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Imagem: Mariana Pekin/UOL

Em que momento você pede ajuda na sua vida? Você sente que hoje você é uma mulher que pede mais ajuda do que quando era mais nova? E que tipo de ajuda?

Ingrid Guimarães - Com certeza, eu peço ajuda praticamente todo dia. Primeiro, terapia, né, que eu acho que, pra quem pode, pra quem tem dinheiro, pra envelhecer, devia estar na constituição. Saúde, alimentação, segurança e terapia. Ela ajuda você a se ressignificar e a dar a importância certa pra aquilo.

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Depois, eu sou de uma família toda de mulheres, e nós fomos todas criadas juntas. Então, a gente tem uma rede de apoio. E eu acho que essa coisa da rede de apoio feminina ajuda muito a gente a viver melhor.

Eu acho que a rede de apoio feminina hoje, pra mim, é uma das coisas mais importantes

Eu tenho, por exemplo, um grupo só com mulheres que quando estou mal, vou lá e falo. Só de você ver gente igual você, você fala: 'Vamos sair amanhã, a gente bebe, vamos fazer alguma coisa?' E eu acho que isso de grupo tem uma função de pertencimento, né?

E as nossas mães, elas não conversavam com a gente, como a gente conversa com as nossas filhas. Como a gente não teve o exemplo, a gente precisa ser o exemplo, né? E precisa enxergar outros exemplos porque, quando a gente não consegue vislumbrar isso por meio de exemplos, a gente não sabe qual é o caminho a seguir. E a gente vive melhor.

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Imagem: Mariana Pekin/UOL

A gente sabe também que o preconceito do etarismo não é só a respeito de papéis e da imagem. Mas também tem uma questão da luta feminista para sermos mais ouvidas. Você sente que hoje, como uma mulher de mais de 50, você é mais ouvida nas reuniões?

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Ingrid Guimarães - Essa coisa do etarismo, a gente está falando tanto disso que as pessoas estão ficando constrangidas de passar por etarista. Então, nem que seja por isso. Nem que seja pelo constrangimento.

Eu sou uma pessoa que falo muito, você deve estar percebendo aqui. Então eu não dou nem chance. Mas isso é porque eu vivi muitas vezes na minha vida situações em que eu não era ouvida. Então, eu desenvolvi uma técnica: "Não para de falar, não para de falar."

Isso tudo é uma defesa também. Porque se você acha que o nosso meio é machista, você não sabe o que é o meio de comédia.

Nossa senhora, você pensar que no primeiro programa que eu fiz na televisão as mulheres passavam de biquíni no meio de uma cena. Era um camarim das comediantes e um camarim das gostosas. Era um estereótipo e a mulher comediante não era pensada para protagonismo algum. Até porque quem escrevia eram os homens.

Quando eu comecei a vir para a televisão, tinha o programa do Chico Anizio, o programa do Jô Soares e Os Trapalhões. Era tudo homem. Derci não falou palavrão à toa, né? Era uma maneira de ser ouvida.

Quando eu fiz a primeira protagonista no cinema, eu tinha 36 anos. Imagina se eu fosse acreditar no que me falaram. E eu estou fazendo protagonista ainda dois filmes ano que vem, aos 50.

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Imagem: Mariana Pekin/UOL

Você falou do humor. Eu quero saber como o humor te ajuda a envelhecer?

Ingrid Guimarães Muito. Eu acho que o humor salva, sabia? Se não existisse humor, a vida de todo mundo aqui seria muito pior.

Até a própria menopausa. Eu falo que é um Incrível Hulk. Você vai ficando verde, verde, verde, verde. Aí você toma a reposição hormonal. E aí o personagem volta, sabe, com aquela malinha? Você vai começando a brincar com as coisas que você vive. E quando você vê que você está rindo, a outra pessoa está rindo, o outro está rindo, a menina que viu o vídeo está rindo. E você fala: "Cara, o que eu vou fazer?"

É uma coisa pós-pandemia, né? A gente sofreu uma perda muito traumática no humor. Para nós, a morte do Paulo [Gustavo, humorista] foi avassaladora. Então, quando alguma coisa de envelhecer, de autoestima, me bate eu sempre penso: "Estou viva, né, gente?" Poderia não estar.

O humor ajuda a gente a rir da gente mesma, a não se levar tão a sério. Não se levar tão a sério é um jeito sábio de envelhecer.

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Eu acho que você começa mesmo a viver a vida quando você dá a primeira gargalhada sobre um erro que cometeu e deixou você destruída.

Entre inspiradora e gostosa, você tem uma preferência?

Inspiradora. Se puder ser uma inspiradora gostosa, eu também aceito. E não fale "Ingrid, 50 anos, gostosa". É gostosa e ponto.

Ingrid Guimarães

VivaBem No Seu Tempo é um evento do UOL que reúne convidados especiais para falar sobre saúde, sexo, menopausa e mudanças na vida após os 45 anos, para que as pessoas possam aproveitar a maturidade da melhor forma possível e envelhecer bem. Confira aqui a cobertura completa do evento e veja todos os painéis deste ano no YouTube de VivaBem.

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