12 filhos e dez partos em 12 anos: como o corpo reage a tantas gestações?

A dinâmica de uma casa muda bastante quando se tem filhos. Novos itens, nova rotina, novas prioridades. Mas antes de eles virem ao mundo, outro ambiente que passa por transformações significativas é o corpo de quem gesta.

Mariana Arasaki que o diga. Aos 38 anos, ela engravidou dez vezes naturalmente e tem 12 filhos —as duas últimas gestações foram gemelares. A rotina é compartilhada no Instagram e à VivaBem ela contou sobre as questões de saúde relacionadas a gestações seguidas.

"Toda vez que engravidei senti que meu corpo estava recuperado do parto", disse. O maior intervalo que ela passou entre um bebê nascer e outro ser concebido foi de um ano. "Normalmente, são quatro meses", afirma.

Sobre as mudanças no corpo, ela destaca que, às vezes, não conseguia reduzir o peso antes de uma nova gestação e acabava ficando "gigante". Por outro lado, "o cabelo fica bonito e a pele maravilhosa" enquanto está gestante.

Mariana também conta que a diástase "está enraizada" na vida dela, que é quando os músculos retos do abdome se distanciam mais do que três centímetros. O problema é comum em gestantes porque o crescimento do útero movimenta também os músculos da barriga.

Já em alguns pós-partos, ela teve incontinência urinária, causada pelo relaxamento dos músculos do assoalho pélvico. Histórico de parto vaginal é um dos fatores de risco para o quadro, e todos os dez partos dela foram assim.

Mariana, que teve dez gestações, sempre recomenda o acompanhamento médico
Mariana, que teve dez gestações, sempre recomenda o acompanhamento médico Imagem: Arquivo pessoal da família Arasaki

Nenhuma gestação de Mariana foi igual a outra. Em cada uma, ela sentiu reações diferentes, assim como as sensações do parto foram dez vezes distintas. Depois de dar à luz, os cenários também variavam.

"Enquanto a mulher não está grávida, o corpo rapidamente se adapta. Ter uma ou dez gestações só significa que passou por esse período várias vezes, não que o corpo já aprendeu", diz Lilian Fiorelli, uroginecologista e especialista em saúde feminina da Plenitud.

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Mas são muitas as mudanças pelas quais o organismo passa para comportar uma nova vida e o retorno ao seu estado padrão leva tempo.

Corpo estranho

Um organismo só é capaz de gestar porque ele consegue se adaptar a uma condição adversa. Sim, a gestação é como um ataque e o feto, um corpo estranho.

"Não deixa de ser, porque 50% da parte genética vem de uma pessoa diferente", aponta Eder Sousa, obstetra do Hospital Materno-Infantil de Barcarena, no Pará.

Mas ao invés de expulsar esse "intruso" —como aconteceria com uma infecção—, o organismo se adapta para abrigá-lo. Um dos mecanismos é manter sempre altos os níveis de estrógeno e progesterona, hormônios que vão ajudar na manutenção da gravidez.

A elevação hormonal, porém, provoca náuseas, vômitos, mudança no hábito intestinal, sono e alterações de humor. Lá pela 20ª semana de gestação, o lactogênio placentário humano (hormônio produzido pela placenta) começa a ser produzido e age contra a insulina.

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O estrogênio também se opõe à insulina, o que evita hipoglicemia e garante uma boa reserva de glicose que satisfaça a pessoa gestante e o feto. Mas um alto nível de glicose pode levar ao diabetes gestacional em quem tem predisposição.

Com gestações sequenciais em curto tempo, essa oscilação hormonal e os sintomas decorrentes dela se repetem.

Você não permite que o corpo chegue ao estado de normalidade e acaba obrigando o ovário a trabalhar sem descanso. Tudo que trabalha em excesso cansa, fica sobrecarregado. Eder Sousa, obstetra

A ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, colunista de VivaBem, diz que no início da gestação, os hormônios precisam estar em níveis mais baixos, o que pode não ocorrer quando o intervalo entre uma e outra é curto.

"A gente precisa dessa flutuação entre estrogênio e progesterona para ter uma boa implantação. E muitas vezes esse valor de progesterona vai estar mais alto, mas não o suficiente para um início de gestação", completa.

Ela também alerta que o intervalo muito curto pode estar associado a um risco maior de prematuridade para a nova gestação.

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Nova anatomia

Do ponto de vista físico, também há muitas alterações. "A mudança hormonal faz com que alguns ligamentos do corpo fiquem mais elásticos. Na pelve, tem estrutura óssea conectada por cartilagens, que ficam maleáveis. E os órgãos mudam de lugar", diz Fiorelli.

Como toda a estrutura óssea e muscular da pelve e abdome se modificam, a médica orienta um preparo para evitar consequências, como lesões durante o parto (principalmente se for vaginal) e incontinência urinária. Exercícios para o assoalho pélvico são indicados aqui.

Apesar de sentir o corpo recuperado, Mariana diz que não é como se em quatro meses pós-parto já estivesse "tudo incrível".

O que a ajuda antes, durante e após as gestações é se manter ativa: fisioterapia, hidroginástica e fortalecimento muscular fazem parte da rotina conforme orientação médica.

Recuperação leva tempo

Logo após o parto, o corpo já começa a voltar a sua configuração padrão. Os níveis de hormônios caem, o útero se contrai para evitar sangramento e vai diminuindo de tamanho, os órgãos voltam aos seus lugares.

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Mas o tempo dessa recuperação depende do preparo para a gestação, como foi a gravidez e o tipo de parto. "Se a pessoa se preparou bem, o normal é aproximadamente 40 dias", indica Fiorelli. Mas se houve ganho de peso ou lesões, por exemplo, pode levar de quatro a nove meses.

Além disso, caso a pessoa amamente, a prolactina também está em ação: o hormônio atua no desenvolvimento das mamas durante a gestação e depois dela na produção de leite. Então ainda há novos processos acontecendo no corpo.

Sousa explica que a prolactina bloqueia o eixo hormonal, impede a liberação de novos óvulos, o que evitaria uma nova gestação. Mas ainda não se sabe até que ponto vai essa proteção e há casos em que é possível engravidar enquanto se amamenta.

Quanto tempo esperar?

Gestações em curto tempo é uma realidade que Sousa vê com frequência no SUS. Não há uma recomendação padrão, mas se orienta esperar pelo menos um ano entre o parto e uma nova gestação, caso a pessoa queira mais filhos.

"O ideal são dois anos, porque o corpo precisa de um tempo para se recuperar. Gravidez não é patológico, mas não é normal do corpo", diz.

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A indicação de tempo considera também a via de parto. O intervalo maior, de dois anos, é recomendado quando a pessoa fez cesariana. Se engravida antes disso, o útero ainda não está totalmente cicatrizado e preparado para um novo parto.

"Mas por conta do tempo, a gente se vê na obrigação de fazer uma nova cesárea", diz Sousa. E há problemas nisso, segundo Cassiano.

"Quando temos um intervalo muito curto de uma cesariana para um outro parto, aumenta o risco de sangramento e rotura uterina", diz a médica. Já se o parto seguinte for vaginal, há risco maior de sangramento.

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