Anabolizantes: quais são os mais usados e os perigos dessas substâncias?

Eles causam câncer, infarto, impotência sexual, hepatite, infertilidade e diversos outros problemas no seu corpo. E, mesmo com prescrição médica proibida para fins estéticos (ganhar músculos, perder gordura, definir o corpo) ou melhora da performance esportiva, o uso de anabolizantes é muito comum entre praticantes de musculação e outras atividades físicas.

"O uso de anabolizantes, especialmente por aqueles que desejam melhorar a aparência e o condicionamento físico, tornou-se uma verdadeira epidemia mundial e deve ser considerado um grande problema social e de saúde pública também no Brasil", diz um trecho do posicionamento da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) sobre a utilização de esteroides.

Mas o que são essas substâncias? Como elas agem e qual o perigo de sua utilização? Explicamos a seguir.

O bê-a-bá dos anabolizantes e esteroides

Anabolizantes São substâncias que participam da construção de células em nosso organismo, incluindo a gordura e os músculos. Portanto, o macarrão e a carne que você come, por exemplo, fornecem substâncias com potencial anabolizante —a glicose e os aminoácidos, respectivamente.

Hormônios anabolizantes Nosso corpo produz naturalmente substâncias que participam do processo anabólico (construção de células e tecidos), promovendo o aumento da massa muscular. Entre as principais estão o GH (hormônio do crescimento) e a testosterona ("hormônio masculino", mas também produzido por mulheres).

Esteroides São substâncias produzidas no organismo a partir do colesterol, como o cortisol (hormônio do estresse), a testosterona, a progesterona ("hormônio feminino") e a vitamina D.

Como você viu, até o momento só falamos de substâncias naturalmente produzidas pelo organismo. Mas existem esteroides anabolizantes fabricados em laboratório, como a versão sintética da testosterona.

O hormônio sintético tem uso médico indicado e é seguro, por exemplo, quando a pessoa possui alguma doença que leva à deficiência na produção de testosterona.

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Porém, a utilização do esteroide por pessoas "saudáveis", para acelerar o aumento dos músculos e a redução da gordura corporal, traz vários riscos à saúde, explica Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).

Os anabolizantes ajudam a construir músculos, mas também podem trazer problemas como câncer, infarto, morte súbita
Os anabolizantes ajudam a construir músculos, mas também podem trazer problemas como câncer, infarto, morte súbita Imagem: iStock

Tipos de esteroides anabolizantes

Os esteroides anabolizantes sintéticos estão disponíveis em injeção intramuscular, gel, comprimidos e cápsulas. Eles são vendidos em drogarias ou até mesmo elaborados em farmácias de manipulação.

Alguns dos nomes mais comuns de esteroides anabolizantes são:

  • Androxon
  • Boldenona
  • Deca Durabolin (nandrolona)
  • Deposteron
  • Dianabol (metandrostenolona)
  • Durateston
  • Hemogenin (oximetolona)
  • Metenolona
  • Oxandrolona
  • Testosterona
  • Trembolona
  • Winstrol (estanozolol)
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Esses medicamentos são seguros quando usado sob prescrição médica, para tratar problemas de saúde —mas é importante ressaltar que o CFM (Conselho Federal de Medicina) proibiu este ano que médicos prescrevam o uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos.

Há esteroides anabolizantes usados via oral, como a oxandrolona, que podem estar no meio de um medicamento manipulado. Às vezes, o paciente nem sabe que está usando um comprimido que tem o hormônio dentro Giovanna Carpentieri, médica endocrinologista e metabologista, com doutorado em obesidade e endocrinologia pela Unifesp

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Como os anabolizantes agem no corpo

Esteroides anabolizantes sintéticos circulam no sangue como se fossem testosterona, mas não repõem o hormônio naturalmente fabricado pelos testículos ou ovários. "Então, no paciente que está usando anabolizante, o nível de testosterona não aumenta. Pelo contrário, tende a cair porque suprime a produção natural", diz Buzatto.

O médico explica que os medicamentos foram criados tendo a testosterona como base, mas, em comparação ao hormônio natural, os remédios são capazes de oferecer um efeito anabólico maior do que o efeito androgênico (que gera características masculinas, como voz grossa, pelos).

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Ou seja, devido a esse maior potencial anabolizante, com o esteroide sintético é possível potencializar resultados como ganho de massa muscular, perda de gordura e melhora da saúde óssea com baixas doses.

Os perigos dos anabolizantes

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Essas substâncias trazem vários riscos, a começar pela falta de segurança dos produtos comprados ilegalmente.

Como é preciso receita médica para adquirir os esteroides anabolizantes nas farmácias, muitos usuários usam medicamentos de procedência desconhecida, que podem ser falsificados, misturados com substâncias tóxicas ou, ainda, de uso veterinário —o que traz riscos adicionais, pois foram testados em aninais, não em humanos.

O uso exagerado de anabolizantes, sem orientação médica, e a associação com algumas substâncias que "cortam" o efeito colateral dos esteroiodes também turbinam os perigos ao organismo.

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Clayton Luiz Dornelles Macedo, endocrinologista e médico do esporte do Instituto Cohen, exemplifica citando o uso comum de testosterona exógena (que bloqueia a função do testículo), aliada ao clomifeno, para estimular o testículo a não atrofiar. Mas a combinação potencializa efeitos colaterais.

