Qual a importância do ácido fólico na gravidez? Metilfolato é melhor?
Daniela Venerando
Colaboração para VivaBem
08/01/2024 04h00
O ácido fólico, também conhecido como folato, é uma vitamina do complexo B essencial para a gestação saudável. Além de contribuir para evitar anemia, parto prematuro e depressão pós-parto da mãe, o nutriente é importante para a formação da medula espinhal e do cérebro do bebê. Por isso, toda grávida precisa de um aporte maior da substância —entre 0,4 mg e 0,8 mg por dia.
Estima-se que uma em cada 700 crianças brasileiras apresente doenças relacionadas à falta de folato durante a gestação, como paralisia e problemas mentais.
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A questão é que dificilmente dá para obter a quantidade suficiente apenas pela alimentação, daí vem a necessidade da suplementação.
Qual a função do folato na gestação
O folato é a forma natural da vitamina B9, encontrada em hortaliças verde-escuras (espinafre, couve, rúcula), carnes vermelhas, cereais integrais, ovos, leite e derivados.
Já o ácido fólico é a versão sintética do nutriente, presente em medicamentos, suplementos e alimentos enriquecidos.
A vitamina é capaz de reduzir em 75% o risco de o bebê nascer com malformações do sistema nervoso central e tubo neural do feto (que se converte na medula espinhal e no cérebro do bebê), evitando assim problemas como espinha bífida, mielomeningocele e anencefalia.
A formação do tubo neural do feto se dá bem cedo na gestação, por isso a importância de começar a suplementação de ácido fólico três meses antes de a mulher engravidar e continuar no primeiro trimestre da gestação.
Com tantos benefícios, a suplementação é recomendação unânime de obstetras, assim como da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ácido fólico ou metilfolato
Além do ácido fólico, nas prateleiras das farmácias é possível encontrar o metilfolato —que é a forma ativa do ácido fólico. Isso quer dizer que a substância não precisa ser metabolizada pelo organismo.
Para entender a vantagem, é preciso compreender o mecanismo de ação do ácido fólico no corpo.
Ao ser ingerido, o suplemento de ácido fólico precisa ser convertido pelas enzimas do organismo em metilfolato para ser distribuído pelo organismo. É dessa substância que obtemos os benefícios da vitamina. Só que nem todas as mulheres conseguem fazer essa transformação.
Alguns estudos mostram que de 20% a 30% da população apresentam uma mutação genética que impede de produzir doses adequadas da enzima responsável por converter ácido fólico em sua forma ativa.
Quando ingerido já em sua forma ativa, o metilfolato tem uma taxa de absorção 26% maior em comparação com a do ácido fólico. Outro benefício dele é que reduz a possibilidade de interação com medicamentos que interferem na metabolização da vitamina.
Mas há controvérsia
Não existem estudos científicos sérios que comprovem uma eficiência maior do metilfolato em relação ao ácido fólico. O ácido fólico, usado há décadas e recomendado pela OMS, é mais do que o suficiente para suprir as demandas da gestação.
O metilfolato deve substituir o ácido fólico em uma única situação: nas mulheres portadoras da deficiência da enzima metilfolatoredutase (MFTHR), condição rara que não permite que o organismo transforme o ácido fólico em sua forma ativa.
A mulher portadora dessa deficiência geralmente já sabe da sua limitação mesmo antes de engravidar, pois tende a sofrer anemias recorrentes e transtornos depressivos.
Custo-benefício
Em termos econômicos, o ácido fólico leva vantagem. A vitamina em gotas é distribuída gratuitamente pelo SUS e pode ser comprada por valor muito acessível em qualquer.
Já o valor do metilfolato é muito mais alto e pode beirar os R$ 100, dependendo da drogaria.
Antes de decidir, converse com seu médico. Só ele, que conhece seu histórico de saúde e os detalhes de cada suplemento, está habilitado para prescrever a melhor opção para você.
Fontes: Andrea Pereira, médica nutróloga do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein; David Pares, ginecologista chefe do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp [Universidade Federal de São Paulo]; Liane Matos, médica nutróloga do Hospital São Luiz Itaim e Oncologia D'or; e Nilson Roberto de Melo, ginecologista professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo [USP].
*Com matéria publicada em 06/11/2018