Paralisia de Bell: ela acordou com face torta e bike ajudou a mudar hábitos
Em um momento de estresse no trabalho, luto e separação, a funcionária pública Dóris Soares, de 51 anos, foi dormir "bem" e acordou com metade do rosto "travado" e dificuldade de enxergar. Após descobrir que teve paralisia de Bell e iniciar o tratamento, a paranaense percebeu que precisava mudar hábitos e começou a pedalar. A seguir, ela conta sua história:
"Passei por momentos difíceis, perdi minha mãe, me separei e ainda contei com muitos problemas no meu trabalho. Em 2017, estava no ápice do estresse. Um dia, cheguei em casa com muita dor de cabeça, na parte traseira do crânio, do lado esquerdo. Em pouco tempo, ela se tornou insuportável. Eu me tranquei no quarto, tomei remédio e não adiantou.
Nunca pensei que fosse algo grave. Pela manhã, quando acordei, a dor tinha se alastrado para a parte esquerda do rosto e o olho estava doendo bastante.
Fui ao banheiro e percebi que o meu lado esquerdo da face estava adormecido. Deitei na cama 'certa' e acordei torta.
Não sabia o que estava acontecendo, mas estava com o rosto torto. Achei que logo ficaria normal, apesar de a dor de cabeça não ter passado. Eu precisava ir a um evento importante de trabalho e simplesmente fui —não me dava conta da proporção que aquilo estava.
Procurei um médico só no terceiro dia e fui diagnosticada com paralisia de Bell, condição que afeta o nervo facial, causando fraqueza súbita e temporária nos músculos do rosto [abaixo, explicamos melhor o problema].
Eu comecei o tratamento com medicamentos e fisioterapia, mas percebi que algo estava errado na minha vida. Precisava mudar. Chorava muito, me sentia um monstro. Não era só questão estética, era a dor, a doença, eu babava, tive que usar tampão no meu olho e não enxergava direito.
'Algo em sua vida precisa mudar'
Fiquei mais de dois meses assim, só tomando remédio e chorando. Então, uma hora falei: 'Epa, para! Teu corpo está falando que algo na sua vida está errada e precisa mudar'.
Já fazia spinning e bateu uma vontade de andar de bicicleta. Quando menina, eu pedalava com a bicicleta do meu pai. Depois me casei, tive uns filhos, e nunca mais tinha andado. Pensei, ah, eu vou pegar uma bicicletinha e pedalar para ver se gosto ou não.
Comprei uma bike básica, não tinha nem marcha, e comecei a andar de noite na cidade, que é de interior. A primeira vez foram uns 11 quilômetros.
Comecei a gostar do pedal e continuei fazendo a atividade física. Paralelo a isso, acabou o período que tinha que tomar remédio e a fisioterapia. Foi diminuindo a dor, cada dia tinha uma melhora.
Segui andando de bike. Tirar fotos dos locais que passava e acompanhar meu progresso me motivava bastante. O vento no rosto também foi algo que me apaixonou, gerava um bem-estar muito grande.
Mudei alguns hábitos de alimentação também. Comecei a ver o mundo com outros olhos, acredito que nada acontece por acaso. Deus me colocou no caminho.
Eu me casei de novo e meu marido me incentivou a comprar outras bicicletas. Eu vi que eu queria ir além da cidade, andar no chão (estradas de terra) também, via o pessoal pedalando, conheci pessoas diferente e fomos formando um grupo. Todo sábado a gente ia pedalando para longe da cidade.
A minha maior pedalada até hoje foi de 223 km, atravessei o Albardão, a praia com maior extensão do mundo, fica entre a Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, até o Chuí. Essa é uma travessia muito famosa, foram três dias de aprendizado, eu e Deus. Ali que eu fui mudando. Quando eu vi, estava curada. O esporte me ajudou a fazer essa mudança."
Saiba mais sobre paralisia de Bell
A paralisia de Bell é uma condição médica que afeta o nervo facial, causando fraqueza súbita e temporária nos músculos do rosto.
Causas: A causa exata não é conhecida, mas acredita-se que a paralisia de Bell seja geralmente desencadeada por uma infecção viral, como o herpes simplex. Também pode ser causada por outros fatores, como inflamação do nervo facial.
Sintomas: Os sintomas típicos incluem fraqueza ou paralisia repentina de um lado do rosto, dificuldade em fechar um olho ou sorrir de um lado da face, queda da pálpebra e boca torta. Pode haver também perda do paladar, aumento da sensibilidade ao som em um ouvido e produção excessiva de saliva.
Tratamento: O tratamento da paralisia de Bell depende da gravidade dos sintomas. Geralmente, o médico pode prescrever medicamentos, como corticosteroides, para reduzir a inflamação e acelerar a recuperação. Terapia física e exercícios faciais também podem ser recomendados para ajudar a restaurar a função muscular. Na maioria dos casos, a paralisia de Bell melhora em algumas semanas, ou meses, e a maioria das pessoas se recupera completamente.
É importante consultar um médico se você suspeitar de paralisia de Bell, pois outras condições médicas podem apresentar sintomas semelhantes, e o diagnóstico correto é essencial para o tratamento adequado.
Diagnóstico: O diagnóstico da paralisia de Bell geralmente é feito com base nos sintomas e no exame físico realizado por um médico, que pode pedir exames adicionais, como uma ressonância magnética, para descartar outras condições que possam estar causando os sintomas.
Cuidados durante a recuperação: Durante a recuperação, é importante proteger o olho afetado, pois a incapacidade de fechar completamente a pálpebra pode levar a problemas oculares, como ressecamento e úlceras na córnea. Um oftalmologista pode recomendar o uso de lágrimas artificiais e, às vezes, até mesmo o uso de um curativo ou óculos de proteção.
Suporte emocional: A paralisia de Bell pode ser emocionalmente desafiadora devido às mudanças na aparência facial temporárias. O apoio de amigos, familiares e, em alguns casos, aconselhamento psicológico, podem ser úteis para lidar com o impacto emocional da condição.
Complicações possíveis: Embora a maioria das pessoas se recupere completamente da paralisia de Bell, algumas podem experimentar complicações, como:
1. Síndrome de Frey: Isso ocorre quando os nervos se regeneram de maneira anormal, causando sudorese excessiva e rubor no rosto durante a alimentação.
2. Espasmo hemifacial: Algumas pessoas podem desenvolver espasmos involuntários em um lado do rosto após a recuperação.
Grupos de risco: A paralisia de Bell pode afetar pessoas de todas as idades, mas é mais comum em adultos jovens e, em especial, durante a gravidez.
Prevenção: Não existe uma maneira conhecida de prevenir a paralisia de Bell, uma vez que sua causa exata ainda não é completamente compreendida. No entanto, manter um sistema imunológico saudável e evitar o contato próximo com pessoas com infecções respiratórias virais pode ajudar a reduzir o risco.
Fonte: Haroldo Chagas, Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro.
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