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Se o cérebro é um órgão que não dói, por que temos dor de cabeça?

Imagem: iStock

Cintia Baio

Colaboração para o UOL*

02/01/2024 04h00

Ela chega de mansinho, começa a incomodar e só passa depois de uma boa dose de analgésico. Quem nunca sofreu com aquela dor de cabeça que teima em não passar? De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, sete em cada 10 mulheres e metade dos homens têm pelo menos um episódio de dor de cabeça ao mês no Brasil.

O curioso é que, diferentemente de outros órgãos, a dor na cabeça não é um indicativo —pelo menos na grande maioria dos casos— de que o cérebro não vai bem. E por um motivo bem simples: nosso cérebro "não sente dor".

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O que dói, na verdade, são as lesões em estruturas que ficam bem próximas ao cérebro e que tem sensibilidade a dor, como as membranas que envolvem o órgão (meninges) e os ossos (periósteos), os vasos sanguíneos, o couro cabeludo e a musculatura da cabeça e o pescoço. O cérebro mesmo é tão insensível aos estímulos dolorosos que nem é preciso aplicar anestesia no tecido cerebral durante uma operação, permitindo que muitos pacientes fiquem acordados durante todo o procedimento.

E por que ele não dói?

Em nosso corpo, existem milhares de neurônios sensoriais, chamados de nociceptores, cujo trabalho é informar ao cérebro que algo não está bem. Alguns, detectam substâncias químicas nocivas, outros percebem temperaturas altas ou baixas demais e outros detectam danos a nossa estrutura física, como torções, fraturas e queimaduras.

Os nociceptores também variam pela maneira como transmitem essas mensagens ao cérebro. Alguns são responsáveis por avisar sobre a primeira "explosão de dor" que temos quando algo acontece (como bater o dedo na porta). Outros estão relacionados à dor difusa, ou seja, aquela que fica incomodando lentamente.

Quando batemos uma parte de nosso corpo ou acontece alguma lesão nas estruturas internas (no caso da dor de cabeça), esses sensores enviam uma mensagem de dor a medula espinhal que a repassa para o cérebro.

Quando o sinal de dor atinge o cérebro, ele vai para o tálamo que o direciona para diferentes áreas de interpretação e o corpo entende que algo errado aconteceu. É aí que o órgão consulta sua "biblioteca" de emoções e indica a intensidade da dor. O problema é que, embora nosso cérebro seja um supercomputador que traduz a dor, ele não possui nociceptores em sua estrutura, por isso não consegue sentir dor.

O problema pode estar em outro lugar

Além de incidentes nas membranas e vasos sanguíneos, a dor de cabeça pode acontecer por outros fatores. De acordo com um artigo publicado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, o cérebro também pode se equivocar na localização da dor, uma vez que existem diferentes tipos de tecidos e nervos em nossa cabeça (alguns muito pequenos).

É o que acontece, por exemplo, com a sinusite. Embora a doença esteja relacionada a um processo inflamatório dos seios da face, sentimos que a dor está no centro da cabeça. Esse tipo de dor é conhecido como "dor referida". É quando alguém diz sentir dor no braço ao ter um infarto ou dor no peito ao ter um problema no pulmão.

Um outro exemplo dessa "confusão" acontece no processo conhecido como "brain freeze". Quando ingerimos algo muito gelado, como um sorvete, sentimos uma espécie de "pontada" na cabeça. No entanto, o "problema" está em nossa boca.

Ao tomar algo muito gelado, os vasos sanguíneos da boca se ampliam muito repentinamente, ativando os nociceptores da boca. Segundo o artigo, infelizmente, esses nociceptores não são muito precisos em sua descrição de onde a dor está vindo, então eles criam uma sensação de dor no meio da cabeça.

Fontes: Marcelo Amato, neurocirurgião e cirurgião de coluna da Clínica Kennedy, e Mario Fernando Peres, neurologista do Hospital Albert Einstein

*Com matéria publicada em 01/07/2016

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