Não caia nessa: teste feito com as mãos comprovaria alergia a alimentos
Recentemente, um vídeo de uma fisioterapeuta e terapeuta integrativa, com foco em terreno biológico, como diz em seu perfil, ensinando as pessoas a descobrirem se têm alergias a alguns alimentos viralizou nas redes sociais.
O teste em questão é o O-Ring Test (em português, chamado de Teste do Anel Bi-Digital) e, segundo ela e a teoria por trás, funciona assim:
Na mão não dominante, a pessoa deve segurar o alimento que deseja testar se lhe causa mal.
Na dominante, fazendo força, une as pontas dos dedos polegar e indicador, formando um elo.
Depois, uma outra pessoa deve colocar dois dedos dentro do elo e tentar separá-los.
Diz a tese que se os dedos soltarem, a pessoa tem alergia à aquilo que está segurando.
A prática foi publicada em 1981 por Yoshiaki Omura, médico e engenheiro nipo-americano.
Pra quem já tinha ficado assustado com o jaleco, aqui vai o vídeo completo. O detalhe mais especial, pra mim, é a legenda traz a frase: "OBS: esse teste é comprovado cientificamente" pic.twitter.com/NHTG3MAD7S
-- MARI KRÜGER (@marikrugerb) September 24, 2023
@draelizetekaffer A melhor forma de saber se jm alimento é bom ou nao para você é fazendo O ring test! #draelizetekaffer #saude #medicina #saudeintegrativa #integrativa #dicadesaude ? som original - Dra Elizete Kaffer
No Brasil, a Ambbdort (Associação Médica Brasileira do Bi-Digital O-Ring Test) é a instituição que detém os direitos de difusão, da prática e do uso do nome.
Se você navegar no TikTok e procurar pelo teste, existem muitos vídeos que mostram como é feito, e alegando que ele também pode ser usado para mostrar se algo faz bem ou mal a você baseado na corrente elétrica do seu corpo. Ele serviria até para saber qual xampu escolher, por exemplo.
@flaviapalmasaudecapilar Já conhecem a técnica que te ajuda nas escolhas do dia a dia? ?? #biorresonancia #terapiaholistica #terapiaintegrativa #dicas #utilidades ? som original - Flávia Palma
Segundo o site da associação, "a técnica tem como base o fenômeno do enfraquecimento muscular provocado pela ressonância entre duas substâncias idênticas. O teste é realizado utilizando-se a musculatura dos dedos em forma de anel".
O site reitera: "A utilização do método para diagnóstico e tratamento é considerada como 'experimental', mesmo tendo sido publicada e patenteada, bem como validada em vários países, inclusive no Brasil. Este método não deve substituir, em hipótese alguma, os métodos convencionais de diagnóstico e tratamento vigentes com base em protocolos de pesquisa".
Como alergia alimentar é assunto bem sério, a reportagem de VivaBem foi conversar com profissionais especializados em doenças alérgicas para entender o que pensam do O-Ring Test e sua aplicação na prática do diagnóstico alérgico de alimentos, como propõe o vídeo viralizado.
O que diz a ciência
As fontes consultadas são unânimes em dizer que o teste não tem comprovação científica e não deve ser usado como substituto de um diagnóstico tradicional de alergia.
"Não consigo compreender quem, na atualidade, com os avanços da medicina, aplica procedimentos diagnósticos de eficácia não comprovada havendo aqueles cuja sensibilidade e especificidade são conhecidas e confirmadas", diz a médica Lucila Camargo Lopes De Oliveira, coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) e professora adjunta da disciplina de alergia, imunologia clínica e reumatologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
Jackeline Motta Franco, coordenadora do Núcleo de Alergia Alimentar da UFS (Universidade Federal de Sergipe), aponta que "por falta de conhecimento sobre o procedimento, o cidadão acaba sendo a vítima da popularização de testes diagnósticos sem nenhuma fundamentação científica propagados em redes sociais, onde não há nenhum filtro para separar a ciência do charlatanismo."
Do ponto de vista científico, de tudo que se sabe sobre os mecanismos de alergia alimentar, este teste não faz nenhum sentido. E o pior é que além de não ajudar pode fazer mal se levar a dietas restritivas. Jackeline Motta Franco, diretora científica da Asbai
Portanto, não caia nessa! Procure sempre um médico antes de realizar procedimentos estimulados em redes sociais. Em geral, possíveis charlatões usam termos técnicos, pouco comuns no vocabulário do dia a dia, causando a impressão a leigos de que há respaldo científico no que estão promovendo.
Por que temos alergias?
Ter ou não alergia é algo que não temos controle. O surgimento envolve fatores genéticos e relacionados ao ambiente.
No caso de alergias a alimentos, na maioria das vezes, as reações surgem na infância. Mas isso não impede que ao longo da vida ocorram manifestações antes adormecidas.
Sinais de alergia
Pessoas alérgicas a alguns alimentos, quando em contato com eles, apresentam sintomas variados, que vão de quadros mais leves a fatais. Os sintomas podem vir após minutos ou demorar horas. Alguns são:
no sistema respiratório: coriza, espirros, prurido nasal, congestão, tosse, falta de ar, chiado, dificuldade respiratória, edema de glote;
no sistema cutâneo: urticas, inchaços, dermatites;
no sistema digestivo: náuseas, vômitos, diarreia, sangramento nas fezes, engasgos, impactação alimentar, cólicas, distensão abdominal;
outros: queda abrupta da pressão, perda da consciência, perda de peso.
Como é feito o diagnóstico de uma alergia
Para o diagnóstico, é essencial juntar as peças de um quebra-cabeças por meio de uma anamnese (conversa com o médico) minuciosa, exame físico e, quando indicado, exames e procedimentos auxiliares diagnósticos.
Existem testes cutâneos, de sangue e teste de provocação oral e o tempo para os resultados depende do mecanismo imunológico em investigação e do teste empregado —alguns ficam prontos em minutos.
Atenção: testes alérgicos de forma isolada não comprovam alergia alimentar.
Fontes: Fabiane Pomiecinski Frota, professora do curso de medicina da Unifor e presidente da Asbai-CE (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia - Regional Ceará); Jackeline Motta Franco, coordenadora do Núcleo de Alergia Alimentar da UFS (Universidade Federal de Sergipe), diretora científica da Asbai e membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai; e Lucila Camargo Lopes de Oliveira, professora adjunta da disciplina de alergia, imunologia clínica e reumatologia do Departamento de Pediatria, da Escola Paulista de Medicina Unifesp e coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Asbai.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.