Qual deve ser o tempo mínimo de uma sessão de terapia para ela ter efeito?
Marcelo Testoni
Colaboração para o VivaBem
04/12/2023 04h00
A importância da psicoterapia é ajudar na obtenção de um estado psicoemocional melhor, a se expressar livremente e adquirir ferramentas para lidar com situações que se enfrenta no dia a dia. Também é um espaço em que se pode conversar sobre o seu progresso, suas limitações e as suas expectativas com o seu terapeuta, e avaliar se o tratamento está sendo eficaz, ou não.
Geralmente, sessões de terapia duram entre 45 minutos e uma hora e ocorrem uma vez por semana. Podem ser mais abrangentes e prolongadas, mas não quer dizer que algumas não possam ser focadas em questões pontuais e terem uma duração menor e pré-determinada.
Segundo José Maria Santiago, psiquiatra e professor da Afya Educação Médica, de Fortaleza, a duração e frequência das sessões dependem de vários fatores:
estabelecimento de uma relação de confiança e colaboração com o paciente;
objetivos e aplicação de procedimentos/métodos da psicoterapia;
tipo de problema a ser tratado;
histórico e características do paciente;
sua disponibilidade de tempo e de recursos financeiros;
abordagem terapêutica a ser seguida.
Uma psicoterapia de período curto pode ser indicada para resolução de conflitos, tomada de decisões, orientação para soluções, avaliação de progresso, situações que exijam readaptação, reorganização ou mudanças de vida. Ela pode ajudar o paciente a superar os sintomas e problemas atuais, aumentar sua maturidade emocional e percepção dos limites da realidade.
"Mesmo se a sessão durar 15 ou 20 minutos e não ocorrer toda semana pode ser ética e respeitosa, desde que atenda a princípios e seja adequada às especificidades do quadro", explica Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS.
Entretanto, para surtir bons resultados, exigirá, por parte do terapeuta, maiores foco e assertividade na escolha das intervenções, e, por parte do paciente, maior comprometimento, empenho no processo e preparação para evitar frustração com o término precoce esperado.
"Alguns analistas consideram também se o paciente chegou a um ponto importante ou revelador em sua fala (insight) para encerrar a sessão, que pode durar alguns minutos", explica Eduardo Perin, psiquiatra e psicoterapeuta pela Unifesp.
É o que acontece na psicanálise lacaniana, uma linha da psicologia baseada nas ideias do psicanalista Jacques Lacan. A principal diferença dela para a psicanálise freudiana é o tempo de duração das sessões. Enquanto Freud estabelecia um horário fixo de cerca de 50 minutos para cada sessão, Lacan propôs um tempo variável, que depende da dinâmica do inconsciente e do discurso do paciente.
Nem sempre é bom ter pressa
Terapias de duração limitada podem não ser adequadas para casos muito complexos, que exijam tratamento longo e profundo e que estejam relacionados à personalidade, concordam as fontes entrevistadas. A depender do caso, às vezes até comprometem a qualidade e a efetividade da intervenção, resultando em limitações para o profissional e o paciente.
Algumas limitações, destacadas pelos especialistas, são:
dificuldade de estabelecer uma relação de confiança e empatia entre o terapeuta e o paciente;
falta de tempo para explorar sentimentos, pensamentos e comportamentos do paciente de forma aprofundada e reflexiva;
pouca oportunidade para aplicar técnicas e intervenções terapêuticas adequadas ao problema do paciente;
risco de interromper o processo terapêutico antes de alcançar os objetivos e resultados esperados;
possibilidade de aumentar ansiedade, frustração ou insatisfação do paciente com a terapia;
insuficiência para tratar transtornos graves ou crônicos, como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC.
Prioridade é o tempo do paciente
O tempo total de um tratamento de saúde mental pode variar muito, desde algumas semanas até vários meses ou anos, e terminar quando as metas estabelecidas entre o paciente e o terapeuta forem alcançadas, ou quando o paciente decidir encerrar o processo por algum motivo.
"Algumas pessoas podem se beneficiar de sessões mais curtas ou espaçadas, enquanto outras podem precisar de sessões mais longas ou frequentes. O que importa é que se leve em conta o ritmo do paciente e que sejam realizadas avaliações periodicamente", esclarece Yuri Busin.
Por isso, o indicado é conversar com um psicólogo de confiança e que avalie qual é a melhor opção para o seu caso, em termos de necessidade e viabilidade, antes de definirem juntos o tempo da sessão. Dessa forma, ambos entram em acordo, evitando ainda eventuais regressões e transferência do paciente ou troca de profissional.