Doria faz 'tour do perdão'; gesto não é fácil, mas traz benefícios à saúde

"Estou zen, paz e amor". É assim que o ex-governador João Doria classificou o período da "tour do perdão". Somente nesta semana, o empresário e fundador do Grupo Lide registrou quatro encontros com ex-desafetos da política —Geraldo Alckmin (PSB), Andrea Matarazzo (PSD), Bruno Araújo (PSDB) e Rodrigo Garcia (PSDB).

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ex-governador afirmou que a aproximação com diversos adversários em poucos dias não foi planejada e que os encontros se devem aos eventos do Lide. Ele disse ainda que não planeja voltar à política.

Perdoar traz benefícios políticos, no caso específico de Doria. Mas também faz bem à saúde já que é um ato reconhecido pelos benefícios ao bem-estar emocional e por melhorar as relações interpessoais.

Guardar mágoa tira a paz, gera estresse, afeta a qualidade do sono e pode, de fato, adoecer. Um estudo conduzido por Charlotte Van Oyen Witvliet, professora do departamento de psicologia do Hope College, em Michigan, nos Estados Unidos, mostra como o sofrimento e o perdão têm influência direta no nosso organismo.

Ela pediu a voluntários que se recordassem de alguma ofensa grave ou um grande prejuízo que alguém lhes tivesse causado no passado. Nesse momento, foram detectados pressão sanguínea, batimentos cardíacos e tensão muscular semelhantes às que acontecem quando se sente raiva.

Em contrapartida, quando se imaginavam perdoando e compreendendo os motivos que levaram o outro a agir de maneira a magoá-los, utilizando para isso a empatia e compaixão, os corpos dos voluntários responderam fisiologicamente, voltando ao estado normal.

Forçar desculpas traz consequências

Forçar o perdão, por outro lado, pode ser maléfico. Isso porque o processo precisa ser de reflexão genuína. A principal consequência é que a atitude deslegitima o sofrimento. Isso amplifica mágoas e traz sensações de injustiça.

A liberdade em escolher perdoar é necessária, porque o ato demanda revisitar as situações de dor e os sentimentos ruins. Para algumas pessoas, o processo é ainda mais difícil, porque antes de tudo é preciso reconhecer as ofensas e se permitir ficar mal por elas.

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Afinal, o tempo cura?

A tendência é que as emoções fiquem menos latentes com o tempo, e as sensações ruins se dissipem. Isso também permite ver a situação sob uma ótica mais neutra. No processo, ao racionalizar, as ofensas perdem a importância.

Estudos mostram que a passagem do tempo ajuda, porque as emoções negativas vão amornando, o que torna mais fácil refletir de maneira racional e consiga, com isso, decidir perdoar. A passagem temporal se mostra muito importante para que o perdão aconteça.

O que é o perdão?

  • O perdão não é obrigatório, porque o processo deve ser autônomo, consciente e racional.
  • Perdoar não significa ignorar as ofensas nem anular o sofrimento com a situação. A pessoa reconhece a dor que sofreu e não a deslegitima, mas escolhe o perdão.
  • Também não quer dizer que anule a expectativa de o responsável ser punido pelas ações (em esferas judiciais, quando é o caso), ou se exima das consequências emocionais que causou.
  • Mesmo assim, o perdão não deve ser condicionado pela expectativa de que o ofensor deixe de errar.
  • Reconciliação pode ser produto do perdão, mas não é o objetivo. O perdão é uma ferramenta para administrar conflitos, exercer a empatia e preservar laços. No entanto, reaproximar-se da pessoa é uma consequência, e não algo obrigatório.
  • Perdoar não é necessariamente esquecer, até porque o perdão funciona como um sinalizador que impede a repetição de situações traumáticas no futuro.
  • É uma escolha comunicar ou não o ofensor sobre o perdão, porque o ato funciona para administrar os ressentimentos da pessoa ofendida.

Ciclo do perdão

Existem características que norteiam as etapas do perdão. De reconhecer o ressentimento até manejar as mágoas, o processo é individual e pode ser longo.

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Diferente do luto, em que as fases de superação são afetivas, o ciclo do perdão envolve decisões mais racionais.

Ao buscar ajuda de psicólogos, o modelo de superação compreende as etapas abaixo:

  1. Reconhecimento: perceber os sentimentos negativos e suas consequências. A etapa é ligada às características de ruminação.
  2. Decisão: entender quais as opções para diminuir os sentimentos negativos. A etapa é importante, porque o perdão pode surgir como uma opção.
  3. Resolução: de análise da situação, inclusive sob a perspectiva de quem ofendeu. A etapa requer preparo emocional.
  4. Aprofundamento: momento de colocar as decisões em prática.

*Com informações de reportagem publicada em 27/06/2022 e 13/12/2022.

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