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O que acontece no seu corpo quando você toma antidepressivos

Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

28/11/2023 04h05

Antes de se deixar levar pelo preconceito e resistir à sugestão médica do uso de um antidepressivo, pergunte-se: quais seriam os riscos de seguir a vida sem tratar a depressão?

Considerados seguros e eficazes, os fármacos que tratam essa enfermidade são apenas parte de um plano de tratamento que deve incluir mudanças no estilo de vida, redução do estresse, psicoterapia, etc. É por meio da interação dessas medidas que os melhores resultados são obtidos.

Apesar disso, os efeitos colaterais dos antidepressivos e o temor de ficar dependente podem atrapalhar essa estratégia e ainda levar ao abandono precoce da terapia. O que muitos não sabem é que somente uma minoria de indivíduos apresentará efeitos indesejados graves.

Na América Latina, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão, sendo as mulheres as mais afetadas.

Esse quadro é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo.

Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, de todas as idades, sofram com o problema —que, em geral, se manifesta no final da 3ª década da vida.

E como o seu organismo reage?

Efeitos benéficos e colaterais variam de pessoa a pessoa, e nem todos os antidepressivos funcionam do mesmo modo para os pacientes. Além disso, pode levar algum tempo até que uma melhora apareça, em geral de 2 a 4 semanas após o início do tratamento.

Conheça alguns dos efeitos esperados desses medicamentos:

  • Melhora dos sintomas e remissão (controle) do quadro
  • Efeitos colaterais comuns
  • Aumento de peso
  • Disfunção sexual

Você passa a ver a vida mais leve

As primeiras respostas benéficas observadas pela maioria dos pacientes são a melhora dos sintomas típicos da depressão e da qualidade de vida:

De 40 a 60 pessoas em um grupo de 100 que usam antidepressivos relatam a melhora de seus sintomas no período de 8 semanas.

É também relatada menor reatividade às dificuldades do dia a dia.

Redução de pensamentos obsessivos.

Maior capacidade de pensar e observar sentimentos e ações.

Desapego de pensamentos negativos e experiências traumáticas do passado.

Melhora da energia, do sono e da concentração.

Em quadros graves, a associação do antidepressivo com outras medicações é comum. A ideia é acelerar a melhora dos incômodos sintomas da doença, especialmente quando há risco de suicídio.

Você nota incômodos

Antidepressivos, como qualquer outro tipo de medicação, apresentam efeitos colaterais que podem variar —a depender da classe utilizada, do tempo de uso e da sensibilidade individual ao fármaco.

Isso significa que nem todos experimentarão sintomas de forma intensa. Alguns nada sentem, outros precisam de mais tempo de adaptação e outros, ainda, terão de mudar o medicamento.

Para grande parte dos pacientes, os incômodos podem ser gerenciados sob a orientação do médico. Os mais comuns deles são os seguintes:

  • Boca seca
  • Náusea
  • Cansaço
  • Insônia
  • Tontura
  • Sonolência
  • Dor de cabeça
  • Diarreia
  • Constipação

Você vê os números da balança aumentarem

Mesmo com o uso de antidepressivos mais modernos, esse efeito colateral pode aparecer. Em muitas situações, pode ser difícil identificar a real causa do ganho de peso, porque ele pode estar associado às seguintes circunstâncias:

Falta de atividade física e alterações no apetite como consequência do quadro depressivo.

Pode ser que, em um primeiro momento, tenha havido perda de peso pela ausência de apetite durante o aparecimento da doença. O aumento posterior pode decorrer da regulação do apetite durante o tratamento.

O fenômeno também pode se dar devido ao ganho natural durante o envelhecimento.

Converse com seu médico para que, juntos, vocês possam avaliar quais poderiam ser as reais causas do ganho de peso e como reduzir, ao máximo, esse efeito colateral. Em alguns casos, alterações no estilo de vida bastarão para manter a balança sob controle; para outros, a mudança do medicamento pode ser necessária.

Você passa a ter menos interesse por sexo

Os especialistas afirmam que, neste quesito, também pode ser difícil estabelecer se as disfunções sexuais são parte dos sintomas da depressão ou se elas decorrem do uso de antidepressivos.

A complexidade dessa condição é que, para algumas pessoas, com a melhora da depressão a libido também responde positivamente. No entanto, nem sempre isso acontece.

80% dos pacientes com depressão reportam o problema.

Mais de 56% dos casos ocorrem com antidepressivos da classe dos IRSs (inibidores seletivos de recaptação de serotonina).

Em geral o quadro se caracteriza pela falta de libido, atraso na ejaculação ou menor intensidade do orgasmo.

Quando esses efeitos persistem, a solução pode ser a alteração de doses, mudança de medicamentos, ou mesmo a introdução de outros fármacos.

Tipos de antidepressivos

Imagem: Getty Images

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Os anos 1950 marcam o aparecimento dos primeiros antidepressivos. Desde então, várias moléculas foram e continuam sendo desenvolvidas e elas são classificadas por suas propriedades farmacológicas.

