'Um corte em cada olho': ela teve lesão após extensão de cílios
Simone Machado
Colaboração para UOL, em São José do Rio Preto (SP)
30/12/2023 04h03
Foi o desejo de ter cílios longos e mais curvados que fizeram a empresária Jenifer Guariglia, de 29 anos, procurar uma esteticista para fazer extensão nos cílios. O que ela não imaginava é que o procedimento, aparentemente simples e inofensivo, poderia causar uma lesão em seus olhos.
A empresária relata que em fevereiro procurou a profissional após ver na internet a indicação de uma blogueira de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo em que reside. Por gostar do resultado, ela agendou um horário para fazer o procedimento.
"Ela [esteticista] isolou os pelos com o pad [almofada desenvolvida para cobrir os cílios inferiores] e eu informei que estava incomodando e perguntei se era normal. Ela então tirou e colocou de novo. Mesmo assim continuou o incomodo e ela disse que poderia ser por eu ter muita sensibilidade", conta a empresária.
Jenifer conta que durante o procedimento, que dura em torno de uma hora, ela chegou a relatar mais uma vez que os olhos estavam ardendo e teria recebido como respostas que a situação era normal.
"Ela falou que era normal arder um pouco porque a cola libera um gás e esse gás pode irritar os olhos", acrescenta.
Ao terminar a extensão e olhar no espelho para ver o resultado, a empresária notou que os olhos estavam avermelhados e irritados. Ela foi orientada pela esteticista a usar um colírio para irritação.
"Ela falou para eu passar um colírio, aqueles que vende em farmácia, para tirar a vermelhidão. Sai de lá, passei na farmácia e comprei o colírio, quando passei melhorou um pouco o vermelho, mas a dor continuou. Lembro que não conseguia dormir de tanta dor, era insuportável, tomei um remédio para dor, pra ver se aliviava um pouco e consegui dormir", relembra Jenifer.
Na manhã seguinte, segundo a empresária, os olhos estavam inchados e mais vermelhos. Situação que a fez procurar atendimento médico em um hospital especializado em atendimento oftalmológico.
"A dor era muito grande, fui ao hospital e o médico realizou alguns exames. Ele constatou que havia dois cortes, um em cada olho, provavelmente ocasionados pelo pad. Receitou colírio antibiótico, anti-inflamatório via oral e compressa gelada com soro fisiológico. Ele ainda me alertou sobre os riscos da lesão, que poderia gerar uma infecção", conta a empresária.
"Fiz o tratamento por 10 dias e depois de umas duas semanas meus olhos voltaram ao normal", diz.
Após o diagnóstico da lesão, a empresária conta que tirou a extensão dos cílios e não fez mais o procedimento.
Os pad ou protetores de pálpebras, como também são conhecidos, são uma espécie de almofada usada para cobrir os cílios inferiores durante o procedimento de extensão, isolando esses fios e assim evitando que eles atrapalhem a profissional durante o alongamento dos fios superiores.
Eles são vendidos em farmácias e lojas de cosméticos, sendo facilmente encontrados.
Quais os riscos dos alongamentos de cílios?
Os cílios atuam como um sensor de proteção dos olhos, impedindo a entrada de poeira, de um corpo estranho e até mesmo de o suor cair diretamente dentro do olho. Um adulto tem cerca de 100 a 150 cílios em cada pálpebra.
Ione Alexim, oftalmologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que não são todas as pessoas que podem fazer os alongamentos de cílios e é indicado procurar um médico antes.
"Pacientes com hipersensibilidade ou alergia a algum componente dos produtos utilizados, ou pacientes que já possuem diagnóstico de doença da superfície ocular, como alergia ocular, blefarite e olho seco, orienta-se não realizar o procedimento", explica.
Ainda segundo a profissional, os maiores riscos das extensões de cílios estão associados ao uso da cola e alergias atreladas a ela. Casos de lesão como o da Jenifer podem acontecer, mas são menos comuns.
"A cola utilizada no alongamento de cílios pode levar a quadros de irritação na região dos olhos, alergia ocular e até mesmo queimaduras químicas das pálpebras, conjuntivas e córneas. Podendo também favorecer o aparecimento de conjuntivite ou mesmo ceratite química, esse último quando ocorre lesão de córnea associada", acrescenta a oftalmologista.
O tratamento varia conforme o diagnóstico. O principal, normalmente, é retirar os cílios sintéticos e permanecer sem eles durante o tempo de recuperação. Há casos em que o profissional recomenda que o paciente não faça mais o procedimento.
Outro ponto importante é nunca fazer o alongamento sozinha e não usar produtos que não sejam próprios para as extensões. O ideal é procurar um profissional especializado e também fazer a manutenção e higienização conforme o recomendado.
"Orienta-se que procure sempre um local confiável e profissional qualificado, que ofereçam segurança para a realização desse procedimento. Para os pacientes que sabidamente possuam hipersensibilidade a algum dos produtos utilizados ou diagnóstico de doença ocular prévia, a orientação é não realizar o procedimento", diz Ione.