'Queria levantar ponta do nariz, perdi parte dele e respiro com alargador'
A esteticista Elielma Braga, 38 anos, conta que perdeu parte do nariz após um procedimento estético com um dentista. "Queria levantar a ponta do meu nariz, ficar mais bonita, e acabei perdendo parte dele", resume a mulher, de Aparecida de Goiânia (GO).
O dentista foi indiciado por lesão corporal e teve o registro no conselho de odontologia suspenso. Ele alega que Elielma teve uma reação rara, demorou a buscar suporte, mas recebeu apoio após o problema.
O que aconteceu
Conheceu o trabalho nas redes sociais. Segundo Elielma, tudo começou em 2020, quando ela procurou Igor Nascimento, um dentista que havia conhecido por meio das redes sociais. "Vi um outdoor, entrei no Instagram dele e agendei um horário. Meu sonho era melhorar a asa do meu nariz, ou seja, levantar um pouco a ponta."
Nas primeiras consultas, o dentista passou bastante segurança. Segundo ela, Nascimento dizia que já tinha feito outros procedimentos e até mostrou exemplos bem-sucedidos.
A ideia era fazer uma alectomia, para reduzir as asas nasais. A técnica envolve anestesia local e corte das estruturas que circundam as narinas. O procedimento ocorreu em junho de 2020.
Decidi fazer, mas, no segundo dia após a cirurgia, percebi que não deu certo. O nariz começou a ficar muito roxo. Então liguei para ele [Nascimento], que disse que era normal. Fiquei esperando normalizar, mas isso nunca ocorreu.
O nariz necrosou e ela conta que precisou fazer 17 cirurgias de reparação e hoje, para respirar, precisa usar um alargador. "Quando tiro, fica difícil de respirar", diz Elielma, que acabou desenvolvendo problemas emocionais. "Pensei que tinha realizado um sonho, mas tudo acabou virando um pesadelo. Minha vida, desde quando isso aconteceu, nunca mais foi a mesma."
Elielma diz que precisa lidar com a vergonha diariamente. Deixou de ir à academia e começou a tomar remédios para depressão.
Engordei muito porque não tenho mais vontade de ir para a academia, tenho muita vergonha, sou uma pessoa sedentária que não tem mais vontade de sair. As pessoas ficam olhando, reparando no meu nariz. Também comecei a usar antidepressivo.
O dentista não deu assistência, segundo a mulher. "Falou que a culpa era toda minha, dizendo que eu tinha uma síndrome de Nicolau." Elielma registrou um boletim de ocorrência contra o profissional em janeiro deste ano.
Polícia investiga
A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Consumidor cumpriu quatro mandados de busca e apreensão na clínica de Nascimento e de outros três dentistas, que trabalham em Aparecida de Goiânia e na capital, na última quarta-feira (22).
Os alvos das investigações são cirurgiões dentistas que teriam realizado cirurgias plásticas em seus consultórios —o que não é permitido pelo Conselho Federal de Odontologia.
Todos os investigados respondem por lesões corporais em razão de terem causado deformidades nos rostos de pacientes. Nos estabelecimentos visitados, foram aprendidos medicamentos e materiais cirúrgicos vencidos, além de prontuários de atendimento que comprovam a realização das cirurgias indevidas.
Polícia Civil, em nota.
A polícia também pediu e o Judiciário deferiu a suspensão das redes sociais dos dentistas, que postavam os resultados das cirurgias para captar novos clientes. Alguns deles davam cursos para que outros profissionais realizassem as cirurgias faciais.
O que o dentista diz
Nascimento afirma que o caso de Elielma foi uma reação após o procedimento que, segundo ele, se chama síndrome de Nicolau. "Algo muito raro de acontecer e foi devido ao preenchimento realizado no nariz dela e não pela cirurgia como estão falando [Elielma nega que tenha feito preenchimento]."
Ele também diz que a paciente demorou a buscar ajuda após o procedimento, o que teria agravado ainda mais a situação. "Ela me procurou após três dias e a situação estava muito ruim. Infelizmente fiquei de mãos atadas e por isso ela sofreu sequelas tão graves."
O dentista afirmou que Elielma teve suporte nos tratamentos que realizou após este episódio e que segue à disposição.
Me sensibilizei bastante com o problema dela. Custeei os medicamentos e tratamentos posteriores com outros colegas. Nunca a deixei desamparada em termos financeiros e acompanhei de perto seu tratamento posterior ao ocorrido.
Indenização
Elielma busca na Justiça uma forma de ser indenizada. Ela espera que o dentista arque com a próxima cirurgia, que deve custar em torno de R$ 30 mil.
As cirurgias não são baratas. Vou precisar tirar uma cartilagem da minha costela para reconstruir minha narina. Depois, vou precisar fazer mais três, cada uma custando mais de R$ 4 mil. Mas não tenho como pagar.
A esteticista pede R$ 42 mil. Um dos processos tramita na esfera criminal por lesão corporal grave. Ainda não há sentença em nenhum dos casos. Sobre a indenização, o dentista afirma que fará o que a Justiça determinar: "Qualquer que seja a decisão judicial eu mesmo farei o possível para colaborar com ela".
Registro suspenso
O Conselho Regional de Odontologia de Goiás informou que o registro profissional de Nascimento está suspenso, por determinação da Justiça. Ou seja, ele não pode atuar. O conselho diz ainda que foi oficiado pela Polícia Civil e prestou esclarecimentos sobre os limites de atuação dos cirurgiões dentistas.
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