Não é câncer nem promiscuidade: 4 dicas para lidar com o diagnóstico de HPV
Julia Moióli
29/11/2023 04h00
Apesar de o HPV (papilomavírus humano) ser a infecção sexualmente transmissível mais comum que existe, receber o diagnóstico sempre assusta. Imediatamente começam a surgir na cabeça dúvidas como: "Terei câncer?", "Fui traído(a)?", "Ainda dá tempo de tomar a vacina? Ela vai ser útil?"
Se você está entre as 25% a 50% das mulheres e os 50% dos homens que descobriram ter o HPV no organismo, buscar informações corretas e confiáveis é o primeiro item de sua lista de coisas a fazer a partir de agora.
Ao desfazer os mitos e preconceitos mais comuns que pairam sobre o vírus, é possível focar apenas no que interessa: acompanhamento correto quando ele é detectado, importância da vacina para a população adulta (especialmente até os 45 anos) e viver sem desespero.
Leia a seguir as principais dicas de especialistas para lidar com o diagnóstico positivo de HPV:
Reflita: não é necessariamente câncer
O primeiro passo diante do diagnóstico é se acalmar.
É preciso entender que a presença de HPV no organismo não indica, necessariamente, câncer.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), entre 70% e 80% dos indivíduos com vida sexual ativa já entraram em contato com o papilomavírus humano.
Há mais de 150 tipos diferentes de HPV, que podem provocar não apenas feridas cancerígenas nas regiões anal, genital e oral - que, sim, podem ser tumores malignos ou precursoras de câncer, especialmente nas regiões do colo do útero e do pênis - mas também verrugas genitais de baixo risco, que, ainda assim, devem ser retiradas por cauterização ou cirurgia.
Os quatro tipos mais frequentes são 6, 11, 16 e 18. Enquanto o 6 e o 11 são de baixo risco e causam as verrugas anogenitais, o 16 e o 18 indicam alto risco para o desenvolvimento de câncer.
Não culpe seu(a) parceiro(a)
A única coisa que o vírus diz sobre sua vida sexual e a de seu(a) parceiro(a) é que, em algum momento da vida, vocês tiveram contato com o vírus, de acordo com especialistas ouvidos por VivaBem.
Não significa infidelidade, já que o HPV é capaz de permanecer "escondido" no corpo por muitos anos, décadas até, e de forma assintomática. Também não é sinal de promiscuidade, uma vez que, segundo a OMS, a incidência do HPV é altíssima.
"Simplesmente não dá para saber quando houve o contato", afirma Marina Kobuti, ginecologista da Rede D'Or, em São Paulo.
Quando se faz um diagnóstico de HPV, consideramos que o casal é portador do vírus, mesmo que um ou outro não apresentem a manifestação clínica ou um diagnóstico por métodos não biológicos.
José Humberto Belmino Chaves, ginecologista e professor da Universidade Federal de Alagoas
"É importante lembrar ainda que o HPV não é transmitido apenas por sexo vaginal, mas também anal e oral", diz a infectologista Juliana Oliveira da Silva, coordenadora do Centro de Vacinação do Hcor, em São Paulo.
Faça os exames de rotina
O exame preventivo papanicolau detecta alterações nas células do colo do útero e é a principal forma de identificar lesões pré-cancerígenas causadas pelo HPV.
Esse exame ginecológico é preconizado para todas as mulheres que têm ou já tiveram vida sexual, em especial aquelas entre 25 e 59 anos, inicialmente de forma anual e, após dois exames seguidos com resultado normal, a cada três anos.
Com o material colhido, o ginecologista consegue solicitar, ainda, o rastreio da presença de material genético do vírus. Mas atenção: os especialistas recomendam que ninguém precisa buscar o diagnóstico de HPV assintomático, já que isso não traz vantagens. Não há tratamento específico contra a simples presença do vírus.
Vacine-se
Apesar de a vacina contra o HPV ser oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) apenas para meninas e meninos de 9 a 14 anos, hoje em dia os médicos recomendam também para adultos com até 45 anos de idade. Nesses casos, a não ser para pacientes imunocomprometidos, a imunização deve ser feita na rede particular.
Além de oferecer proteção contra subtipos com que ainda não tiveram contato, a vacina diminui o risco de recorrência de lesões pré-cancerígenas e cancerígenas e complementa a imunidade gerada pela infecção, que não dura para sempre.