"Como a testosterona pode fazer também crescer a mama (ginecomastia), as pessoas também usam anastrozol, que é um inibidor do receptor do estrogênio da mama. Só que isso aumenta o risco de tromboembolismo." Ou seja, é um efeito em cascata, que gera um problema atrás do outro.

Como a 'bomba' explode cada parte seu corpo

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Sistema nervoso central: há tendência de desenvolver mais irritabilidade, comportamento agressivo e dependência química. "É uma dependência psicológica, mas também física", diz Macedo. "A abstinência pode ser semelhante à de opioides." Também existe uma atrofia do córtex cerebral, risco de déficit cognitivo e perda da função neural, aumentado o risco de demência.

Fígado: há grande risco de desenvolver hepatite medicamentosa, câncer e insuficiência hepática, muitas vezes até necessitando de transplante de fígado. Esteroides de uso oral, como dianabol e oxandrolona, têm grande potência de sobrecarregar o órgão, causando um efeito hepatotóxico elevado.

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Rim: também é afetado, podendo sofrer quadros como nefrite, inflamação do rim tanto aguda quanto crônica e até insuficiência renal.

Sistema cardiovascular: há uma baixa do HDL ("colesterol bom") e aumento do LDL ("colesterol ruim"), o que eleva o risco de infarto, AVC e morte súbita. "O sangue fica mais viscoso e com isso o risco de trombose também é relativamente comum", destaca o médico Fabrício Buzatto. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão, anabolizantes ainda podem aumentar a pressão arterial —outro fator de risco para uma parada cardíaca ou derrame.

Feridas no local da aplicação: é comum haver sensibilidade, dor, vermelhidão, lesões, pus e infecções na parte do corpo em que o anabolizante é aplicado —especialmente quando as substâncias são clandestinas. "Isso pode, inclusive, levar a uma infecção sistêmica, sepse e morte", fala Clayton Macedo.

Alterações físicas: Há aumento da produção de pelos, acnes, queda de cabelo, crescimento da mama (ginecomastia), atrofia do testículo em homens e aumento do clitóris e engrossamento da voz em mulheres.

Infertilidade: a atrofia testicular pode levar a não produção de espermatozoides. "Essa é a principal causa de jovens com incapacidade de ter filhos, chamada infertilidade masculina, que é o uso crônico de testosterona", diz Buzatto.

Tumores: há um maior risco de desenvolver câncer de fígado e de pâncreas, por exemplo.

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Impotência sexual: devido à atrofia nos testículos, ao deixar de usar o anabolizante a pessoa tem uma queda no nível de testosterona e pode sofre com falta de libido e impotência sexual.

É importante ressaltar que não existe acompanhamento médico que garanta segurança no uso de esteroides anabolizantes para fins estéticos ou de performance, sem uma real necessidade clínica (quando há um problema de saúde). Além disso, saiba que você pode apresentar efeitos colaterais independente da dose Clayton Macedo, endocrinologista e médico do esporte

Suplemento não é bomba: entenda diferença

Algumas pessoas, especialmente iniciantes na musculação, confundem suplementos alimentares com os esteroides anabolizantes.

O suplemento, como o próprio nome diz, é um produto que visa completar a necessidade diária de algum nutriente ou substância que não conseguimos obter naturalmente, via alimentos.

Proteína, creatina, carboidratos, vitamina D, vitamina C, isotônicos e cafeína são alguns dos suplementos usados por praticantes de atividade física para melhorar a performance ou os resultados no treino.

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Esses produtos são liberados pela Anvisa e seguros. O uso sem exagero, com orientação de um nutricionista, não traz riscos à saúde.

É importante ressaltar que não há esteroides anabolizantes nos suplementos vendidos legalmente no Brasil.

Fontes: Clayton Luiz Dornelles Macedo, endocrinologista e médico do esporte do Instituto Cohen (@institutocohen), doutor em endocrinologia clínica pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), especialista em medicina do esporte pela Unifesp, coordenador do Núcleo de Endocrinologia do Exercício junto ao Serviço de Medicina do Esporte da Unifesp, presidente do Departamento de Endocrinologia do Exercício da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), coordenador do Departamento de Atividade Física da Abeso (Associação Brasileira de Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica) e médico do Instituto Cohen Ortopedia, Saúde e Esporte; Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra, membro da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte), formado na Escola de Medicina da Santa Casa de Vitória/EMESCAM, com residência em medicina física e reabilitação (Fisiatria) e pós-graduação em medicina esportiva pela Unifesp, médico fisiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo e no Hospital Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo, responsável pelo ambulatório de dor miofascial e dor crônica e uso terapêutico da toxina botulínica (@fabriciobuzatto); Giovanna Carpentieri, médica endocrinologista e metabologista pela Unifesp, especialista em clínica médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica e em endocrinologia pela Sbem, doutora em obesidade e endocrinologia pela Unifesp; Renato Zilli, endocrinologista, membro da Sbem e do corpo clínico do Hospital Sirio Libanês, doutor em ciências médicas pela USP, com residência em endocrinologia e metabologia pelo Hospital Brigadeiro (SP) e residência em clínica Mmdica pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)

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