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David Beckham revela rituais de limpeza; como identificar se 'mania' é TOC

Beckham revela que lida com rituais de limpeza desde o início dos anos 2000, quando ainda jogava futebol Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo (SP)

31/10/2023 04h00

A série documental "Beckham", da Netflix, sobre os bastidores da vida e da carreira de David Beckham, traz revelações íntimas do ex-jogador de futebol. Dentre elas, o fato de o britânico lidar, desde o início dos anos 2000, com rituais de limpeza "cansativos", que fazem parte de sua rotina devido ao TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) —um problema que, só no Brasil, afeta mais de 4,5 milhões de pessoas, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Beckham, de 48 anos, já tinha falado sobre sua experiência com o transtorno em reportagem do jornal "El País" publicada em abril sobre as gravações da série.

"O fato é que todos estão na cama, e eu vou dar uma volta, deixo os interruptores nas posições certas, me certifico que tudo está arrumado. Odeio acordar de manhã e encontrar xícaras, pratos e tigelas sujas", disse o ex-atleta.

Corto a cera derretida das velas, limpo o vidro onde elas ficam... Esse é meu 'ódio de estimação', ter fumaça dentro do recipiente da vela. (...) Eu limpo tão bem que não tenho certeza se isso é realmente apreciado por minha mulher, com toda a honestidade. David Beckham, em gravação de novo documentário para a Netflix.

O TOC é um transtorno de ansiedade caracterizado pela presença de pensamentos intrusivos persistentes, que invadem a cabeça e geram desconforto emocional. Comportamentos compulsivos surgem na tentativa de aliviar a angústia causada pela obsessão.

Como diferenciar um ritual repetitivo de um quadro de TOC?

Nem todo pensamento repetitivo, preocupação ou ritual pode ser classificado como obsessivo-compulsivo. O psiquiatra Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista e ex-colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo, sugere utilizar três critérios para saber se uma "mania" é ou não grave:

1. Se traz certo grau de aflição e angústia

No caso do TOC ligado à limpeza, a pessoa pode ter pensamentos do tipo, 'se eu não limpar tal objeto, alguma coisa vai acontecer, alguém vai ser contaminado e morrer', e esse pensamento fica atormentando a consciência dela, de modo que gera tamanho sofrimento que o único alívio que ela encontra é o comportamento compulsivo, que é o ato de limpar em si.

2. Se causa um comprometimento significativo da rotina e das relações sociais

Uma pessoa com um TOC de verificação, por exemplo, que fica pensando que esqueceu o forno ligado ou que não trancou a porta de casa, às vezes não consegue trabalhar. Ela vai para o trabalho e não consegue executar sua função se não voltar para casa e verificar a situação. E ela verifica não só uma, mas dezenas de vezes seguidas, o que faz com que ela perca muito tempo e sofra um prejuízo importante na rotina.

3. Se a própria pessoa percebe que há algo de errado com ela

Às vezes a pessoa percebe que o pensamento é desproporcional e, muitas vezes, tem até vergonha do comportamento, mas ela não consegue parar, porque sente que é quase que obrigatório ter aquele comportamento compulsivo para se sentir melhor.

Diagnóstico precoce é fundamental

Há diferentes graus e comprometimentos do transtorno. Nos graves, a pessoa pode ficar com a vida seriamente afetada. No caso específico do TOC ligado à limpeza, é possível que o paciente apresente feridas na pele devido ao excesso de assepsia ou lesões por esforço repetitivo (LER) porque passou tempo demais esfregando algum objeto ou móvel de casa, por exemplo.

Apesar dos prejuízos que causa ao indivíduo, o diagnóstico do problema costuma ser tardio: a maioria das pessoas convive com o transtorno por pelo menos quatro anos antes de procurar ajuda especializada, muitas vezes por dificuldades de identificar o TOC ou por resistência em buscar tratamento.

No entanto, como o problema é crônico, quanto antes a pessoa buscar ajuda, melhor.

O diagnóstico precoce é fundamental. Quanto antes a pessoa souber que tem o problema e começar o tratamento, menos cristalizadas serão essas sintomatologias e há uma tendência de ter uma qualidade de vida muito melhor e a sofrer muito menos, com benefícios na vida pessoal e familiar. Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista.

O que causa o TOC e como funciona o tratamento?

As causas do TOC, assim como a maioria dos transtornos mentais, são multifatoriais. Entre os fatores para o seu aparecimento estão a predisposição genética e o histórico familiar.

Alterações funcionais e da neuroquímica cerebral também têm um papel importante, além de fatores psicológicos, incluindo a maneira com a qual a pessoa aprendeu a lidar com medos.

O tratamento pode ser medicamentoso ou não. Os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos da classe dos "inibidores da recaptação de serotonina", que modulam o nível de serotonina no sistema nervoso central e, com isso, controlam os pensamentos intrusivos.

Na maioria dos casos, o uso dos remédios é combinado com sessões de psicoterapia cognitivo-comportamental. A técnica tem eficácia comprovada em ajudar a lidar com os pensamentos e expõe gradualmente o paciente aos medos, mostrando que é possível encará-los.

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