A ciência do riso: como o humor e as gargalhadas afetam sua saúde

Em 1872, Charles Darwin escreveu, no seu livro "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais", sobre o riso não ser só do ser humano, mas também de outras espécies, mostrando que a expressão facial de felicidade leva uma vantagem para um grupo coeso.

"Aqueles animais que tinham uma expressão de maior felicidade sobreviviam com maior frequência do que outros grupos. A partir de então, vem se falando muito nessa questão de que rir é o melhor remédio", diz o cardiologista Alberto Las Casas Junior.

Desde bebê o ser humano já é capaz de produzir risadas como uma reação ou estímulo. Um artigo publicado em 2019 no periódico Journal of Hospital Medicine mostrou que, por conta dos neurônios-espelho, os bebês imitam respostas faciais e emocionais, como o riso. "O sorriso e a gargalhada ativam neurônios-espelho no cérebro de primatas e humanos. É por isso que as comédias costumam incluir trilhas sonoras de risos —ouvir o riso nos faz rir", diz um trecho do artigo.

Inclusive, crianças riem muito mais do que adultos. Segundo o texto do periódico, os pequenos riem cerca de 400 vezes por dia, enquanto os adultos riem, em média, apenas cerca de 15 vezes.

Cada pessoa tem a sua relação íntima e específica com o riso e, por isso, ele pode se manifestar de diferentes formas ao longo da vida. A psicologia e a psicanálise reconhecem que o riso, especialmente o humor, pode funcionar como um mecanismo de defesa que nos permite lidar com a realidade de uma forma mais leve. "Em situações de estresse, por exemplo, o humor pode nos ajudar a lidar com a situação de uma maneira menos intensa emocionalmente", fala a psicóloga Lizandra Arita.

Ela explica que o riso e o humor são frequentemente usados como ferramentas em psicoterapias, pois ajudam a criar uma conexão entre psicólogos e pacientes, além de facilitarem a abertura para tópicos difíceis.

Entretanto, segundo ela, é importante falar sobre a congruência do riso com a sua autenticidade. Ou seja, a correspondência entre o riso e a experiência emocional interna de uma pessoa.

"O riso inautêntico ou forçado pode ser percebido como incongruente com a experiência emocional de um indivíduo, o que pode gerar desconforto nos outros e dificultar a conexão emocional", diz.

A especialista afirma que pesquisas sugerem que somos intuitivamente capazes de discernir o riso autêntico do inautêntico, enfatizando assim a importância do riso (autêntico) para a comunicação humana efetiva.

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Além disso, o riso é uma poderosa ferramenta de ligação social. Rir com os outros fortalece os laços sociais, aumenta a cooperação e promove uma sensação de pertencer a um grupo. "O riso pode servir como um 'código social' que indica aceitação e inclusão, muitas vezes operando em um nível inconsciente", fala Arita.

Além do benefício social

Mais que um gesto mecânico, o ato (ou hábito) de rir é sobretudo uma característica de quem encara a vida de forma mais leve.

"A risada é o sintoma, é a manifestação física. O que faz a diferença é conseguir ver o lado engraçado da coisa. E sim, isso não melhora pouco, isso melhora muito a vida da pessoa", destaca o psiquiatra Isaac Efraim. "Rir é o melhor remédio, mas rir enquanto forma de enxergar a vida de uma forma mais leve, mais irônica, mais engraçada."

Ele faz questão de pontuar que, claro, isso nem sempre está sob o controle da pessoa. Alguns são naturalmente mais sérios ou têm mais dificuldade de encarar com leveza determinadas situações do cotidiano. Isso pode levá-los para o lado oposto, quando surgem sintomas de irritação e de estresse crônicos, por exemplo.

O riso, ao menos o genuíno, é, portanto, uma reação involuntária, espontânea e individual. "Embora possamos controlar o riso uma vez que começou, não temos a capacidade de produzir ou de estimular um riso autêntico de forma intencional", diz a psicóloga Lizandra Arita.

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O bom humor, uma interpretação bem humorada da vida, produz neurotransmissores favoráveis ao bem-estar e ao relaxamento. "O bom humor muda toda a química do cérebro humano", enfatiza Efraim. "Infelizmente, muitas pessoas não conseguem isso porque carregam distimias (depressão de longa duração), que são as alterações do humor."

