Evite que o colega de trabalho ansioso ou fofoqueiro abale sua saúde mental

O colega reclama demais, está sempre desanimado, espalha boatos ou busca na comunicação passiva agressiva se defender em qualquer tipo de situação. São muitos perfis de pessoas que constroem o ambiente de trabalho, mas mesmo parecendo inofensivos, eles podem influenciar sua saúde.

Estudos clínicos mostraram que a interação social no trabalho é um importante fator de risco para estresse, depressão e outros transtornos mentais. Isso porque a influência da cultura e dos colegas de trabalho sobre sintomas pode ser positiva ou negativa, dependendo da qualidade dos relacionamentos interpessoais.

Conflitos, fofocas e alta competição podem agravar a ansiedade, enquanto laços de colaboração, reconhecimento pelo trabalho realizado e uma comunicação clara e segura tendem a reduzi-la.

Metas, formas de controle, risco de demissão, pouca autonomia. Essas são algumas situações que podem influenciar no comportamento de um colega de trabalho, gerando uma ansiedade que pode contaminar o ambiente. Contudo, a responsabilidade precisa ser avaliada. Nem é sempre individual e sim do ambiente construído pela cultura da empresa. Bruno Chapadeiro, psicólogo

Um levantamento realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostra que cerca de 15% dos trabalhadores adultos vivem com um transtorno mental, que pode envolver sintomas intensos e prolongados que afetam significativamente a vida cotidiana. Muitas vezes, esses transtornos são acompanhados de queixas como cansaço, inquietação, problemas de concentração e irritabilidade —e tudo pode influenciar terceiros.

De acordo com a literatura cientifica, os comportamentos dos colegas de trabalho afetam as percepções e atitudes dos funcionários em relação ao trabalho, sendo assim, esses sintomas também afetam quem está em volta, os "observadores", que podem experimentar uma tensão emocional associada aos transtornos mentais, inclusive impactando na rotatividade dos funcionários dentro de uma empresa.

Para além do comportamento, uma pesquisa realizada na Universidade de St. Louis (EUA) apontou que o estresse de terceiros pode influenciar biologicamente no aumento de cortisol, hormônio ligado ao estresse, em pessoas que observam outras pessoas estressadas.

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Imagem: iStock

Efeitos físicos e emocionais

A exposição contínua a um ambiente de trabalho tóxico ou estressante, construído também pelos colegas de trabalho, pode levar a problemas de saúde mental a longo prazo como transtornos de ansiedade, depressão e síndrome de burnout.

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O médico de família e comunidade Marcus Vinicius Dutra Zuanazzi, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, reforça que é preciso ficar atento aos sintomas físicos e emocionais dessa exposição.

"Mudanças de humor podem ser um indicador importante, mas há outros como fadiga constante, dificuldade de concentração, evitar interações sociais que antes eram prazerosas, além de dores de cabeça, tensão muscular ou problemas digestivos são sintomas comuns nessas situações", diz ele.

Para aliviar os sintomas e diminuir o impacto da exposição, Zuanazzi endossa que é fundamental estabelecer uma rotina fora do trabalho que traga satisfação e prazer, como atividade física, meditação e hobbies, além de ter suporte da cultura organizacional.

"É importante também definir prioridades e limites, participar de treinamentos sobre comunicação, gestão de conflitos, que têm sido cada vez mais estimulado em diferentes contextos nos últimos anos."

Dá para evitar?

Para lidar com esse tipo de situação e aliviar o impacto na saúde mental, Ana Paula Teixeira, pesquisadora e médica do trabalho da Universidade Católica do Salvador, aponta que é preciso estar com seu processo de autoconhecimento em dia para não estabelecer uma relação disfuncional.

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O desafio é identificar o ponto de choque, o que mantém você ligado a esses profissionais dentro dessa zona de conflito. Estabelecer limites, concentrar-se nas tarefas e fazer acordos podem diminuir as influencias negativas do comportamento ansioso. Ana Paula Teixeira, pesquisadora e médica do trabalho

Uma outra dica da pesquisadora é reconhecer que não é possível mudar as pessoas, nem fazer com que elas se comportem ou sejam da forma como você espera. Contudo, é possível encontrar pontos de conexão com os colegas para abordar temas positivos, concentrar-se na conclusão dos projetos e em ser uma fonte de inspiração para transformações positivas.

"Estabeleça limites claros, inclusive em relação ao tempo que dispõe para se dedicar a assumir tarefas e responsabilidades de outras pessoas negligenciando seus interesses e necessidades", reforça Teixeira.

O papel da empresa

Promover a saúde mental e o cuidado ao transtorno da ansiedade devem ser tópicos abertos de discussão, e as empresas desempenham papel vital em quebrar barreiras e fornecer recursos necessários para o bem-estar mental de seus colaboradores.

Para isso, a cultura organizacional focada na saúde mental deve se concentrar, minimamente, na identificação de riscos e capacitação, de acordo com Teixeira.

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A capacitação permite uma melhor compreensão e apoio aos colegas que podem estar enfrentando desafios associados à saúde mental. "Um ambiente de trabalho saudável, onde a saúde mental é valorizada, tende a promover maior produtividade; os profissionais são mais engajados, criativos e resilientes", diz a pesquisadora.

Fontes: Ana Paula Teixeira, pesquisadora e médica do trabalho da Universidade Católica do Salvador; Bruno Chapadeiro, psicólogo, representante do Conselho Federal de Psicologia e professor da Universidade Federal Fluminense; Marcus Vinicius Dutra Zuanazzi, médico de família e comunidade, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

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