David Beckham revela rituais de limpeza; como identificar se 'mania' é TOC

A série documental "Beckham", da Netflix, sobre os bastidores da vida e da carreira de David Beckham, traz revelações íntimas do ex-jogador de futebol. Dentre elas, o fato de o britânico lidar, desde o início dos anos 2000, com rituais de limpeza "cansativos", que fazem parte de sua rotina devido ao TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) —um problema que, só no Brasil, afeta mais de 4,5 milhões de pessoas, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Beckham, de 48 anos, já tinha falado sobre sua experiência com o transtorno em reportagem do jornal "El País" publicada em abril sobre as gravações da série.

"O fato é que todos estão na cama, e eu vou dar uma volta, deixo os interruptores nas posições certas, me certifico que tudo está arrumado. Odeio acordar de manhã e encontrar xícaras, pratos e tigelas sujas", disse o ex-atleta.

Corto a cera derretida das velas, limpo o vidro onde elas ficam... Esse é meu 'ódio de estimação', ter fumaça dentro do recipiente da vela. (...) Eu limpo tão bem que não tenho certeza se isso é realmente apreciado por minha mulher, com toda a honestidade. David Beckham, em gravação de novo documentário para a Netflix.

O TOC é um transtorno de ansiedade caracterizado pela presença de pensamentos intrusivos persistentes, que invadem a cabeça e geram desconforto emocional. Comportamentos compulsivos surgem na tentativa de aliviar a angústia causada pela obsessão.

Como diferenciar um ritual repetitivo de um quadro de TOC?

Nem todo pensamento repetitivo, preocupação ou ritual pode ser classificado como obsessivo-compulsivo. O psiquiatra Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista e ex-colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo, sugere utilizar três critérios para saber se uma "mania" é ou não grave:

1. Se traz certo grau de aflição e angústia

No caso do TOC ligado à limpeza, a pessoa pode ter pensamentos do tipo, 'se eu não limpar tal objeto, alguma coisa vai acontecer, alguém vai ser contaminado e morrer', e esse pensamento fica atormentando a consciência dela, de modo que gera tamanho sofrimento que o único alívio que ela encontra é o comportamento compulsivo, que é o ato de limpar em si.

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2. Se causa um comprometimento significativo da rotina e das relações sociais

Uma pessoa com um TOC de verificação, por exemplo, que fica pensando que esqueceu o forno ligado ou que não trancou a porta de casa, às vezes não consegue trabalhar. Ela vai para o trabalho e não consegue executar sua função se não voltar para casa e verificar a situação. E ela verifica não só uma, mas dezenas de vezes seguidas, o que faz com que ela perca muito tempo e sofra um prejuízo importante na rotina.

3. Se a própria pessoa percebe que há algo de errado com ela

Às vezes a pessoa percebe que o pensamento é desproporcional e, muitas vezes, tem até vergonha do comportamento, mas ela não consegue parar, porque sente que é quase que obrigatório ter aquele comportamento compulsivo para se sentir melhor.

Diagnóstico precoce é fundamental

Há diferentes graus e comprometimentos do transtorno. Nos graves, a pessoa pode ficar com a vida seriamente afetada. No caso específico do TOC ligado à limpeza, é possível que o paciente apresente feridas na pele devido ao excesso de assepsia ou lesões por esforço repetitivo (LER) porque passou tempo demais esfregando algum objeto ou móvel de casa, por exemplo.

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Apesar dos prejuízos que causa ao indivíduo, o diagnóstico do problema costuma ser tardio: a maioria das pessoas convive com o transtorno por pelo menos quatro anos antes de procurar ajuda especializada, muitas vezes por dificuldades de identificar o TOC ou por resistência em buscar tratamento.

No entanto, como o problema é crônico, quanto antes a pessoa buscar ajuda, melhor.

O diagnóstico precoce é fundamental. Quanto antes a pessoa souber que tem o problema e começar o tratamento, menos cristalizadas serão essas sintomatologias e há uma tendência de ter uma qualidade de vida muito melhor e a sofrer muito menos, com benefícios na vida pessoal e familiar. Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista.

O que causa o TOC e como funciona o tratamento?

As causas do TOC, assim como a maioria dos transtornos mentais, são multifatoriais. Entre os fatores para o seu aparecimento estão a predisposição genética e o histórico familiar.

Alterações funcionais e da neuroquímica cerebral também têm um papel importante, além de fatores psicológicos, incluindo a maneira com a qual a pessoa aprendeu a lidar com medos.

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O tratamento pode ser medicamentoso ou não. Os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos da classe dos "inibidores da recaptação de serotonina", que modulam o nível de serotonina no sistema nervoso central e, com isso, controlam os pensamentos intrusivos.

Na maioria dos casos, o uso dos remédios é combinado com sessões de psicoterapia cognitivo-comportamental. A técnica tem eficácia comprovada em ajudar a lidar com os pensamentos e expõe gradualmente o paciente aos medos, mostrando que é possível encará-los.

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