'Achei que era só uma dorzinha e fraturei as pernas por excesso de corrida'

A atriz Thaina Chagas, de 24 anos, se apaixonou pela corrida, e o desejo de ir cada vez mais longe a fez se dedicar ao extremo. Treinando sem ajuda profissional e todos os dias, ela acabou ignorando as dores, se lesionou e ficou uma temporada na cadeira de rodas. "Achei que era uma dorzinha e fraturei as duas pernas."

Recuperada, ela usa as redes sociais para sensibilizar outras pessoas sobre a importância de reconhecer seus limites.

Ao VivaBem, Thaina conta sua história:

'De segunda a segunda'

"Sempre fui sedentária, mas, no fim de 2020, decidi mudar: comecei a treinar e introduzi a corrida na minha vida, mesmo sem ter resistência física nenhuma.

Queria correr todo domingo de manhã, parei de ficar em festa de madrugada, de sair aos finais de semana e cortei a bebida. Me sentia uma pessoa melhor e mais disposta, mas foi como pular de ponta em uma piscina rasa.

Me joguei de cabeça sem me preocupar que meu corpo precisava entender esse processo. Não dei tempo para ele se preparar. Não tinha um dia de descanso, treinava de segunda a segunda.

Meus treinos eram sem acompanhamento profissional porque não me preocupava com isso, achava que não era importante.

Em 2022, me inscrevi para fazer a prova de 10 km da Maratona do Rio. Comecei a treinar mais porque queria completar a corrida em uma hora, mas não tinha esse preparo todo. Corria 5 quilômetros dia sim, dia não, e fazia um longão (treino de maior distância ou duração da semana) todo fim de semana. Tudo sem acompanhamento.

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Desenvolvi canelite, uma inflamação comum entre corredores, e um médico me receitou um remédio para dor e um anti-inflamatório. Tomei a medicação certinha, mas não parei de treinar. E a dor só aumentava.

Thaina na corrida em que se lesionou em 2022
Thaina na corrida em que se lesionou em 2022 Imagem: Arquivo pessoal

Tomava um ibuprofeno todos os dias de manhã, e de seis em seis horas, porque já acordava sentindo dor para fazer coisas do dia a dia, como subir escada e ir para a faculdade, mas acreditava que a dor era pouca. Alguns amigos falavam que não valia a pena parar.

Perto da prova, a dor ficou ainda mais forte e o remédio só amenizava —não parava mais. No dia, acordei e tomei meu ibuprofeno. Fui para a corrida animada, feliz e com uma dor que eu já tinha normalizado. Mas, no meio da prova, ela ficou muito forte.

Corredor tem o hábito de se incentivar, então não deixamos ninguém desistir no meio de prova. Meu amigo, que hoje é meu namorado, falava: 'vamos, não desiste, você vai conseguir', mas não estava mais dando conta.

No quilômetro 8, me sentei e um grupo de senhoras passou e falou: 'uma menina jovem, vamos terminar, falta pouco'.

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Então, me levantei e corri. Quando a adrenalina passou e meu corpo começou a esfriar, senti uma dor muito forte. Percebi que tinha algo de errado, só não pensava que tinha quebrado as duas pernas.

Passei quatro dias em casa sem conseguir sair nem andar direito até que minha mãe me levou direto para o hospital. Um ortopedista me atendeu na emergência, pediu exames e disse que eu estava com uma canelite avançada.

'Fratura nas duas pernas'

Quando ele viu o raio-x, me mostrou dois risquinhos que indicavam que eu tinha trincado as duas tíbias. Sobrecarreguei tanto as articulações e o osso que provoquei uma fratura nas duas pernas.

A canelite é comum entre corredores, mas, neste estágio avançado, pode causar uma lesão por estresse. Precisei imobilizar, usar bota ortopédica... Foram dez semanas sem apoiar o pé no chão.

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Lesões foram identificadas em raio-x e, depois, em ressonância magnética
Lesões foram identificadas em raio-x e, depois, em ressonância magnética Imagem: Arquivo pessoal

Na minha cabeça, eu ia terminar a prova, descansar, tomar um remédio e melhorar, mas entrei em um hospital andando e saí na cadeira de rodas. Não imaginava que isso pudesse acontecer.

Quando a gente começa a treinar, nunca imagina que o excesso pode ser prejudicial. Sempre banalizei muito a dor, achava que parar de fazer algo que era meu objetivo por causa de uma dor era coisa de gente fraca.

Acredito que tudo isso pesou para a minha fratura. A gente sempre pensa: 'vou parar por uma dorzinha?'. Estava tão bem com tudo o que estava conquistando no esporte e nas mudanças no corpo que não queria parar.

'Treino com consciência'

Depois que voltei a andar, tive de fazer um fortalecimento.

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Hoje, faço musculação e corrida, mas não exagero. Já tinha uma lesão nos dois joelhos porque sofri um acidente de carro quando criança, e a orientação é não correr longas distâncias.

Outra coisa muito importante é que hoje tenho acompanhamento profissional.

A corrida continua sendo uma grande paixão: amo correr, mas agora faço isso com menos frequência e dentro do meu limite. Se sinto uma dor mínima, dou um descanso. E não me culpo por precisar descansar, porque não adianta acelerar.

O que é canelite e quando pode causar fratura?

É um processo inflamatório na região da canela. Segundo o ortopedista Claúdio Guerra, que acompanha Thaina, o paciente apresenta dor persistente. Se não tratada, pode evoluir para uma fratura no osso.

Pode acontecer por diversos motivos. Em geral, por sobrecarga de exercícios de impacto, predisposição genética que define a curvatura da tíbia ou por alterações da pisada.

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Diagnóstico é feito por meio de exame físico, associado às informações da história do paciente. Os exames de imagem, como radiografia e ressonância magnética, complementam a avaliação.

Tratamento envolve um conjunto de medidas, como proteger a região machucada, interrompendo atividades físicas; identificar outras causas para a lesão, como sobrepeso ou alteração da pisada; avaliar palmilhas corretivas e mudar hábitos esportivos.

No caso da Thaina, a lesão ocorreu nas duas pernas simultaneamente. Um dos lados estava mais machucado do que o outro. A canelite bilateral simultânea não é muito frequente. Normalmente, o paciente apresenta a queixa em um lado.
Claúdio Guerra, ortopedista especialista em cirurgia do joelho e medicina do esporte

Thaina teve uma fratura por estresse, segundo o especialista, e foi necessário repouso para a cicatrização do osso.

Prevenção consiste em escolher modalidade esportiva mais adequada, além de investir na preparação física: alongamento, fortalecimento muscular, treinos de mobilidade.

Nem todo esporte é a melhor opção para determinada pessoa. Deve-se levar em consideração o biotipo, peso, objetivos, histórico esportivo, doenças associadas, entre outros.
Cláudio Guerra, ortopedista especialista em cirurgia do joelho e medicina do esporte

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