Respondemos a 17 perguntas sobre cocô que você pode ter vergonha de fazer
Alguns mais, outros menos, mas todo mundo faz cocô (você sabe...). Por isso, é normal a gente ter dúvidas sobre o número 2. Porém, esse não é o tipo de assunto que todas as pessoas se sentem confortáveis para sair falando por aí, né?
- "É normal ficar muitos dias em ir ao banheiro?"
- "Por que às vezes meu cocô 'some' na privada?"
- "Por que não consigo fazer cocô fora de casa?"
- "Consigo mudar o horário que sempre faço cocô?"
Se você alguma vez já teve essas e outras dúvidas, mas nunca teve coragem de perguntar para alguém, agora é hora de saber a resposta:
1. Consigo mudar o horário que faço cocô?
O intestino de alguns funciona como um reloginho e a vontade de ir ao banheiro vem sempre no mesmo horário —que nem sempre é o melhor momento na rotina da pessoa, pois ela está fora de casa, no trânsito, no meio de uma aula etc.
Embora essa seja uma tarefa difícil, a resposta é sim, dá para "treinar o intestino" e mudar o horário habitual de fazer cocô.
Grande parte das pessoas costuma evacuar logo ao acordar ou após as refeições, pois o intestino recebe um reflexo do estômago e estímulos do cérebro, que aumentam o seu funcionamento.
Se você não deseja evacuar próximo a estes horários, tente ir ao banheiro todos os dias no horário que gostaria de evacuar, mesmo que não deseje, e fique por alguns minutos no vaso sanitário, mas sem forçar.
Aline Celeghini, médica coloproctologista
A especialista recomenda ainda realizar massagens abdominais com o intuito de estimular a movimentação intestinal. Se for recorrente, esse treinamento pode fazer seu intestino trocar o horário da evacuação.
Outros fatores também podem aumentar a vontade de evacuar, como prática de exercícios, principalmente aeróbicos, e a ingestão de alimentos estimulantes (café), gordurosos (leite e iogurtes, castanhas) e ricos em fibras (frutas e verduras).
Não é recomendado o uso de laxantes para criar essa rotina.
2. Por que faço cocô mole com frequência?
Muitos fatores presentes no nosso dia a dia podem contribuir para que isso aconteça:
- Questões psicológicas, como ansiedade e estresse
- Alimentação muito fora do habitual
- Consumo excessivo de gordura ou de açúcar
- Hidratação em excesso
- Consumo de cafeína
- Bebidas alcoólicas
Quadros virais ou o uso de medicamentos podem mudar temporariamente as características das fezes e torná-las mais moles.
Se o problema for recorrente, procure um médico para fazer uma avaliação.
Geralmente, quando as fezes estão mal-formadas, de consistência amolecida ou líquida, pode ser um indicativo de alguma doença ou distúrbios da funcionalidade do sistema digestivo Muhamed Ali Hijazi, médico coloproctologista
Segundo ele, é preciso investigar se a pessoa não tem problemas como hipertireoidismo, intolerância alimentar (especialmente as associadas à lactose ou ao glúten), síndrome do intestino irritável e doenças do sistema digestivo ou gastrointestinais.
3. Segurar a vontade de fazer cocô por muito tempo faz mal? Piora o cheiro?
Sim, faz mal! Se você está com vontade, não reprima. "A vontade acontece quando o reto (parte final do intestino grosso) atinge um certo volume de armazenamento de fezes e envia um sinal para o nosso cérebro de que está na hora de ir ao banheiro", explica Nathália Lins Pontes Vieira, médica proctologista e coloproctologista.
Somos capazes de conter esse desejo até mesmo por horas. Mas você já reparou que depois de um tempo a vontade de evacuar desaparece? Isso ocorre pois o reto se acostuma com aquela quantidade de fezes armazenada e espera um novo aumento para dar o próximo sinal.
Quanto mais vezes você segura a vontade, mais você induz o seu corpo a quantidades maiores de fezes para criar o desejo de evacuar. Isso é uma das causas de constipação, com fezes volumosas e evacuações dolorosas. Além disso, o maior tempo das fezes no intestino aumenta a fermentação de gases por bactérias, com piora do cheiro e da sensação de estufamento Nathália Vieira, médica proctologista e coloproctologista
4. Por que às vezes o cocô 'some' na privada?
Já aconteceu de você fazer um baita esforço, ouvir o barulho das fezes caindo na água e, ao olhar para o vaso, não ter nada ali? Isso acontece devido a densidade (composição/conteúdo) do cocô, que faz com que ele afunde e já inicie sozinho o caminho para ir embora pelo encanamento, sumindo da área da privada que enxergamos.
"As fezes são formadas por 75% de água, os outros 25% são restos alimentares, fibras, bactérias e muco. Fezes com densidade mais alta que a da água tendem a afundar", explica Bruno Cezar Passos Santana, médico coloproctologista especialista em intestino, reto e ânus.
5. É normal ficar muitos dias sem fazer cocô?