Destacamos as classes mais utilizadas atualmente:

  • Inibidores seletivos de recaptação da serotonina (citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina e vilazodona)
  • Inibidores de recaptação da serotonina/noradrenalina --também chamados de duais (duloxetina, venlafaxina)
  • Inibidores seletivos de recaptação de noradrenalina e dopamina (vortixetina)
  • Moduladores de seratonina (nefazodona, trazodona, vilazodona)
  • Atípicos, que não se encaixam nas classificações acima (bupropiona, agomelatina)

Os antidepressivos mais antigos são os tricíclicos (amitriptilina, clomipramina, maprotilina) e os inibidores (seletivos e não seletivos reversíveis e não reversíveis) da monoamina oxidase (selegilina, felenzina, moclobemida) e, em alguns quadros, eles ainda têm sido utilizados.

Como os antidepressivos funcionam

Os especialistas acreditam que a depressão tem como causa o desequilíbrio de certos mensageiros químicos que eles chamam de neurotransmissores.

A depender da classe do antidepressivo, seus mecanismos são ligeiramente diferentes. O que todos têm em comum é o objetivo de aumentar os níveis de neurotransmissores que regulam o humor e comportamento.

Conheça esses mensageiros químicos:

  • Serotonina: colabora na modulação do humor, apetite, sono e na percepção da dor
  • Noradrenalina: associada à resposta do corpo ao estresse, tem papel na regulação do estado de alerta
  • Dopamina: relaciona-se à motivação, a recompensa e o prazer

Posso ficar dependente?

Não. Ao contrário de alguns tipos de medicamentos indicados para induzir o sono e sedativos, antidepressivos não causam dependência.

Aliás, não se tem notícia de abuso do uso de antidepressivos e que eles tenham sido usados por algum efeito estimulante. Em geral, as pessoas querem deixar de usá-lo o quanto antes.

O tempo estimado do tratamento

Ele depende do quadro de saúde e da gravidade da depressão. Pode ser que o uso de antidepressivos dure por anos para prevenir recaídas, especialmente se elas já ocorreram antes.

Em quadros mais leves, e conforme a resposta ao tratamento, a média de tempo de uso é de 6, 12 até 16 meses.

Cada um com o seu antidepressivo

A resposta ao medicamento nunca é idêntica para todos. Assim, seu médico trabalhará junto com você para descobrir qual seria a melhor opção no seu caso.

Na hora das consultas é importante que você se sinta à vontade para oferecer ao profissional informações que ajudarão nessa escolha.

Esteja pronto para falar sobre os sintomas que mais o incomodam, quais medicamentos ou suplementos utiliza, a presença de doenças ativas, gravidez ou amamentação, além do tipo de antidepressivo utilizado por algum familiar próximo.

Dicas de uso seguro dos antidepressivos

Esses medicamentos são considerados seguros e eficazes, mas para potencializar os benefícios esperados, adote as seguintes medidas:

Converse abertamente com seu médico sobre o uso de outros medicamentos, incluindo os que você compra sem receita na farmácia, além de suplementos, fitoterápicos e drogas recreativas. Elas podem interagir com o antidepressivo e prejudicar o seu tratamento.

Siga as instruções do médico, do fabricante e de seu farmacêutico de confiança sobre como tomar o medicamento.

Evite aumentar ou diminuir doses sem orientação profissional.

Solicite ao médico um canal aberto para comunicar sobre eventuais efeitos colaterais e saber como gerenciá-los.

Evite parar de tomar antidepressivos por conta própria. Como ele atua no SNC (sistema nervoso central), é preciso que o corpo se adapte gradualmente à retirada do remédio. Seu médico pode orientá-lo a fazer isso de forma segura. Esta medida evita efeitos indesejáveis, assim como o agravamento da depressão.

Fontes: André Boin, médico psiquiatra, doutorando do programa de neurologia e neurociências da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e mestre em ciências pela mesma instituição; Dagoberto Requião, médico psiquiatra e professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR; Sérgio Tamai, médico psiquiatra com doutorado em psiquiatria (USP), diretor secretário da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e diretor do Hospital da Cantareira (SP); e Vanessa Farigo Mourad, consultora farmacêutica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo). Revisão médica: André Boin.

Referências:

  • Ministério da Saúde
  • Opas (Organização Pan-Americana da Saúde)
  • MIT Medical
  • Wang SM, Han C, Bahk WM, Lee SJ, Patkar AA, Masand PS, Pae CU. Addressing the Side Effects of Contemporary Antidepressant Drugs: A Comprehensive Review. Chonnam Med J. 2018 May;54(2):101-112. doi: 10.4068/cmj.2018.54.2.101. Epub 2018 May 25. PMID: 29854675; PMCID: PMC5972123. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29854675/
  • Sheffler ZM, Patel P, Abdijadid S. Antidepressants. [Atualizado em 2023 May 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538182/
  • InformedHealth.org [Internet]. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. Depression: How effective are antidepressants? [Atualizado 2020 Jun 18]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK361016/.

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