Por que algumas pessoas choram depois do orgasmo?
Embora o orgasmo seja considerado o ápice do prazer e libere hormônios ligados ao bem-estar, como ocitocina, noradrenalina e dopamina, para algumas pessoas, a euforia momentânea é seguida por lágrimas.
"Essa explosão de hormônios é responsável por sentimentos positivos, embora as pessoas possam reagir de maneira diferente, não necessariamente associando o choro ao sofrimento, mas sim a uma intensa experiência emocional", analisa Lilian Fiorelli, médica ginecologista especialista em sexualidade feminina e uroginecologia pela USP.
A forte atividade química, explica Fiorelli, é percebida por cada pessoa de maneiras possivelmente diferentes —e essa percepção pode ser influenciada pelo momento emocional ou experiência que cada um teve.
Não importa se é homem ou mulher, mas sim a sensibilidade da pessoa naquele momento. Também não significa necessariamente tristeza —às vezes é realmente só uma forma de processar emoções intensas. Lilian Fiorelli, médica ginecologista especialista em sexualidade feminina e uroginecologia
Mas se o choro não vem apenas de uma descarga de emoções, mas é acompanhado de um sentimento negativo de ansiedade e tristeza profunda, pode ser um indício de outro quadro, a disforia pós-coito, mais sério e que requer acompanhamento médico.
"Nesses casos, o sentimento é muito ruim. É como se o orgasmo fosse o gatilho para emoções depressivas e ansiosas, e a pessoa pode entrar em crise. O tratamento pode incluir terapia e, a depender do caso, medicamentos."
Disforia pós-coito também pode explicar
O fenômeno não tem causas bem documentadas na literatura médica, mas de acordo com especialistas consultados por VivaBem, pode estar relacionado a uma combinação de fatores fisiológicos, psicológicos e emocionais.
"É importante destacar que é uma porcentagem pequena de pessoas que passam por isso, e aqueles que experienciam podem ter diferentes razões ou gatilhos", aponta Carmita Abdo, sexóloga e psiquiatra, fundadora e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade) do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas.
O tema ainda requer mais estudos, avalia a psiquiatra Catarina de Moraes, coordenadora do ambulatório de sexualidade no Hospital das Clínicas de Recife, mas ao que a literatura disponível indica —além dos relatos ouvidos em consultório—, o quadro parece ser mais prevalente em mulheres.
O que causa a disforia pós-coito
Sentir-se profundamente triste depois de um momento tão positivamente impactante quanto um orgasmo pode parecer estranho —e também é assim para quem passa pela experiência.
"A pessoa costuma não saber de onde veio aquilo e se sente envergonhada de dividir com o parceiro ou parceira", aponta Abdo. "É importante ressaltar que não tem nada a ver com o sexo não ter sido consensual. A pessoa que passa pela disforia pós-coito pode ter sentido desejo, permitido todas as ações, alcançado o orgasmo, e mesmo assim, sentido tristeza em seguida."
A especialista aponta que do ponto de vista químico, essa disforia provavelmente vem do desequilíbrio de neurotransmissores, aqueles hormônios que causam sensações boas, como a dopamina.
As causas para isso, no entanto, são multifatoriais. Abdo aponta que se o quadro é recorrente, deve-se procurar ajuda médica para entender o que pode estar por trás.
"A terapia é um recurso que pode ajudar nesse processo de descoberta. É interessante explorar a história de vida da pessoa, pois, muitas vezes, experiências passadas, como abuso sexual, físico ou psicológico, podem influenciar a forma como ela se sente durante o sexo."
Além disso, diz Abdo, conflitos recentes ou mal resolvidos em relação ao parceiro podem desencadear essa sensação de desconforto.
"A presença de uma condição psiquiátrica pode agravar o quadro, embora nem sempre esteja diretamente relacionada. Fatores como ansiedade, depressão latente ou um período pós-parto podem tornar o choro e a tristeza após o sexo mais frequentes devido à sensibilidade aumentada e ao desequilíbrio hormonal."
Comunicação é essencial para preservar relacionamentos
Quando recorrente, o problema pode influenciar a intimidade do casal. "Acolhimento e escuta são coisas importantes. Pessoas com esse tipo de desconforto podem evitar atividade sexual", diz a psiquiatra Catarina de Moraes, que também é Secretária da Associação Brasileira de Medicina Sexual.
Além disso, segundo Moraes, a parceria pode não entender o que está acontecendo e se sentir culpada ou até ofendida. "Por isso, além da busca por um especialista qualificado, é importante uma boa comunicação com seu parceiro."
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