Exame na piscina de bolinhas: local lúdico facilita atendimento de crianças
Máquinas de ressonância magnética que funcionam como um submarino, salas de exames decoradas como o espaço e que brilham no escuro, floresta encantada em vez de consultório? Ambientes hospitalares lúdicos viralizam nas redes sociais e enchem os olhos dos pais. Além de bonitos, eles podem evitar traumas e ajudar na recuperação das crianças.
Um estudo publicado no Journal of Pediatric Nursing em fevereiro de 2022 chamado "O efeito das brincadeiras na dor e ansiedade das crianças no campo da enfermagem" mostrou que brincar é benéfico para a cooperação e bem-estar das crianças no ambiente hospitalar.
Marina Medeiros é pediatra há 17 anos e tem um consultório em Blumenau (SC). O espaço viralizou no TikTok após a mãe de um de seus pacientes se encantar com o que viu. Logo na entrada, a criança dá de cara com uma árvore imensa, uma piscina de bolinhas e uma casinha com escorregador. Dá para esquecer na hora que aquilo ali é um consultório médico.
"Há 11 anos, meu primeiro bebê faleceu com um dia de vida. Parei de clinicar por 8 anos até me sentir segura novamente. Quando retornei às atividades, passei a dar ainda mais valor a preciosidade de uma criança e queria criar o atendimento pediátrico dos sonhos", disse em entrevista a VivaBem.
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Para Marina, a pediatria é algo que precisa ser feito sem pressa, com tempo para os pais tirarem as dúvidas enquanto a criança está distraída. "Não adianta uma consulta longa se a criança está chorando o tempo todo", explica. Por isso, já se dispôs a examinar o paciente no chão e na piscina de bolinhas.
"Não basta apenas um ambiente divertido e recheado de brinquedos. O profissional tem que ter a preocupação de olhar para a criança e se adaptar ao que ela precisa para ganhar sua confiança", explica a pediatra.
A rede municipal da cidade do Rio de Janeiro também conta com hospitais com ambientes lúdicos para as crianças. O Hospital Jesus, por exemplo, tem com uma sala para tomografia que parece um submarino, na qual a criança fica vendo peixinhos enquanto realiza o exame. Há também ambientes com tema do espaço, de robôs e que brilham no escuro.
"Quanto mais humano o ambiente, mais a criança se sentirá acolhida. Isso impacta positivamente no tratamento", explica a VivaBem Teresa Navarro, superintendente de atenção hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde do Rio.
Segundo ela, todas as alas pediátricas do município que estão passando por reforma têm a humanização como um dos objetivos para os ambientes infantis. Assim como nas 15 UPAs que também pertencem à cidade.
"As equipes profissionais relatam que as crianças se sentem mais confortáveis durante o atendimento no ambiente lúdico. As salas dos hospitais são feitas para as pessoas e quando são utilizadas por crianças precisamos de ainda mais cuidado para não assustá-las com um local agressivo", diz Navarro.
Crianças entendem a linguagem do brincar
Segundo Nathalia Heringer, neuropsicóloga especialista em cognição e comportamento, brincar é um lugar comum para as crianças. E por sentirem que aquilo está no controle delas, têm uma sensação de segurança em um ambiente lúdico.
"Essa é a maneira como elas entendem o mundo. Quando vamos fazer um processo de dessensibilização para um procedimento cirúrgico ou exame, por exemplo, unimos o brincar ao tratamento, para que se torne algo prazeroso", diz Heringer. Para a especialista, as brincadeiras fazem parte do desenvolvimento infantil.
"Há pesquisas que dizem que quando criamos essa linguagem para as crianças a dor até diminui. Alguns profissionais até criam historinhas sobre o doutor seringa, por exemplo. Essas salas lúdicas permitem que as crianças expressem suas emoções", explica a psicóloga Ariádny Abbud, especialista em terapia cognitiva comportamental com crianças e adolescentes.
A psicóloga ainda reforça: uma criança que segue com esse tipo de tratamento será um adulto sem medo ou ansiedade na hora de procurar assistência médica. "Trabalhando essa dessensibilização, a criança cresce vendo o ambiente hospitalar com um estímulo positivo. E como adulto, pode não sentir medo de hospitais", diz.
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