Segundo ele, a pessoa que vê a vida de uma forma engraçada não tem necessidade de se defender e relaxa na relação com os acontecimentos, ficando mais solta e mais absorta nas informações que serão processadas pelo processo cognitivo.

E falando em relaxar, os músculos do corpo também se beneficiam com o estado de prazer gerado pelo riso. A liberação da risada promove um distensionamento muscular geral muito intenso, sendo capaz de gerar um relaxamento geral da musculatura.

Em uma grande manifestação de felicidade com um sorriso, principalmente com uma boa gargalhada, há contração das musculaturas do rosto e também do tórax e do abdome, principalmente o diafragma, conforme destaca o cardiologista Alberto Las Casas Junior. Isso favorece, inclusive, uma melhor respiração, melhorando a movimentação do tórax.

Vários músculos do organismo são envolvidos. Não só os músculos do rosto, da face, mas também do tórax e do abdome. Ao termos essas alterações musculares, também temos liberações de hormônios neurológicos como a dopamina e as endorfinas, que dão mais alegria, prazer e ajudam a reduzir o cortisol, o hormônio do estresse, da ansiedade. Alberto Las Casas Junior, cardiologista

Segundo ele, além das alterações no cortisol, também há influência no sistema imunológico, diminuindo inflamações em nível celular que podem ser prejudiciais para a imunidade. "O riso pode aumentar a imunidade ao aumentar a produção de anticorpos e ativar células que combatem doenças, e até mesmo aliviar a dor ao liberar endorfinas, os analgésicos naturais do corpo", completa Arita.

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Benefícios do riso para o corpo:

promove um relaxamento geral dos músculos;

libera hormônios do prazer, como endorfina e dopamina;

reduz o cortisol, "hormônio do estresse";

fortalece a imunidade;

melhora a respiração;

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ajuda no combate à depressão e ao estresse.

Como rir mais?

Como vimos, a risada, para trazer benefícios ao corpo e à mente, precisa ser autêntica. Porém, é possível aprender a estimular e a desenvolver essa prática do riso. Confira algumas dicas dos especialistas consultados:

Descubra o humor no cotidiano: as circunstâncias do dia a dia podem se tornar fonte de diversão se vistas sob um ângulo diferente. Busque o lado divertido das pequenas coisas e evite encarar tudo com extrema seriedade.

Veja comédias: filmes, séries, vídeos ou apresentações de stand-up comedy podem ser excelentes maneiras de proporcionar boas gargalhadas autênticas.

Desfrute do tempo com pessoas que te façam rir: se existem amigos ou familiares que sempre trazem sorrisos ao seu rosto, procure aproveitar mais momentos com eles. O riso é contagiante, lembre-se!

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Exercite a risoterapia: essa prática envolve rir intencionalmente como forma de terapia. Há grupos e sessões de terapia do riso aos quais você pode se associar.

Mantenha-se ativo: atividades físicas, como a ioga do riso, podem ser úteis para induzir o riso.

Participe de jogos e atividades recreativas: jogos de mesa, adivinhações ou qualquer tipo de atividade que você aprecie podem ser formas eficientes de proporcionar mais risadas.

Leia livros humorísticos ou quadrinhos cômicos: esses podem ser eficazes gatilhos para risadas.

Cultive uma postura otimista: procure observar o aspecto positivo das situações e ria diante dos obstáculos da vida, em vez de se aborrecer com eles.

A meta não deve ser simplesmente rir mais, mas encontrar mais contentamento e felicidade na vida, e o riso é apenas um reflexo. Se você perceber que a falta de riso está relacionada à depressão ou à ansiedade, procure o auxílio de um profissional de saúde mental.

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Fontes: Alberto Las Casas Junior, cardiologista clínico formado em medicina pela Faculdade de Medicina de Catanduva, especialista em cardiologia pela Beneficência Portuguesa, é professor das Faculdades Alfredo Nasser e cardiologista clínico no Instituto de Neurologia de Goiânia e no Hospital Israelita Albert Einstein - Goiânia; Isaac Efraim, médico psiquiatra, foi professor dos cursos de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Universidade Santo Amaro; Lizandra Arita, graduada em psicologia pela Universidade Bandeirante de São Paulo e em engenharia pela FEI, também psicóloga institucional e clínica, e atua hoje na Clínica Mantelli.

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