Depende de quantos dias. Pela Organização Mundial de Gastroenterologia, uma frequência evacuatória menor do que três vezes na semana já é considerada constipação. Porém, alguns fatores devem ser considerados.
Diferente do que muitos imaginam, não é obrigatório ir ao banheiro todos os dias. As fezes demoram até 72 horas para percorrer todo o intestino grosso. Aline Celeghini, médica coloproctologista
Existem alguns critérios para definir se uma pessoa é constipada. Para isto, ela deve, nos últimos três meses, apresentar algum dos seguintes sintomas:
- evacuação menos de três vezes por semana
- esforço para evacuar e/ ou fezes ressecadas
- sensação de evacuação incompleta
- necessidade de auxílio manual para eliminação das fezes
"Se não houver nenhuma destas características, está tudo bem ficar alguns dias sem ir ao banheiro. Caso contrário, procure um especialista para investigar o que está ocorrendo", completa Celeghini.
6. Por que às vezes meu cocô sai vermelho?
A causa mais comum de fezes avermelhadas é o consumo de alimentos industrializados com excesso de corantes vermelhos ou até de vegetais, como beterraba e tomate. O consumo de vinho tinto também pode deixar as fezes avermelhadas.
Quando não relacionado à alimentação, normalmente é sinal de presença de sangue, muito comum em quem tem doença hemorroidária, fissuras anais, doença de Crohn, colite ulcerativa e câncer colorretal.
Fezes com sangue são sempre um sinal de alerta e exigem consulta médica, a fim de realizar o diagnóstico e o tratamento adequados. Muhamed Ali Hijazi, médico coloproctologista
7. Por que às vezes fazemos cocôs gigantes?
Algumas pessoas têm tanto orgulho do tamanho da obra que fazem questão de mostrar para os outros...
Os cocôs podem sair maiores dependendo da alimentação e da frequência das evacuações.
"A formação das fezes depende da alimentação rica em fibras. Então, quanto mais fibras você comeu, maior o volume das fezes. E se você demora muito entre uma evacuação e outra, há maior acúmulo de fezes no seu intestino, logo, maior será o tamanho do seu cocô", diz Nathália Vieira.
8. Eu emagreço quando faço cocô?
Não, fazer cocô não emagrece. Por mais que ocorra uma sensação de redução da barriga, do inchaço abdominal e até mesmo de leveza, o hábito de evacuar não causa redução da gordura corporal.
"Mesmo em quadros de diarreia grave, quando a pessoa chega a perder até 2 kg, o que está acontecendo é desidratação. Mas uma coisa é verdade: quem tem o intestino mais preso tende a ter aquela barriguinha mais estufada que, com a regularização da defecação, some. Então fica a sensação de que emagreceu", explica Fernanda Gondim, médica coloproctologista.
9. Por que o milho sai inteiro no cocô?
Encontrar restos de alimentos nas fezes não é algo anormal, desde que em pequena quantidade. Principalmente se este alimento for rico em fibras, como é o caso do milho.
Isso ocorre porque a sua casca é rica em celulose, assim como outros grãos, e o trato gastrointestinal humano não tem a capacidade de digestão deste carboidrato Aline Celeghini
10. É normal fazer cocô muitas vezes no dia?
É considerado normal ir ao banheiro fazer o número 2 até três vezes ao dia. Porém, se é uma questão recorrente, vale atenção.
O ritmo intestinal acelerado, ou seja, a ida frequentemente ao banheiro e fezes mal-formadas ou amolecidas, pode estar relacionado à ansiedade, à dieta laxativa ou à síndrome do intestino irritado, sendo necessária a avaliação pelo especialista
Bruno Cezar Passos Santana, médico coloproctologista
Muitos fatores influenciam no hábito intestinal, como níveis hormonais, alimentação, questões emocionais, uso de medicamentos, síndrome do intestino irritável e inflamações ou infecções intestinais.
"Mas se você defeca várias vezes ao dia, as suas fezes são bem formadas (não do tipo diarreia) e você não tem nenhuma outra alteração, pode ficar tranquilo. Esse é o seu normal", diz Fernanda Gondim.
11. Por que meu cocô está saindo claro?
Apresentar fezes claras não é normal e merece uma investigação. Fezes claras ou amareladas normalmente são gordurosas e podem representar excesso de gordura na alimentação ou distúrbios na vesícula biliar, no fígado ou no pâncreas.
"A coloração das fezes é formada por conta da biliverdina, que é uma substância produzida após a depuração das hemácias (sangue) envelhecidas. Ela é transformada no fígado em bile e é armazenada na vesícula biliar. Durante a digestão, ela é eliminada na luz do intestino, gerando a coloração escurecida. Qualquer interferência neste processo pode culminar em fezes claras", explica Celeghini.
12. Por que meu cocô sai muito escuro?
É importante observar a alimentação para detectar algum alimento que possa causar essa alteração na cor. "Mas, mais importante ainda, fezes escuras podem ser sinal de sangramento em algum lugar do trato digestivo. Não deixe de procurar o especialista", alerta Fernanda Gondim.
