Recém-casado e com câncer, ele teve medo de ficar infértil; hoje, é pai
No início de 2013, Alexandre Amorim Arroyo estava com 33 anos e resolveu ouvir o conselho de um amigo médico para fazer uma colonoscopia antes de viajar. "Eu tive um episódio de evacuar sangue", relembra. "Mas nunca imaginei que seria algo grave." O exame mostrou que o intestino já estava totalmente obstruído e o advogado precisou passar por uma cirurgia no dia seguinte.
A seguir, ele conta como mudou hábitos após tratar o tumor, virou maratonista, casou-se novamente e realizou o sonho de ser pai:
"Eu tinha um péssimo estilo de vida. Fumava, bebia e comia muito mal. Durante uma viagem na virada do ano, tive um episódio de evacuar sangue. Tinha uma outra viagem marcada para dali alguns dias para os EUA e tinha me planejado para ver o que estava acontecendo comigo só na volta.
Um amigo médico, que trabalhava em um laboratório, me chamou e falou: 'Olha, vai lá ver antes de viajar, assim você vai tranquilo'. Aceitei o conselho e fiz o exame em 7 de janeiro de 2013.
Logo ficou claro que meu intestino estava completamente obstruído. Na hora, tive que descer para outro andar e fazer uma tomografia e analisar melhor a lesão. Estava sedado, meio grogue, mas percebi que tudo estava indo muito rápido. Só que não entendia a emergência daquilo tudo. Quando sai do exame, esse meu amigo médico, que acompanhou tudo, me abraçou e falou: 'Graças a Deus, não tem metástase'. Aí caiu a ficha: eu estava com câncer.
Fazer o exame naquele momento salvou minha vida. Operei no dia seguinte, mas, antes, acendi meu último cigarro da vida. A cirurgia foi bem-sucedida, retiraram o tumor e parte do meu intestino. Não tive complicações e fiquei uma semana internado.
Aí veio a segunda etapa, que era o tratamento com quimioterapia —inicialmente, seriam 12 sessões.
Preocupação com a fertilidade
Antes de iniciar a quimioterapia, falamos sobre a questão da fertilidade. Eu ainda era novo, minha então esposa também, e desejávamos ter filho. Mas o uso dos remédios poderia interferir na minha produção de espermatozoides e a infertilidade era um risco. Assim, optei por congelar meu esperma para garantir que pudesse ter filhos depois.
Iniciado o tratamento, tudo corria bem. Só que eu estava na terceira aplicação de quimioterapia quando comecei a sentir dores nas costas e no peito.
Fiz exames e descobri que meu coração havia parado por causa da quimioterapia. Interrompi o tratamento e precisei do acompanhamento de um cardiologista para iniciar de novo.
Com o sinal verde, retomei as sessões de quimioterapia. A cada nova aplicação, era necessário fazer uma ressonância magnética para ver como estava o coração. Também iniciei uma medicação cardíaca e tudo seguiu bem. Consegui terminar o tratamento e estava com o câncer controlado.
Mudanças na vida
Depois de todo esse caminho, decidi que precisava mudar de vida. Parei de fumar, passei a cuidar melhor da alimentação, dormir bem e a me exercitar. Correr se tornou uma paixão e me tornei maratonista.
Essa fase de rever as coisas após a quimioterapia mexeu muito comigo. Repensei tudo, incluindo meu próprio casamento. Minha então esposa foi incrivelmente parceira durante todo o tratamento, uma mulher incrível mesmo, mas eu sabia que não estava 100% naquela relação. Não era justo seguir daquela forma. Então, decidimos nos separar. Nos divorciamos no início de 2014.
Em 2015, eu reencontrei uma antiga namorada da adolescência e decidimos dar mais uma chance para o nosso romance. Depois desse encontro, nunca mais nos separamos. Nosso casamento foi naquele mesmo ano.
Hora de ter uma família
Como eu já estava com 38 anos e ela, 37, decidimos ter filhos logo —e aí voltamos à questão da fertilidade. Na época em que decidimos tentar, realizei um espermograma, que indicou um número de espermatozoides abaixo do normal. Enquanto decidíamos como seguir em frente, ela engravidou naturalmente —nem foi preciso acionar o banco em que eu havia feito o congelamento antes da quimioterapia.
Nosso filho está com 7 anos e posso dizer que, depois de todo esse caminho, aprendi a valorizar as pequenas coisas da vida, a curtir cada momento, por mais simples ou banal que ele seja
Faz 10 anos desde que fiz minha última sessão de terapia e nunca mais tive qualquer sinal do câncer. Os médicos já me dizem que estou de alta e curado. Ainda realizo exames de forma rotineira, mas nada demais, é um check-up normal.
Uma coisa que eu faço sempre é falar com meus amigos sobre a colonoscopia. Sei que existe preconceito da parte de muitos homens com o exame e passei a fazer piadas e incentivar os amigos a irem fazer. Isso precisa ser algo normal para todo mundo. Meu irmão, por exemplo, foi fazer o exame porque eu incentivei e descobriu alguns pólipos que poderiam se transformar em câncer. Então, sei que o ajudei de alguma forma."
Câncer de intestino está ligado aos hábitos de vida
O câncer do intestino ou câncer colorretal é o tumor maligno que se inicia no intestino grosso. Este é formado pelo cólon e reto (porção final do intestino que liga o cólon ao ânus).
Considerado o terceiro tipo de câncer mais comum no Brasil, os tumores colorretais perdem em números apenas para os de mama e próstata (sem contar o câncer de pele do tipo não melanoma), de acordo com dados recentes do INCA (Instituto Nacional de Câncer).
Vale dizer que o câncer colorretal, especificamente, sofre grande influência da alimentação —já que muitos aditivos químicos e até o excesso de gordura e carne vermelha, por exemplo, já são ligados ao risco aumentado para ter tumores.
É o que se especula, já que há um aumento dos casos entre pessoas mais jovens, de acordo com um estudo recente publicado pela American Cancer Association —que estima que houve crescimento de 9% nos diagnósticos em pessoas abaixo de 50 anos desde 2020.
"O consumo de fast-food e o aumento no índice de obesidade da população atualmente são fatores que devem, sim, nos deixar mais alertas para o aumento nos casos de câncer do intestino", avalia Tiago Kenji, médico oncologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo.
Kenji acompanhou Alexandre durante seu tratamento e lembra que o advogado enfrentou com serenidade os momentos mais difíceis do tratamento. "Ele já tinha um câncer mais avançado, em estágio 3, mas conseguiu se recuperar bem", afirma.
De acordo com Sérgio Araújo, especialista em cirurgia do aparelho digestivo e em coloproctologia e diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, além da alimentação, outros fatores de risco para a doença incluem idade maior do que 45 anos, histórico da doença na família, histórico de doenças inflamatórias intestinais (como colites e doença de Crohn), sedentarismo e tabagismo.
O aumento nos diagnósticos também tem influência do avanço no rastreio, já que hoje os indivíduos fazem mais exames como a colonoscopia Sérgio Araújo, diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein
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