As fezes escurecidas ou pretas ainda podem estar relacionadas à alta ingestão de ferro na dieta e de alimentos com casca escura, como feijão preto e jabuticaba. Em casos de sangramento no trato gastrointestinal que passou pelo processo de digestão e se transformou em bolo fecal, normalmente há forte odor, coágulos e consistência pegajosa.
13. Por que não consigo fazer cocô fora de casa?
Não há nada fisiológico que justifique alguém não conseguir evacuar fora de casa.
A causa disso é psicológica, pois algumas pessoas têm vergonha ou desconforto em usar o banheiro fora de casa e, por isso, inibem o desejo de evacuar. Só conseguem relaxar quando usam o próprio banheiro
Nathália Vieira, médica proctologista e coloproctologista
Para quem tem muita vergonha do cheiro, por exemplo, existem produtos que auxiliam na melhora do odor no ambiente.
No caso das viagens, a dificuldade pode acontecer por mudanças na rotina e na alimentação, como alteração no horário habitual de acordar ou menor consumo de fibras, água ou realização de atividade física.
14. Por que quando eu bebo álcool eu faço cocô mole?
O álcool e até mesmo os carboidratos de algumas bebidas alcoólicas, como da cerveja, provocam um tipo de fermentação no intestino, afetando a microbiota intestinal. Por isso, muitas pessoas que bebem sentem dor de barriga, têm diarreia e excesso de gases.
A substância pode causar mudanças graves nas funções normais do sistema digestivo em cada passo do caminho.
Segundo Muhamed Ali Hijazi, essas mudanças incluem inflamação do trato gastrointestinal e aceleramento da digestão. A absorção de água também é prejudicada.
A água geralmente é absorvida dos alimentos e líquidos que atingem os intestinos. O intestino grosso puxa líquidos para fora das fezes. Quando o álcool está presente, o órgão não funciona direito. Isso pode resultar em fezes líquidas e desidratação.
Muhamed Ali Hijazi, médico coloproctologista
15. Por que às vezes o cocô sai em "pedacinhos"?
O cocô em "pedacinhos" é tecnicamente chamado de "fezes em cíbalos" e traduz um funcionamento intestinal lento ou baixa ingestão de água.
Como explicamos no item anterior, o intestino grosso (cólon) é responsável pela absorção de água das fezes, além de sais minerais. Quando o cocô progride lentamente, o órgão irá absorver mais água e, consequentemente, as fezes ficarão mais ressecadas e em "bolinhas".
Seu cocô está assim? Observe como está sua ingestão de água, principalmente nos dias quentes. "Para um adulto saudável, o cálculo para definir a quantidade mínima de água a ser ingerida ao longo do dia é de 35 ml X peso. Ou seja, para uma pessoa de 60 kg o mínimo seria de 2.100 ml", explica Aline Celeghini.
Outra causa possível, segundo Nathália Vieira, inclui doenças da fisiologia anorretal que impedem o esvaziamento adequado do intestino, como se fosse uma evacuação incompleta ou fragmentada. Em ambos os casos, você deve procurar ajuda médica para melhor avaliação.
16. O cocô boiar é sinal de problema?
Geralmente não. De acordo com Vieira, isso normalmente ocorre pela quantidade de gordura nas fezes. Quanto maios gordurosa for a alimentação, maior a dificuldade de digerir e de absorver o nutriente. "Com isso, mais gordura é eliminada nas fezes, fazendo com que as fezes flutuem na água. Em uma proporção menor, isso também pode ocorrer quando há muitos gases, seja por alimentos mais fermentativos, seja por alterações na flora intestinal", completa.
17. Posso fazer algo para que o cheiro do cocô não seja tão ruim?
Não existe problema algum em as fazes terem um cheiro desagradável. Isso é totalmente normal.
O odor das fezes não é dos melhores porque as bactérias do intestino geram compostos após digerirem os alimentos. Entretanto, a intensidade do odor pode variar muito conforme aquilo que comemos. Muhamed Ali Hijazi, médico coloproctologista
Apesar de ter relação com o que você come, fezes de odor fétido também podem indicar um problema de saúde grave. Diarreia, inchaço ou flatulência podem acompanhar fezes de odor fétido. De qualquer forma, o ponto mais importante é cuidar da alimentação.
"Fezes com excesso de proteínas ou proteínas mal digeridas tendem a ter um odor mais pútrido. Além disso, distúrbios da microbiota intestinal, como a disbiose, podem causar alterações no odor das fezes", explica Fernanda Gondim.
Fontes: Aline Celeghini, médica coloproctologista e cirurgiã geral formada pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; Bruno Cezar Passos Santana, médico coloproctologista e cirurgião geral especialista em intestino, reto e ânus; Fernanda Gondim, médica coloproctologista e cirurgiã geral especialista em laser e técnicas pouco invasivas na proctologia; Muhamed Ali Hijazi, médico coloproctologista e cirurgião geral; Nathália Lins Pontes Vieira, médica proctologista e coloproctologista com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia
Deixe seu comentário